Ao longo do mês de fevereiro, vimos uma grande reviravolta nos mercados, com a bolsa americana atingindo mais uma vez as suas máximas históricas no início do mês, porém com uma grande e contínua correção nas últimas três semanas, se considerarmos o início do mês de março. Para nós, tudo isso começou em janeiro já, com o lançamento da Deepseek podendo gerar dúvidas sobre os investimentos futuros em AI já provisionados por algumas empresas (diante de um custo muito menor da empresa chinesa) ou até mesmo em relação ao vencedor dessa corrida, uma vez que tudo caminhava para ser entre as empresas americanas. Tudo piorou ainda mais com a discussão das tarifas impostas por Trump, que por mais que não seja nenhuma novidade para os participantes de mercado, tem criado uma alta volatilidade sobre os prazos de implementação e a intensidade dessas tarifas, de forma a trazer uma grande queda nos índices de confiança no curto prazo, juntamente com uma alta nas expectativas de inflação e uma aceleração nas importações dos EUA, país que possui uma economia fechada, mas que mesmo assim fez com que as empresas antecipassem boa parte das transações nestes primeiros meses do ano pela incerteza futura. Por fim, há um novo fator que pode derrubar de forma mais rápida os dados de emprego americano, uma vez que já começamos a observar demissões maiores no setor público, conforme o mandato do DOGE.
Quando olhamos para todos os indicadores econômicos, faz sentido pensar que isso apontaria para uma recessão no curto prazo. Entretanto, isso não parece ser realmente um cenário ruim para a economia americana, uma vez que existem fatores que estão mudando os dados de forma momentânea, mas que não são capazes de mudar a dinâmica da economia em si. O PIB do FED de Atlanta começa a apontar para um trimestre negativo de crescimento, mas sabemos que isso é praticamente algo técnico, uma vez que as importações estão mais fortes do que as exportações. O mesmo vale para essa possível queda dos empregos, será que isso não deveria ser uma boa notícia para as contas públicas? Principalmente se juntarmos com outras iniciativas já anunciadas ou comentadas, não deveria trazer uma perspectiva mais positiva para a trajetória fiscal americana? As tarifas podem ser realmente o tema de mais alerta, mas não imaginamos essa estratégia de ameaças durar tanto, então em breve devemos saber todas as novas regras deste novo mundo protecionista que estamos entrando.
No mais, gostaríamos apenas de ressaltar que todos os temas exigem atenção e acompanhamento próximo, mas com as informações que temos hoje, não enxergamos nada que possa mudar de forma estrutural a nossa visão de alocação citada nas últimas cartas.
Sobre o cenário local, estamos cada vez mais cautelosos com a situação do país. À medida que a popularidade do atual governo cai, aumenta o risco do presidente Lula querer “dobrar a aposta” pensando em uma continuidade da expansão fiscal. Além disso, sua equipe evidencia que ele está optando por uma visão petista mais isolada, longe de querer fazer alianças para buscar uma melhor articulação política. Ao anunciar Gleisi Hoffmann na secretaria de relações institucionais da presidência, Lula mostra que esse Lula III não é de longe comparável aos seus outros dois mandatos. Quando incluímos esse novo cenário até as eleições, parece evidente que o país deve primeiro piorar para quem sabe depois conseguir uma melhora a partir de uma oposição vitoriosa no final de 2026. A queda na atividade com um cenário de inflação cada vez mais alta seria o pior cenário para o país, mas parece ser quase o cenário-base a partir das novas ações previstas pelo executivo. Entendemos o investidor “torcedor”, mas não achamos prudente apostar em uma vitória da oposição de forma tão antecipada. Todos sabemos que a situação tem sempre boas chances de vencer as eleições em um país emergente, vimos poucos casos até hoje (como o de Alberto Fernandez na Argentina) e não acreditamos que algum possa ser comparável ao presidente Lula no Brasil.
Sendo assim, seguimos com uma posição estrutural mais negativa para o país e não devemos mudar até que o próprio governo atual consiga apresentar evidência contrárias a isso.
Contrapondo o excelente desempenho de janeiro, os ativos tiveram um desempenho mais fraco em fevereiro, com queda nas bolsas local e americana, assim como um resultado significativamente inferior ao CDI para o IMA-B (0,50%) e o IRF-M (0,61%) — referências para o comportamento dos títulos públicos indexados à inflação e prefixados.
A carteira conservadora teve alta de 0,97%, equivalente a 98% do CDI do período, com os principais detratores de performance sendo os títulos públicos, que ficaram abaixo do CDI tanto na parcela de inflação quanto na prefixada. A parcela de retorno absoluto também contribuiu negativamente, com queda de 0,22% no mês. Por outro lado, surfando o fechamento das Treasuries americanas, a parcela de Renda Fixa Global teve um excelente desempenho, superando os 250% do CDI, assim como a renda fixa com risco de crédito privado, que também apresentou um bom resultado no mês.
Na carteira moderada, a rentabilidade foi de 0,38%, equivalente a 38% do CDI do período. Além das classes já destacadas na carteira conservadora, que também compõem esse portfólio, os principais detratores foram os Alternativos Líquidos, com -0,34% na atribuição de performance, impactados por uma correção acentuada da classe. Reflexo das quedas nas bolsas locais e internacionais, as classes de Renda Variável Global (em dólar) e Renda Variável Local também tiveram desempenho negativo. No lado positivo, vale destaque para a estratégia de fundos listados, que reverteu uma inércia com meses de perdas para uma alta expressiva de 5,22% em fevereiro.
Na carteira agressiva, o resultado foi pior, com queda de 0,24% em fevereiro, refletindo a maior exposição a ativos de maior volatilidade. Assim como na carteira moderada, as classes detratoras foram as mesmas, porém, devido à maior alocação nesses ativos, a performance acabou ficando no campo negativo. Os principais detratores foram as classes de Alternativos Líquidos, Renda Variável Global e Renda Variável Local.
Por fim, introduzimos em janeiro a carteira Moderada Sem Exposição Offshore, com o objetivo de refletir portfólios locais de clientes que já possuem o mínimo recomendado de patrimônio alocado no exterior. Em fevereiro, essa carteira apresentou rentabilidade de 0,47%, equivalente a 47% do CDI. Em relação à carteira moderada, a ausência das classes de Renda Variável Global e Renda Fixa Internacional resulta na redistribuição desses pesos em classes de ativos de risco similar, o que explica a diferença de performance entre os portfólios. Os principais detratores e promotores foram os mesmos da carteira moderada, com destaque negativo para Alternativos Líquidos e Renda Variável Local como os dois maiores detratores.
Os portfólios internacionais encerraram o mês no negativo, apresentando performance abaixo da do índice de referência. Costumamos reforçar que desde o final do ciclo de aperto monetário do FED, ativos de Renda Fixa voltariam a ter um papel importante nos portfólios em termos de diversificação e que a correlação voltaria a ser negativa, na medida que os riscos para os mercados migrassem de inflação para crescimento. Fevereiro refletiu bem esse movimento, com a classe Fixed Income praticamente neutralizando a performance detratora da classe Equities. Observamos as estratégias de Fixed Income se beneficiando da queda dos rendimentos dos títulos soberanos dos Estados Unidos, em todos os vértices intermediários e longos, com mercado apostando em maior número de cortes após dados mais fracos da economia americana. Entre os que vale comentar, destaque para os dados mais fracos do que o esperado de PMI referente a fevereiro (mostrando uma contração no setor de serviços em comparação com mês anterior), o Payroll referente a janeiro mostrando adição de vagas abaixo do esperado, os dados de vendas do varejo referente a janeiro mais fracos do que o esperado e mostrando contração e, por fim, tivemos também dados fracos de confiança do consumidor. Para fechar a sequência de dados fracos, tivemos uma revisão pelo FED de Atlanta, passando a prever uma contração de 1,5% para o PIB do primeiro trimestre, em comparação com estimativa anterior de expansão na ordem de 2,3%, anualizado. Analisando a performance na própria classe de Fixed Income, destacaram as estratégias de maior Duration e menor risco de crédito, resultado da abertura dos spreads no mês. Esse movimento traduziu a sobre performance da alocação em títulos soberanos dos Estados Unidos, com prazos de 6 e 10 anos. Por outro lado, as estratégias Short Duration e High Yield apresentaram retornos abaixo do índice de referência, mas não deixaram de ser contribuidoras para o portfólio. A classe de Equities foi detratora, com apenas uma das 6 estratégias superando a performance do índice de referência de ações globais. Apesar de detratora de performance em termos absolutos, o destaque ficou para posicionamento em Emerging Markets, dado maior exposição em ações de maior capitalização da China (cujo índice de referência avançou 11,8% no mês). Destaque negativo ficou para estratégia temática de tecnologia e US Small Caps, na medida que preocupações com crescimento sobrepuseram as quedas no custo da dívida. Por fim, destaque negativo no mês ficou para a classe Others, com as duas estratégias alternativas caindo duplo dígito no mês.
Sobre o posicionamento, estamos:
Nos Estados Unidos, todos os principais índices apresentaram queda, com aversão a risco impulsionado por incertezas em relação às políticas tarifárias da nova administração, dados econômicos mais fracos do que o esperado, dados de inflação ao consumidor acima do esperado e decepções vindo dos resultados trimestrais das companhias (principalmente analisando guidance). Em termos de desempenho, o destaque menos negativo ficou para as Large Caps, com S&P 500 caindo 1,4% e devolvendo parte dos ganhos acumulados no ano. Do lado negativo, destaque para as ações de tecnologia (--4,0%) e Small Caps (-5,4%), representadas pelos índices Nasdaq e Russell 2000. Em termos setoriais, dos 11 setores representados pelo índice amplo, 7 encerraram no campo positivo. Destaque para setores mais defensivos como consumo não discricionário (5,7%) e Utilities (1,7%), assim como Real Estate (4,6%), mais sensível ao movimento dos juros. Do lado negativo, ficaram as ações de consumo discricionário (-9,4%), impulsionadas pelo desempenho das duas ações que correspondem por maior parte da ponderação: Amazon (-10,7%) e Tesla (-27,6%). Fevereiro foi o mês mais importante em termos de resultados corporativos, com 61% do índice amplo divulgando os números, praticamente finalizando a temporada referente ao quarto trimestre de 2024. Próximo à conclusão, é possível concluir que a temporada foi positiva, com 75% das empresas superando estimativas de lucro e 63% superando estimativas de receita. Na média, as empresas reportaram lucro 7,5% acima do esperado, resultando em uma revisão no crescimento anual dos lucros em 6,5 p.p. (de 11,7% ao ano em dezembro para 18,2% ao ano em fevereiro). Os setores que mais se destacaram tanto em termos de crescimento anual de lucro por ação quanto surpresa, foram financeiro, serviços de comunicação, consumo discricionário e tecnologia, apresentando evolução de 55,9%, 29,6%, 27.0% e 17,6%, respectivamente. Em termos de reação dos investidores, vimos os mesmos punirem de forma mais abrupta as empresas que decepcionaram do que beneficiarem as empresas que surpreenderam de forma positiva. Na média, as empresas que apresentaram surpresas negativas no lucro por ação viram as ações caírem 2,6% nos pregões subsequentes, em comparação com movimento neutro das ações que superaram as expectativas, analisando a mesma janela de tempo,
Pelo segundo mês consecutivo e concretizando como um dos temas centrais nos mercados acionários globais, vimos os índices da Europa performar melhor do que os norte-americanos. Entre os motivos, podemos destacar uma correlação positiva com enfraquecimento do dólar, surpresas econômicas positivas, potencial fim do conflito entre Rússia e Ucrânia e expectativa de ajuste fiscal na Alemanha para uma política mais expansionista. Como resultado, vimos o índice acionário da Alemanha (por exemplo) se destacar em termos de performance, acumulando 13,3% de retorno no ano, após apresentar alta de 3,8% no mês passado. Analisando as outras regiões, o CAC (França) valorizou 2,0% no mês e o FTSE (Reino Unido) subiu 1,6%, acumulando alta de 9,9% e 7,8%, respectivamente. Entre os emergentes, destaque ficou para as ações chinesas, com o índice de Hong Kong avançando 13,4% no mês. Entre os catalisadores, repercussão do desempenho dos novos modelos de inteligência artificial desenvolvidos pelas empresas do país, assim como um sentimento de melhora em relação ao ambiente regulatório, com reuniões entre líderes do governo e empreendedores do setor de tecnologia. Por fim, no Japão, o índice Nikkei caiu 6,1% e ampliou as perdas no ano para 6,9%.
Nesta publicação, comentaremos um estudo que fizemos buscando algumas conclusões ao analisar a performance anual dos últimos 10 anos de classes de ativos globais selecionadas. Entendemos que as 14 classes no quadro em anexo representam boa parte do universo de investimento (classes de ativos que oferecem liquidez) em um portfólio diversificado globalmente, sendo 7 de Equities, 4 de Fixed Income e 3 de Alternatives. Na classe de Equities, observamos o índice Nasdaq em 55% das janelas (ano calendário) entre as 4 primeiras colocadas, resultando no índice que entregou maior retorno anualizado (15,1%) no período. Ainda entre os índices americanos, destaca-se o fato do S&P 500 em nenhuma janela observada ter terminado entre as 4 piores classes, corroborando para consistência da classe em janelas mais longas. Ao analisar a performance de mercados emergentes (em dólar), notamos a Bolsa Brasileira se destacando de forma negativa como pior retorno anualizado desde 2015, tendo retornado -4,75% ao ano para o investidor. Apesar do índice ter ficado entre as 4 primeiras posições em 45% das janelas, a falta de consistência (pior classe em 36% das janelas) é observada. Em relação às ações da Europa, chama atenção que em apenas 2 anos (sem considerar 2025) as mesmas superaram os pares desenvolvidos (Estados Unidos). Analisando o retorno dos ativos de Fixed Income, vale comentar a dificuldade em gerar retorno em ambiente de juros baixos (para classes mais líquidas e grau de investimento), com 2020 sendo o melhor ano para os títulos de curto prazo, rendendo pouco acima de 2% no período. Por fim, vale observar a performance do Bitcoin, liderando as classes em 73% das janelas e sendo a classe que entregou melhor retorno anualizado no período (76,4%), apesar de ter também apresentado as correções mais expressivas, como em 2018 (-73,5%) e 2022 (-64,3%).
Após um forte mês de janeiro, motivado por um cenário externo mais benigno do que inicialmente precificado, a bolsa apresentou uma correção de -2,6% em fevereiro, encerrando o mês 122,8 mil pontos. O movimento foi acompanhado pela depreciação do real frente ao dólar (-0,76%), acentuando a queda do índice em dólares para -3,5%. Com isso, o Ibovespa encerrou o segundo mês do ano com uma valorização acumulada de +2,1% em reais e 9,1% em dólares.
Analisando os segmentos, do lado positivo, as empresas de educação apresentaram mais um mês de altas expressivas (+8,5%), impulsionadas pelo bom resultado de Cogna. Outro destaque foi o setor de mineração e siderurgia, que avançou +2,9%, com os resultados e anúncios da Vale sendo bem recebidos pelo mercado. Já na outra ponta, os setores de papel e celulose (-8,3%), varejo (-8,1%) e petróleo e gás natural (-3,8%) foram os grandes detratores, impactados por resultados abaixo do esperado de empresas como Petrobras e Renner, além da pressão sobre exportadoras como Klabin e Suzano, diante da perspectiva de um câmbio menos depreciado.
Com relação à temporada de resultados do 4T24, fevereiro encerrou com cerca de 46% das empresas tendo reportado seus números. Até o momento, os resultados mais negativos concentram-se no setor de varejo voltado ao consumo discricionário, com o lucro líquido vindo, em média, 64% abaixo das estimativas do consenso de mercado. Entre tais empresas desse segmento se encontraram varejistas como Lojas Renner, Vivara e Azzas 2154.
No contexto mais amplo, analisando os principais índices acionários, a performance dolarizada da bolsa foi abaixo dos pares locais e globais. O MSCI LatAm caiu apenas -0,4%, sendo sustentado pelos desempenhos positivos de Colômbia, Chile e México, enquanto o MSCI Emerging Markets (EMs) avançou +0,7%, impulsionado pelos mercados emergentes da Ásia (+0,9%) e Europa (+2,8%).
Diante desse cenário, seguimos cautelosos quanto ao posicionamento em ações locais. Apesar do baixo posicionamento de investidores na bolsa – tanto locais quanto estrangeiros – e dos fundamentos atrativos da classe (valuation descontado, crescimento do lucro por ação e baixo endividamento das empresas locais), entendemos que os gatilhos para uma recuperação mais consistente seguem atrelados ao cenário macroeconômico e carecem de clareza quanto ao seu momento de materialização. Entre os principais fatores monitorados, destacamos: (i) a possível antecipação de uma troca do governo local, caso a popularidade do atual presidente siga se deteriorando, (ii) a trajetória da curva de juros nos EUA e (iii) o fechamento da curva de juros locais diante de uma desaceleração mais forte da economia.
No entanto, reforçamos que, dado o baixo posicionamento de investidores institucionais locais (7,9% das carteiras) e estrangeiros (com uma saída líquida de aproximadamente 30 bilhões de dólares nos últimos 12 meses), qualquer melhora no cenário pode impulsionar uma recuperação expressiva das ações brasileiras.
Diante disso, seguimos priorizando posições em empresas de qualidade, que negociam a múltiplos abaixo de suas médias históricas. Mantemos a preferência por companhias com baixa alavancagem e posições de liderança em mercados com menor concorrência, permitindo um crescimento atrativo do lucro por ação a um preço que consideramos oportuno.
Após cinco meses consecutivos de desvalorização, o mercado de Fundos Listados apresentou recuperação em fevereiro, refletida na alta de 3,3% do Índice de Fundos Imobiliários (Ifix). A inércia observada nos últimos meses, que gerou um ambiente de queda e ondas de vendas irracionais por parte dos agentes na nossa visão, foi finalmente interrompida. Ainda assim, a volatilidade persiste, impulsionada por um cenário macroeconômico fragilizado.
No âmbito microeconômico, os dados do setor imobiliário seguem demonstrando robustez. Segundo um levantamento da SiiLA (Sistema de Informação Imobiliário Latino-Americana), a taxa de vacância no segmento de lajes corporativas em São Paulo recuou de 20,93% no terceiro trimestre para 20,48% no quarto trimestre de 2024, dando continuidade à tendência de queda observada desde 2021.
Nas áreas premium da cidade, como Itaim Bibi, Faria Lima, JK, Vila Olímpia e Paulista, a taxa de vacância manteve-se praticamente estável, passando de 9,8% para 9,66%. Já nas demais regiões corporativas, a taxa recuou 0,74 ponto percentual, atingindo 26,89%.
No contexto das discussões sobre a Reforma Tributária (PL 68/2024), aguarda-se a análise do veto que impediu a isenção de FIIs e Fiagros dos novos tributos CBS e IBS. O setor imobiliário segue atento a possíveis revisões do texto, especialmente diante da pressão de entidades públicas e privadas.
No que se refere à indexação de portfólios, os fundos atrelados ao CDI continuam se destacando com altos rendimentos, impulsionados pela expectativa de uma Selic acima de 15% até o fim do ano. Para os fundos indexados ao IPCA, as projeções do índice seguem em trajetória altista, com economistas estimando uma inflação acumulada próxima de 6% em 2025. Quanto à sazonalidade, as expectativas apontam para um IPCA mais forte até abril, seguido por um período de inflação mais contida no meio do ano.
Ao analisarmos a divisão entre fundos de papel e fundos de tijolo, a resiliência dos fundos de papel continua evidente. A classe registrou alta de 4,11% em fevereiro, revertendo a queda de janeiro e acumulando +1,12% no ano. Já os fundos de tijolo avançaram 2,26% no mês, mas ainda acumulam queda de -0,47% no ano. No acumulado da série, com início em 2018, a diferença já fica próxima dos 37 pontos percentuais.
Nos Fiagros, a recuperação da classe foi ainda mais expressiva, impulsionada pelo desconto mais acentuado em relação às cotas patrimoniais. Nosso índice de Fiagros registrou alta de 6,4%, reduzindo o desconto para um VM/VP médio de 0,74x e alcançando um Dividend Yield de 12 meses de 14,4%, sem considerar o efeito da isenção.
Nos FI-Infras, a rentabilidade também foi expressiva, com alta de 5,5% do nosso índice de FI-Infras. Nessa classe, que possui marcação diária do valor patrimonial, conseguimos observar claramente que a recuperação se deu pela alta da cota a mercado dos ativos, visto que as cotas patrimoniais observaram uma alta modesta de 0,58%, em média. Diante disso, o VM/VP da classe também teve o desconto reduzido para uma média de 0,86x. Por fim, observamos um DY de 12 meses de 14,2%, sem considerar o efeito da isenção.
Em fevereiro, o índice IHFA teve uma performance positiva, porém abaixo do CDI, com rentabilidade de +0,10%, acumulando um retorno de +0,98% no ano e de +6,99% em 12 meses. O desempenho das subclasses de multimercados foi bastante disperso, além da própria dispersão de retornos entre os fundos dentro da mesma subclasse, o que é refletido por uma baixa correlação entre os fundos multimercados nas janelas mais curtas.
Via regressão, observando as principais classes de ativo, fica difícil observar posições de grande consenso dentro da indústria, além de observarmos um mercado leve em alocação tanto no local, quanto no offshore com uma redução nas posições que eram consenso em Estados Unidos. As poucas posições da indústria mais claras são: (i) posição comprada em S&P (sendo reduzida na margem); (ii) inversão da posição aplicada em treasury de 2 anos para uma posição tomada; (iii) comprada em inflação implícita; e (iv) posição vendida no real contra o dólar. Vale destacar as mínimas históricas da posição comprada em Kit Brasil (comprado na bolsa, aplicado nos juros e comprado no real), se equiparando ao patamar de 2016.
Em nosso universo de análise, cobrimos um total de aproximadamente 209 fundos, dos quais separamos em seis subclasses: multimercados estruturais, dinâmicos, descorrelacionados, long & short neutro, long & short direcional/ total return e renda fixa ativa.
A subclasse de melhor desempenho no mês foi a subclasse de fundos macro dinâmicos/ táticos que apresentaram retorno, na média, de +0,88% e mediana de +0,67%. Entendemos tal subclasse sendo parecida com a de macro estrutural, porém possuem maior giro de carteira e focam em um horizonte de investimento mais curto, com prazos médios de 3 a 6 meses, o que beneficiou a subclasse por ter sido um mês de bastante volatilidade no mercados locais e offshore. Na mesma linha, a subclasse dos macro estruturais apresentou, na média, retorno de +0,06%, com mediana de +0,38%, caracterizados por estratégias que apresentam teses de longo prazo e que possuem baixo turnover de portfólio.
Na sequência, a subclasse dos descorrelacionados, que apresentou retorno médio de +0,01% e mediana de +0,02%, que classificamos em três diferentes frentes: quantitativos, event driven e sistemáticos.
No campo negativo, a subclasse long&short neutro apresentou retorno médio de -0,11% e mediana de -0,08%, e em nossa classificação é constituída por fundos que possuem net de exposição líquida entre -20 e 20%, com objetivo de gerar puro alpha, sem exposição ao Beta do mercado e não necessariamente operando apenas ações. A subclasse de pior desempenho no mês foi a de total return, que apresentou retorno médio de -1,72% e mediana de -1,67%, sendo esses os fundos que possuem uma exposição líquida direcional em bolsa, que no mês caiu -2,64%, mas apresentando uma overperformance em relação ao índice.
Por fim, a subclasse de renda fixa ativa, que é formada apenas pelo book de juros das estratégias macro, apresentou retorno médio negativo de -0,51% e mediana de +0,69%, mostrando a grande dispersão no resultado book de juros das gestoras.
Vale dizer que em nosso radar de cobertura temos: 30 fundos descorrelacionados, 57 fundos macro dinâmicos, 36 fundos macro estruturais, 26 fundos long & short direcional/ total return, 38 fundos classificados como long & short neutros e mais 21 fundos de renda fixa ativa.
O segundo mês de 2025 foi marcado por um aumento na percepção de risco nos mercados locais, refletindo incertezas políticas, queda de popularidade do governo e um ambiente fiscal mais desafiador. O governo manteve a retórica de comprometimento com a meta fiscal, mas a deterioração das expectativas inflacionárias e as preocupações com a sustentabilidade das contas públicas resultaram em maior volatilidade nos ativos.
No cenário doméstico, o IPCA de janeiro avançou 0,16% na comparação mensal, marcando o menor valor para o mês desde o início do Plano Real. Apesar disso, a inflação acumulada em 12 meses permaneceu acima do teto da meta (4,56%). O IPCA-15 de fevereiro veio abaixo das projeções (1,23% contra expectativa de 1,36%), impulsionado pelo impacto da reversão dos descontos na tarifa de energia elétrica e pelo aumento do ICMS dos combustíveis.
Os dados de atividade econômica continuam sugerindo uma desaceleração gradual. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou queda de 0,7% entre novembro e dezembro, abaixo das expectativas, mas encerrou 2024 com crescimento de 3,8%. No mercado de trabalho, houve uma geração líquida de 137,3 mil empregos formais em janeiro, acima das projeções. No entanto, a taxa de desemprego subiu de 6,4% em dezembro para 6,6% em janeiro, indicando um mercado de trabalho ainda aquecido, mas com sinais de moderação.
No mercado de juros, observamos um movimento de abertura nas taxas futuras, impulsionado pelo aumento das incertezas fiscais, puxada por planos do governo de afrouxamento na liberação do FGTS, e pelas pressões inflacionárias. O DI janeiro de 2026 subiu 4bps no mês, fechando a 14,98%, enquanto o DI janeiro de 2030 teve um aumento mais significativo, de 35bps, encerrando fevereiro em 15,12%.
Além disso, a taxa de câmbio seguiu pressionada, atingindo R$/US$ 5,90 ao final de fevereiro, refletindo as incertezas fiscais e políticas. No mercado de renda fixa, os índices pré-fixados da Anbima apresentaram desempenho positivo, mas na média abaixo do CDI. O IMA-B 5+ ficou em linha com o mês anterior, subindo 0,41%, enquanto os títulos de duration mais curta, como o IMA-B 5, entregaram retorno de 0,65%. Nos índices de títulos pré-fixados, o movimento foi similar, com o IRF-M 1 se valorizando mais do que o índice de pré-fixados com duration mais longa (IRF-M 1+), que subiu 0,36%. Já o CDI acumulou 2,01% no ano, mantendo-se como referência para a performance relativa dos demais índices de renda fixa.
Nos mercados internacionais, os dados de inflação nos EUA vieram acima das expectativas, reforçando a percepção de que o Federal Reserve não deverá realizar cortes de juros ao longo de 2025. O CPI de janeiro mostrou uma alta de 0,5% no mês, com inflação acumulada de 3,0% em 12 meses, enquanto o núcleo da inflação também superou as projeções. Por outro lado, os dados de atividade foram mistos, com as vendas no varejo caindo 0,9% no período, queda no índice de confiança dos consumidores pelo terceiro mês consecutivo e queda nos PMIs de serviço. A incerteza sobre a trajetória da inflação nos EUA levou o Fed a manter sua postura mais cautelosa, reafirmando a permanência dos juros elevados.
Além disso, o mercado segue atento às medidas comerciais de Donald Trump, que anunciou tarifas contra aliados e opositores, aos desdobramentos que tivemos na tensa reunião que ocorreu no último dia do mês na tentativa de estabelecer um cessar fogo entre Rússia e Ucrânia, e as decisões de demissão em massa anunciadas pelo DOGE (departamento de eficiência de Estado). A junção dos três fatores mencionados vem aumentando a incerteza sobre a atividade, resultando em expectativas de PIB do 1T25 já no campo negativo. Tal conjuntura trouxe bastante volatilidade para os mercados ao longo do mês, causando uma queda nos mercados acionários, além de um expressivo fechamento nas curvas de juros americanas, que no vértice de 2 anos fechou 22bps atingindo o patamar de 3,98%, e no vértice de 10 anos que fechou 34bps encerrando o mês aos 4,20%, patamar que não era observado desde o 3° trimestre de 2024.
Em resumo, fevereiro foi um mês de maior volatilidade nos mercados, com o foco voltado para o risco fiscal doméstico e a política monetária/ geopolítica global. O Brasil segue enfrentando desafios na condução da política econômica, enquanto o exterior adiciona incertezas com uma inflação mais resistente nos EUA e medidas protecionistas de Trump. A perspectiva para os próximos meses seguirá dependente da queda popularidade do Lula e quais medidas serão adotadas para revertê-las, enquanto do lado global será guiada pelo desdobramento das questões geopolíticas e pelo nível de atividade dos Estados Unidos.
Avaliando o desempenho das diferentes classes de crédito, a parcela de bonds high grade, representados pelo iShares Investment Grade Corporate Bond obtiveram excelente performance mensal, beneficiados pelo efeito da duration mais longa de grande parte dessas emissões. O índice subiu 2,25% e acumula 6,11% em 12 meses. Já na frente de ativos com maior risco de crédito, a dinâmica não foi tão boa. Além da duration mais curta da classe, houve uma leve abertura dos spreads de crédito com a ameaça de desaceleração da economia com as novas tarifas. Esse movimento fez com que a performance do mês ficasse em 0,67% e 10,09% em 12 meses (Barclays US Corporate High Yield Index). Seguimos privilegiando nomes mais defensivos em nossa alocação, justamente devido a cenários como o observado neste mês, em que pouco se justificou a diferença entre prêmios de crédito das duas classes.
Na mesma linha dos ativos, high grade, Os REITs (Dow Jones U.S. Real Estate Index) tiveram boa performance positiva devido ao fechamento dos juros longos (+3,85% no mês e +10,34% em 12 meses). A parcela de Leverage Loans obteve performance mais discreta, ameaçada pela queda na atividade que pressiona as empresas alavancadas. O Morningstar LSTA US Leveraged Loan 100 Index subiu 0,14% no mês.
Para os mercados emergentes, o atraso nas tarifas de Trump trouxe algum alívio no curto prazo, mas o nível de incertezas segue elevado, como pode ser observado pela nova alta no índice Move, que avalia a busca por proteção nas treasuries, sendo geralmente um sinal de redução de fluxo de recursos para países emergentes.
Ainda assim, os bonds corporativos emergentes (CEMB) apresentaram alta de 1,59% em fevereiro, em linha com a performance dos bonds soberanos emergentes (EMB), que subiram 1,53%. Na mesma linha, os bonds asiáticos (JPM Asia Credit Bond) avançaram 1,77%, diante de certa melhora nas negociações com Trump. Mas o mercado imobiliário segue apresentando sinais de enfraquecimento.
Em relação ao cenário das emissões locais, em fevereiro continuamos observando a mesma tendência de recuperação dos spreads de crédito da parcela CDI observada no mês anterior. O JGP Idex-DI apresentou alta de 1,42% (143% do CDI), acumulando 13,05% em 12 meses (117% do CDI). O Spread médio do índice ficou em 2,04%.
A principal razão para o movimento foi a melhora no carrego após mais uma alta de 1% na Selic, o que segue atraindo os investidores. Por outro lado, acreditamos ainda estarmos distante de uma melhora na perspectiva de crédito das companh ias e seguimos reduzindo gradualmente nossa exposição em geral à classe de crédito privado high grade local, priorizando alocações com duration curta.
Na parcela de inflação, os spreads das debêntures incentivadas se mantiveram em patamar praticamente estável em torno de 30 bps, mas a classe foi penalizada pela abertura da curva de juro real. O Idex-Infra apresentou alta de 0,64% em fevereiro, contra 0,50% do IMA-B. Em 12 meses o índice acumula 2,36% enquanto o IMA-B cai 1,00%.
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