WASHINGTON - O presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), Jerome Powell, disse nesta quarta-feira que ainda não vê qualquer evidência para apoiar a classificação de que o mercado de trabalho dos EUA está "aquecido", apesar de a taxa de desemprego estar em um nível historicamente baixo e da contínua expansão do emprego.
"Enquanto ouvimos muitos relatórios de empresas tendo dificuldade em encontrar mão de obra qualificada, não vemos os salários realmente respondendo, então eu realmente não vejo isso como uma questão atual",disse Powell, durante seu testemunho no Comitê de Assuntos Financeiros da Câmara dos Deputados, em Washington.
A deputada Carolyn Maloney, do partido Democrata, de Nova York, perguntou a Powell se uma redução de meio ponto percentual está ''em cima da mesa'' para julho. O presidente do Fed se limitou a responder que "estaremos analisando uma gama completa de dados", sem dar mais pistas.
Sobre as críticas que o presidente dos EUA, Donald Trump, tem feito sobre a sua atuação, Powell reiterou novamente que não vai sair do cargo mesmo que o mandatário peça para que ele se demita. "A lei me atribui claramente um mandato de quatro anos e pretendo cumpri-lo", disse o presidente do Fed, em resposta a questões da presidente do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Representantes, Maxine Waters, que replicou: "Espero que todos tenham ouvido isso".
Powell afirmou também que os níveis crescentes de endividamento empresarial, conhecidos como empréstimos alavancados, não devem ser comparados ao que aconteceu durante a crise financeira de 2008, contrariando as preocupações levantadas por críticos sobre os altos níveis de endividamento das empresas.
"O risco não está muito localizado nos bancos, está localizado como você sabe em [obrigações de empréstimo garantidas], fundos mútuos, fundos de hedge, companhias de seguros e todas essas coisas",disse o chairman, em resposta a uma pergunta do deputado democrata Jim Himes.“E esses veículos não estão sujeitos a corridas da mesma forma em que os bancos antes da crise eram e, realmente, não são mais. Portanto, a questão do risco sistêmico não é proeminente, é mais macroeconômica”.
Ainda assim, se o setor corporativo for "muito alavancado", disse Powell, as empresas terão que demitir funcionários e parar de gastar em qualquer recessão futura. Como resultado, o crescimento dos empréstimos alavancados "poderia ser um multiplicador macroeconômico", acrescentou.
Powell lembrou aos deputados que é essencial que o Congresso aumente o limite de endividamento federal em tempo hábil, acrescentando que é"impensável" que os EUA parem de pagar suas contas a tempo. Os legisladores chegaram ao limite do prazo anterior, mas evitaram cruzá-lo."Eu não seria capaz de capturar a gama de possíveis resultados negativos disso", disse Powell, acrescentando que acredita que o limite de endividamento será aumentado.
O Departamento do Tesouro disse que pode ficar sem espaço fiscale parar de pagar as contas do governo no final do verão [do hemisfério norte],a menos que o Congresso aumente ou suspenda o teto. Powell listou o limite da dívida entre os riscos mais importantes para as perspectivas da economia.
O presidente do Fed disse também aos parlamentares que o banco central americano tem "sérias preocupações" sobre a moeda digital do Facebook, a Libra.
“Embora os patrocinadores do projeto mantenham a possibilidade de benefícios públicos, incluindo melhor acesso financeiro para os consumidores, a Libra levanta muitas preocupações sérias com relação à privacidade, lavagem de dinheiro, proteção ao consumidor e estabilidade financeira”, disse Powell, em resposta a uma pergunta de Maxine Waters.
Powell disse que tanto o Fed quanto um painel separado de reguladores federais, conhecido como Conselho de Supervisão da Estabilidade Financeira, se reuniram para considerar a moeda digital em coordenação com os formuladores de políticas globais.