Carta Mensal Setembro 2022

Cartas Mensais


RESUMO SETEMBRO 22

Principais indicadores:


MACRO

Por mais um mês, os mercados experimentaram grande oscilação para os ativos internacionais. Os juros nos EUA agora passaram a incorporar em seu preço um alto risco de hard landing (vamos comentar sobre esse conceito no texto macro global) e, com isso, observou-se uma nova precificação dos ativos de equities globais. O mercado segue com dificuldades de interpretar o cenário global, mas já descarta as chances de inflação mais baixa até pelo menos 2024. No cenário local, a descorrelação ocorre principalmente pelo tema das eleições, embora seja possível observar que o Brasil está muito bem posicionado entre os emergentes para receber mais fluxos na comparação com o passado.

Seguem as atualizações dos temas globais considerados como os mais importantes na visão do nosso Family Office:

CENÁRIO INTERNACIONAL : Atualização do cenário macro global e sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia

  • Atualizações do conflito entre Rússia e Ucrânia :

    Dentre as mais diversas notícias ao longo de todo o mês passado, os destaques foram: (i) a convocação parcial de mais de 300 mil homens na Rússia; (ii) a contra ofensiva ucraniana na região sul e nordeste do país; (iii) as explosões que causaram vazamentos de gás no Nordstream I e II; (iv) os referendos convocados para anexação de territórios na Ucrânia; e (v) a possibilidade e eventuais consequências de uma guerra nuclear envolvendo grandes potências.

    A Ucrânia segue avançando nas regiões sul e nordeste do país, com o crescente apoio financeiro e militar, principalmente vindo dos EUA. Na região nordeste o avanço é o mais nítido, com mais de 3 mi recuperados logo nos primeiros dias de setembro e com a conquista recente da cidade de Lyman, região importante do ponto de vista logístico para as tropas russas até então. O secretário de Estado norte-americano visitou a capital Kiev de forma inesperada no início de setembro e divulgou novo pacote bilionário ao país. Os pacotes têm sido divulgados de forma segregada, incluindo uma linha de financiamento aprovada pelo senado nos EUA para compra de armas (US$12bi), o que não afeta os estoques correntes locais. Na última semana do mês, mais de 40 lideranças se reuniram a portas fechadas para discutir envios militares à Ucrânia. Dentre outras notícias envolvendo o ocidente, do outro lado, a Rússia em sinal de escalonamento do conflito anunciou a convocação de mais de 300 mil homens para luta. O anúncio feito por Vladimir Putin desencadeou ondas de protestos em várias cidades russas e movimentos grandes de fuga para países vizinhos. Russos lotaram voos e acumularam filas enormes para saída do país, fato que gerou inclusive o fechamento das fronteiras para cidadãos russos na Estônia, Letônia, Lituânia e Finlândia. Neste sentido, agências chegaram a dizer que o número de russos entrando na União Europeia cresceu 30%. Segundo fontes, o número de russos que saíram do país já chega a quase 300 mil pessoas. Vale dizer que a enorme fronteira com o Cazaquistão, aliado russo,  segue aberta e o governo do país continua aceitando fugitivos russos a entrarem em seu território.

    Outro fato que chamou muita atenção da comunidade internacional foram os vazamentos de dois dos principais gasodutos que ligam o gás russo à Europa. O Nordstream I e II explodiram de forma repentina e houve diversas acusações sobre uma possível sabotagem. Importante ressaltar que o fluxo de gás para o Nordstream I estava fechado e o Norstream II nunca de fato funcionou. Os vazamentos acontecem misteriosamente logo após a Alemanha ter firmado acordo de importação de gás dos Emirados Árabes e na sequência da inauguração de um novo gasoduto que liga a Noruega à Polônia. Dentre os diversos desdobramentos após o ocorrido, alguns chamaram atenção: o pronunciamento formal da OTAN ao dizer que qualquer ataque à infraestrutura energética de países membros da organização seria duramente respondido através de aliança militar conjunta. Além disso, Dinamarca e Noruega aumentaram a segurança em complexos energéticos, incluindo envio de efetivo militar. No mais, a Ucrânia anunciou formalmente sua candidatura à OTAN, com 9 dos 30 países membros já de acordo para a entrada.

    Os referendos convocados por parte da Rússia foram outro tema extremamente importante ao longo do mês passado. Putin convocou quatro votações para a anexação de territórios em quatro regiões distintas. São elas: Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia. Em nenhum dos locais citados, as tropas russas controlam cem por cento da região, mas ainda assim em todas elas o “sim” venceu com pelo menos 96% dos votos. O temor veio depois de declarações do alto escalão de Moscou ao dizer que violações ao território russo poderiam ocasionar a utilização de armas nucleares. Essa área anexada equivale a aproximadamente 15% do território total ucraniano, mas conforme mencionado anteriormente, as forças ucranianas seguem avançando sem que de fato se saiba qual novo limite da fronteira.

    Ao longo do mês, lemos sobre a primeira vez que o Vaticano acusou a Rússia pela invasão, novos embargos (EUA proibiram exportação de chips de primeira linha da Nvidia para Rússia e China) e saídas de empresas de território russo (Maerks e PepsiCo). Ainda, tivemos também um aumento das pressões internas na Rússia contra a guerra, incluindo oligarcas, estrelas da música e debates na TV criticando as ações de Putin, fato até então bastante raro. Por fim, a Rússia fechou acordo com o Talibã para vender gás, gasolina, diesel e trigo.

  • Cenário macro global

    Em um dos momentos mais raros da história, observamos a volatilidade da bolsa americana anualizada ser maior do que a do Ibovespa. O Vix volta para as casas dos 31 pontos e o risco de um hard landing aumentou muito na visão dos mercados, ou seja, o FED deverá jogar forçadamente a economia americana para uma recessão via choque de juros muito acima do esperado nos últimos meses. Os juros curtos já incorporam que o FED atinja praticamente 5% nos juros americanos via suas reuniões periódicas do FOMC, movimento que traz novamente uma forte correção nos preços dos ativos.

    Qual o motivo para que a maioria do mercado pense dessa forma? A resposta pode estar nas falas do próprio presidente do Fed, Jerome Powell, que delineou três condições para desacelerar ou interromper os aumentos das taxas de juros: (i) crescimento abaixo da tendência, (ii) mercado de trabalho mais suave e (iii) evidência clara de que a inflação está se movendo para 2%. Sobre esses pontos, talvez apenas o primeiro já evidencie alguns dados, embora de forma ainda modesta. O mercado de trabalho e a inflação seguem claramente em outra tendência, ainda trazendo pressões inflacionárias fortes para o curto prazo.

    Nas próximas cartas, vamos buscar quebrar essas três condições mencionadas na entrevista por Powell, com intuito de analisar se em algum momento poderemos enxergar certo alívio por parte da política monetária nos preços dos ativos.

    Por fim, sem deixar de mencionar outros mercados, vale monitorar os novos estímulos fiscais anunciados na Zona do Euro e no Reino Unido. Entendemos que pelas condições inflacionárias da região, não há mais espaço para medidas como essa e já observamos uma forte desvalorização cambial ou até mesmo intervenções em papéis de dívida de longo prazo para tentar conter a queda acentuada dos ativos.

    Sobre China, as notícias seguem muito similares ao mês anterior, confirmando cada vez mais o momento ruim da economia e a dificuldade do governo em conseguir adotar medidas capazes de inverter o cenário na região.

    Como sempre gostamos de trazer, os mercados seguiram ajustando as suas políticas monetárias: Polônia +25bps (para 6,75%),  Dinamarca +0,75% (para 0,65%), BCE (Zona do Euro) +0,75%, Chile +100bps (para 10,75%), Peru +25bps (para 6,75%), Canadá +75bps (para 3,25%), Austrália +50bps (para 1,85%), Tailândia +25bps (para 1%), Índia +50bps (para 5,9%), Colômbia +100bps (para 10%), México +75bps (para 9,25%), EUA +75bps (para 3,25%) e o BOE (UK) +50bps (para 2,25%).

Índice de condições financeiras (IFC) americanas do Goldman desde os anos 2000

Índice de condições financeiras (IFC) americanas do Goldman desde os anos 2000 / Bloomberg


CENÁRIO LOCAL: Especial Eleições

Para o nosso comentário macro de Brasil, montamos um estudo que ficará anexado nesta carta com análises e nossa visão sobre os resultados do 1º turno das eleições.

Quebramos em 3 sessões, sendo elas:

1 - Presidência - analisamos quantos eleitores Bolsonaro e Lula terão que converter para se elegerem e tentamos explicar os motivos para erros nas pesquisas e notícias/ visões sobre o 2º turno;

2 - Senado e Câmara - comparamos a composição atual vs. novos números das duas casas;

3 - Governador - reflexão sobre Estados em que as pesquisas apresentaram maior diferença entre cenário projetado e realizado, além de notícias e análises.

RELATÓRIO COMPLETO ELEIÇÕES

CARTEIRAS E POSICIONAMENTO

Nos portfólios locais, vimos as carteiras apresentaram resultados (a) positivos na carteira conservadora, embora levemente abaixo do CDI, (b) ligeiramente positivos, mostrando boa defesa contra a oscilação (comentada no texto macro) nos portfólios moderados e (c) negativos na carteira agressiva, considerando o desempenho fortemente negativos dos ativos globais. Em setembro, decidimos por não realizar alterações nos portfólio e seguimos confirmando via estudos uma possível troca da exposição em equities globais (restante da carteira) em uma mesma exposição dolarizada.

Já para os portfólios internacionais, as perdas seguiram expressivas, embora melhor do que o benchmark que acompanhamos contra os portfólios. A queda conseguiu ser cerca de 30% menor e mostra que estamos conseguindo nos defender bem, mas ainda no campo negativo. Desta vez, o ponto de alívio veio dentro da classe de alternativos líquidos, que se segurou mais próxima do “zero a zero”. Renda fixa e renda variável foram as classes detratoras.


Sendo assim, estamos:

(i) otimistas com o carrego das posições em CDI de duration até 4 anos, IPCA para uma duration intermediária (entre 4 e 6 anos) e com uma maior proporção em ativos prefixados de duration curta (entre 3 e 3,5 anos);

(ii) otimistas com a parcela de Retorno Absoluto nos portfólios moderados e agressivos para capturar via gestão ativa as estratégias de bolsa, commodities, arbitragem, juros e moedas internacionais, etc;

(iii) mais otimistas com as posições em Renda Variável local;

(iv) mais cautelosos com a exposição em equities internacionais, mas sem zerar as posições;

(v) neutros para Fundos Imobiliários, praticamente zerando todo o portfólio de tijolo para ativos de recebíveis diretamente, porém já enxergando um potencial mais tático em alguns fundo de fundos devido ao nível de preços;

(vi) otimistas com as oportunidades em empresas fora do ambiente de bolsa, via bons gestores da indústria de Private Equity e Venture Capital; e

(vii) otimistas com a classe de crédito global, montando posições com hedge cambial nos portfólios locais em virtude do alto carrego das carteiras dos fundos e do CDI.

RENDA FIXA : JUROS NOMINAIS E REAIS (PRÉ-FIXADO / INFLAÇÃO)

Em setembro as curvas de juros nominais e reais apresentaram forte volatilidade refletindo importantes decisões de juros pelo mundo, além da iminência do primeiro turno das eleições. Apesar do Copom ter mantido a Selic em 13,75%, finalmente encerrando o ciclo de aperto monetário, o movimento já era esperado pelo mercado. Os fatores que movimentaram mais a curva de juros foram (i) a possibilidade de novos aumentos da juros, aventados pela Ata do Copom – “caso o processo de desinflação não transcorra como esperado” – e (ii) a probabilidade de que a taxa possa se manter inalterada por mais tempo, visando o horizonte relevante do primeiro trimestre de 2024 para a convergência da inflação próximo da meta.  

Por outro lado, as leituras de inflação surpreenderam novamente com viés positivo, contribuindo para que estes vértices apresentassem leve retração no acumulado do mês e um movimento ainda mais expressivo nos prazos intermediários – fechamento na ordem de 50 pontos-base. Destaque para o IPCA-15, que apresentou leitura nominal de -0,37%, frente à expectativa de -0,22%. Já é o terceiro mês consecutivo de retração. No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 ficou em 7,96%, ante 9,60% em agosto. Na composição do indicador, a surpresa foi em alguns itens não administrados como de serviços, finalmente registrando arrefecimento. No Boletim Focus, a mediana de expectativas para o IPCA de 2023 recuou a 5,0%. O mercado começa a ficar mais atento à possibilidade de o início dos cortes de juros postergarem para o segundo semestre do ano que vem. A Selic terminal projetada para 2023 se estabilizou em 11,25%.

Conforme mencionado, o fechamento dos vértices curtos e intermediários da curva do DI futuro favoreceu os ativos prefixados. O IRF-M apresentou alta de 1,40% e acumula valorização de 7,23% em 12 meses. Já a curva da NTN-B apresentou fechamento na ordem de 25-30 bps na parte longa. Mesmo com o carrego afetado pela deflação, o IMA-B 5+ apresentou alta de 2,39% e o IMA-B de 1,48%. Os retornos em 12 meses são de 5,19% e 7,25%, respectivamente.

CRÉDITO CORPORATIVO

Seguimos construtivos para a classe de crédito corporativo à medida em que este mercado ganha cada vez mais profundidade e liquidez no cenário interno e os juros altos atuais seguem proporcionando ótima relação risco/retorno. Em setembro, os ativos de crédito corporativo apresentaram ótima performance em todas as subclasses, impulsionado pelo fechamento da curva de juros. O juro real elevado beneficia ainda mais o carrego dos ativos atrelados ao CDI. O JGP Idex apresentou alta de 1,28% (119,9% do CDI) e acumula 10,8% de alta no ano. O spread médio do índice se manteve estável em 1,8%. O forte fluxo de captação para fundos de renda fixa arrefeceu em setembro. Segundo dados da Anbima, foi reportada uma saída líquida de 2,7 bilhões de reais para a classe. Mas não há indícios de maior apetite a risco dos investidores, já que a saída de recursos de fundos multimercado e de ações foi ainda maior.

Com base na ata do Copom, espera-se que o início dos cortes na Selic no ano que vem se prolongue ainda mais do que era projetado pelo mercado. Isso contribui ainda mais para a atratividade dos ativos de crédito corporativo atrelados ao CDI. No curto prazo, esse é o indexador que deve trazer melhor performance. O IDA-DI apresentou alta de 1,30% e acumula 12,95% em 12 meses. Não enxergamos uma dinâmica desfavorável para os spreads no curto prazo, mas seguimos observando o fluxo no mercado secundário. Recentemente, vimos um aumento nas ofertas primárias de papéis CDI e temos aproveitado para melhorar o carrego desta parcela.

Na classe de inflação, ainda vemos boa perspectiva, mesmo com o IPCA negativo afetando parcialmente o rendimento. O IDA-IPCA rendeu 0,42% e no ano acumula alta de 5,77%, em linha com a performance do IMA-B. É importante ressaltar que a atribuição de performance esperada para a classe está muito mais associada ao fechamento de spreads do juro real do que ao carrego da inflação. Por isso, a dinâmica se aproxima mais à dos ativos prefixados do que dos pós-fixados. Além disso, o movimento é potencializado pela isenção de imposto de renda para pessoas físicas. Avaliando a série histórica dos índices, o IMA-B é o que garante os maiores retornos em longos horizontes de tempo, especialmente o IMA-B 5. Seguimos posicionados em uma duration média de 3 a 5 anos.

Por fim, continuamos construtivos para a classe prefixada. A manutenção da Selic em 13,75% foi uma sinalização importante de que conseguimos montar as posições em um patamar atrativo e com margem suficiente para que a tese fizesse sentido, mesmo se os cortes forem mais lentos do que previamente projetado. A duration média que estamos posicionados é de 3,5 anos.

RETORNO ABSOLUTO

O índice IHFA obteve retorno de 1,23% no fechamento de setembro. Ao longo do ano, o indicador apresenta valorização de 13,14% e alta de 13,19% ao longo dos últimos 12 meses.

A classe de multimercados apresentou desempenho bastante positivo ao longo do mês. O resultado pode ser visto em quase todas as cinco subclasses que acompanhamos de perto, são elas: multimercado macro estrutural, macrodinâmico, descorrelacionados (quantitativos, arbitragem e event driven), long&short neutro e long&short direcional/total return.

Na média, o melhor retorno observado foi na subcategoria long&short neutro, na qual teve performance positiva média de 1,78% e mediana em 1,44%. Na sequência, fundos macro dinâmicos obtiveram desempenho médio de 1,46%, com mediana muito próxima em 1,45%. Em seguida, fundos macroestruturais tiveram performance positiva média de 1,22% com mediana em 1,25%. No mais, os long&short direcional/total return tiveram desempenho médio de 0,93% com mediana em 1,10%. Por fim, a única subclasse que obteve desempenho médio negativo foram os fundos descorrelacionados. Na média, os fundos tiveram retorno de -0,69%.

Vale dizer que hoje cobrimos um universo de aproximadamente 113 fundos multimercados, dos quais: 30 são estruturais, 40 são dinâmicos, 16 descorrelacionados, 13 long&short e 14 long&short direcional/total return.

Obs.: Dados do IHFA até o dia 29/09

RENDA VARIÁVEL LOCAL

O Ibovespa apresentou resultado positivo no mês de setembro, com leve alta de 0,47% aos 110.036 pontos, mais um mês descolando-se das fortes quedas das bolsas globais (S&P em -8,91% e Nasdaq em -9,66%). Em mês marcado por decisões de juros nos bancos centrais mundiais, os dados inflacionários seguem surpreendendo negativamente o mercado, em níveis acima do esperado e obrigando as instituições a elevarem juros em meio a discursos mais duros. No Brasil, esse movimento está mais próximo do fim. Como consequência, em mais um mês tivemos uma das melhores performances do mês, mesmo com a depreciação do real frente ao dólar de mais de 3% no período. No acumulado do ano, o Brasil continua sendo o principal mercado com melhor desempenho, com retorno de +5% em reais e +7,9% em dólares.


Destacamos os seguintes eventos no mês:

1- Pior performance dos mercados globais desde março/2020

2- Manutenção dos juros no Brasil

3- Mais um mês de deflação

4- Continuidade do conflito Rússia x Ucrânia

5- Nova queda das commodities

6- Persistência da política zero covid na China

7- Último mês pré eleições presidenciais no Brasil

8- Após forte entrada do estrangeiro na bolsa em agosto (+R$ 16,4 bi), em setembro houve pouco fluxo (R$ 0,5 bi)

9- Mais um mês de resgate do institucional local, mas num ritmo menor

Apesar do cenário local desafiador do ponto de vista político/fiscal, dados de atividade econômica doméstica mostram sinais de resiliência neste terceiro trimestre, justificando o movimento de revisões altistas nas projeções para o PIB de 2022 e queda da projeção do IPCA. Tal cenário vem sendo refletido bem nos resultados das empresas da bolsa, muitas delas reportando números excelentes e recordes, atreladas a uma estrutura de capital desalavancada e bem posicionada frente aos concorrentes menores. O lado positivo disso é que, consequentemente, o Ibovespa negocia hoje aos menores múltiplos desde a crise de 2008 (9,2x P/E 2022 ex Vale e Petro), desconto de quase 2 desvios padrões abaixo da média histórica. Olhando para o prêmio de risco, medida para comparar os rendimentos dos ativos contra as taxas de juros reais, o nível encontra-se em 5,2% contra uma média histórica de 2,7%, indicando mais um desconto e possibilidade de apreciação da bolsa (dois primeiros gráficos abaixo). Outro ponto que corrobora a tese de boa parte do risco já esteja precificado é a tabela abaixo, sendo uma simulação construída pelo Santander em nível de Ibovespa considerando crescimento de lucro por ação para o próximo ano e juro real. O Ibovespa nos níveis atuais projetam um juro real em 7,5% e uma queda de lucro de 20% para o próximo ano, patamares que entendemos estarem bem exagerados – atingimos esse juro real apenas em 2015, quando tivemos uma crise fiscal e cenário político muito mais profundos, em tese, enquanto as revisões de lucro das empresas estão sendo positivas em sua grande maioria.

Para esse terceiro trimestre, do lado local, o grande evento será a repercussão das eleições municipais/presidenciais, enquanto do lado externo, o movimento inflacionário e a atitude dos Bancos Centrais globais. Olhando pro Ibovespa, o principal risco ao nível atual de preço vem do segundo ponto em um eventual sell-off em ativos de renda variável como consequência de uma forte recessão global. Atribuímos uma menor possibilidade a esse cenário e, inclusive, começamos a enxergar uma tendência positiva de alocação dos fundos globais, mercados emergentes e Latam no Brasil, especialmente aos investidores que querem reduzir exposição à China sem uma redução relevante de risco.

Pontos que contribuíram para novas altas do Ibovespa alta seriam (a) resultados de empresa acima das estimativas atuais, (b) juros reais mais baixos vindos de um controle inflacionário e/ou (c) claridade na política econômica/fiscal do próximo presidente. Quanto aos principais riscos, (i) deterioração do cenário fiscal local e/ou (ii) movimento de aversão ao risco global. Com a desaceleração da inflação e arrefecimento dos juros futuros, casas de análise voltaram a ficar mais otimistas com a projeção do Ibovespa para o final do ano – XP aumentou sua estimativa de 120 mil pontos para 130 mil pontos. Do nosso lado, seguimos positivo no cenário local via stock picking, no qual entendemos que existem as maiores assimetrias e possibilidades para superar o Ibovespa.

Dada a assimetria histórica de múltiplos e bons dados das empresas no micro, os dados indicam ótima janela de entrada com uma perspectiva de longo prazo, jamais tentando acertar o “fundo do poço”. Estratégia de aportes divididos em janelas distintas se mostra historicamente como a melhor estratégia de investimento.

RENDA VARIÁVEL GLOBAL

A continuação do processo de normalização econômica via política monetária restritiva em grande parte das economias globais seguiu pressionando os ativos de risco ao longo de setembro, o que fez com o S&P 500 (principal índice acionário dos Estados Unidos) perdesse todos os ganhos acumulados desde o “low” do ano em meados de junho e encerrasse pela primeira vez em 2022 abaixo dos 3.600 pontos. O S&P 500 apresentou a maior queda mensal desde março de 2020, com o índice contraindo 9,3% e acumulando perdas de 24,8% em 2022. Foi a maior sequência de quedas trimestrais do índice desde 2009, com o mesmo apresentando retornos negativos em 3 trimestres consecutivos (6 trimestres em 2009). Todos os setores do índice encerraram o mês no campo negativo, com quedas variando entre 14,5% (setor imobiliário) e 1,4% (setor de saúde). Como uma consequência da queda nos preços mais do que compensando a ligeira revisão para baixo nas estimativas de lucro das empresas do S&P 500, o índice voltou a negociar com um desconto em relação à média dos últimos 5 (18,6x) e 10 anos (17,1x), à 15,4x P/L. O índice de tecnologia (Nasdaq), mais sensível à variações nas estimativas dos juros, apresentou queda ainda mais forte no mês, de 10,5% e acumula perdas de 32,4% no ano. Por outro lado, o índice Dow Jones, que tem viés mais defensivo, desvalorizou 8,8% em setembro e acumula perdas de 20,9% no ano.

Apesar das principais economias da Europa estarem defasadas em relação aos Estados Unidos no processo de normalização e com inflação em algumas regiões atingindo máximas em 70 anos, os índices acionários apresentaram quedas menos acentuadas. O Euro Stoxx 50 caiu 5,7% em setembro e acumula baixa de 22,8% no ano. Separando por região, o DAX (Alemanha) desvalorizou 5,6% no mês, o CAC (França) caiu 5,9% no mês e o FTSE (Reino Unidos) fechou o mês em queda de 5,4%, apesar de sendo o destaque frente aos outros índices globais no ano, registrando queda de “apenas” 6,7%. Na Ásia, a direção dos índices não foi diferente. Mesmo o Japão mantendo sua política monetária ultra flexível e com taxa de inflação abaixo dos pares, o Nikkei encerrou o mês em queda de 7,7%, estendendo a queda anual para 9,9%. Na China, os índices acionários seguem sofrendo com desapontamentos quanto ao crescimento do país, sequência de anúncios de lockdowns em grandes centros urbanos, com os investidores no aguardo da reunião partidária em meados de outubro. Como resultado, o índice CSI 300 encerrou em queda de 6,7%, o HK 50 caiu 13,7% e o SSEC caiu 5,6%.

A carteira de ações globais da MMZR Family Office apresentou queda de 10,4% em setembro. Em comparação, o benchmark (MSCI AC), contraiu 9,7% no período. Todos os papéis encerraram o mês no campo negativo, salvo as ações da Johnson & Johnson (+1,3%), que têm viés mais defensivo e tendem a apresentar performances superiores ao mercado em momentos de estresse. No final do mês, a Johnson & Johnson divulgou o nome da empresa resultado da cisão da divisão de produtos ao consumidor (anunciado no final de 2021): Kenvue. A operação deve ser finalizada em 2023 e a nova empresa terá um portfólio de marcas conhecidas como Band-Aid, Listerine, Tylenol e Neutrogena. Por outro lado, empresas com maior perspectiva de crescimento, como as de tecnologia, apresentaram maior correção nos preços. Alguns exemplos de ações que apresentaram fortes correções foram as da Alphabet (-11,6%), Microsoft (-10,9%), Meta (-16,7%), Amazon (-10,9%) e Apple (-12,1%). Como resultado, é possível investir hoje em algumas das maiores e mais rentáveis empresas do mundo a múltiplos muito mais razoáveis do que há meses atrás. Alguns exemplos são as ações da Alphabet (controladora do Google), que hoje negociam a 16x (lucro por ação estimado para os próximos 12 meses), abaixo da média dos últimos 5 anos (22x). Outra ação que está sendo negociada a patamares atrativos é a ação da Amazon, vendida a 17,5x Ebitda (Lucro operacional antes de depreciação e amortização), enquanto a média dos últimos 10 anos é 39,5x. Apesar de ainda não termos visto uma revisão em escala por parte do consenso de mercado em relação aos lucros projetados para os próximos anos das empresas, vimos ao longo do mês uma série de companhias já demonstrando impacto em suas operações por parte do cenário macro desafiador. Vimos no final do mês a Apple voltando atrás nos planos de aumentar a produção de iPhone 14 (em 6 milhões de unidades), por falta de confiança de que haverá demanda. Os resultados da Nike mostraram a rentabilidade da empresa impactada por fortalecimento do dólar, aumento dos estoques, aumentos de custos por conta de frete e queda nas vendas no mercado chinês. Por fim, a FedEx divulgou na metade do mês os resultados preliminares do terceiro trimestre, alertando aos investidores de um enfraquecimento expressivo na demanda por entregas e anunciando medidas de corte de custos a fim de minimizar os efeitos negativos operacionais.

No curto prazo, não temos grande convicção sobre alocação em renda variável internacional, dado a tamanha incerteza do ritmo de normalização da economia via aperto monetário e os impactos que o mesmo deve ter em outros fatores como renda, taxa de desemprego, consumo, poupança das famílias, crescimento, entre outros. Vimos nos últimos meses uma forte queda nos preços resultado por contração de múltiplos nas ações globais dado aumento nas taxas, sem que ainda houvesse uma grande revisão para baixo nas expectativas de lucro. Uma revisão negativa nas expectativas pode ser um grande catalisador para quedas ainda mais bruscas nas ações. Por outro lado, entendemos que para o investidor de longo prazo se abriu uma janela muito atrativa para alocar capital em empresas de qualidade, líderes de mercado, com balanços robustos, ótima governança, histórico de resultados comprovados e que serão protagonistas nas tendências do futuro.

FUNDOS LISTADOS

O IFIX (Índice de Fundos Imobiliários) reportou em setembro alta de 0,49% (subsequente à alta de 5,76% em agosto), refletindo duas leituras consecutivas de deflação do IPCA referentes a agosto (0,36%) e julho (0,68%), sendo esta a menor leitura mensal registrada desde o início da série histórica na década de 80. A alta de 5,76% em agosto foi fortemente puxada pelos fundos de tijolo, que subiram 12,41% no mês de acordo com o XPFT (índice de fundos imobiliários de tijolo da XP), enquanto grande parte dos fundos de papel (especialmente aqueles com maior parte da carteira indexada ao IPCA) fecharam o mês no negativo em cerca de -0,5%. Entendemos que o movimento de alta dos fundos de tijolo em agosto tenha sido associado ao fechamento da curva longa de juros, como é o caso do Tesouro IPCA + 2035, que fechou 36 bps em agosto – um movimento semelhante ao visto em equities. Por outro lado, a alta do IFIX já bem menos expressiva em setembro (0,49%) reflete um papel inverso dos fundos de tijolos nesse mês, que dessa vez apresentaram baixa de -1,94% de acordo com o XPFT. No ano, os fundos de tijolos operam com dividend yield médio de 8,6%, spread de 290 bps sobre a NTN-B 2035 e em linha com a média histórica (286 bps), o que indica que já estejam bem ajustados ao nível atual da curva longa de juros.

Em nossa estratégia de alocação, optamos por concentrar as alocações em fundos de dívida, por entender que (a) sejam uma classe mais defensiva e que performe melhor ao longo do tempo (primeira tabela, evidenciando que tijolo só supera dívida em janelas de bull market) e (b) por entender que por mais que os fundos de tijolo estejam descontados, hoje você pode comprar no mercado de ações ativos melhores e mais descontados ainda. O segundo gráfico é um exemplo desse ponto considerando o setor de Shoppings, evidenciando assimetrias de precificação entre os mercados de FIIs e Ações. Nele, destaca-se a relação entre cap rate (considerando NOI 2019) e proporção de shoppings dominantes do portfólio, observando-se uma melhor relação risco-retorno, neste momento, para as ações.

Apesar das recentes leituras de deflação, o cenário macroeconômico ainda contempla uma perspectiva de inflação em patamares elevados no curto, o que nos mantém enxergando retornos atrativos nos fundos de recebíveis em razão dos índices de inflação e taxa Selic. É natural que em um cenário de deflação os FIIs de CRI indexados passem a pagar rendimentos mensais menores, mas entendemos que isso seja um efeito pontual do cenário atual de curto prazo. São fundos com uma carteira de dívida com um yield geralmente superior ao que a pessoa física consegue acessar e ainda assim vem entregando bons rendimentos isentos, conforme gráfico abaixo. Importante ressaltar que dado os altos rendimentos nos últimos meses alguns fundos de dívida negociavam com bastante ágio em relação ao valor patrimonial. No entanto, dado o contexto atual de deflação, esse cenário foi corrigido ao longo dos últimos 2 meses, levando muitos fundos a negociarem, na verdade, com certo deságio em relação ao valor patrimonial. Por contarem com patrimônio líquido investido em ativos financeiros, os FIIs de Recebíveis não costumam apresentar tais desvios de valor de mercado em relação ao seu valor patrimonial (relativamente ao que podemos observar em FIIs de Tijolos), de tal forma que os atuais fundos que negociam com valor de mercado abaixo de seu valor patrimonial podem se mostrar boas oportunidades de investimento.

Durante o último ano vimos um aumento considerável no número de emissões de títulos de dívida (principalmente CRIs), sendo que 59% do volume total captado via ofertas públicas foi levantado por fundos de recebíveis no ano passado. Inclusive, os fundos de investimento são os principais investidores de CRI do mercado, registrando participação de 62,5% das ofertas em 2021, vide gráficos abaixo. Olhando para 2022, essa tendência continua sendo observada nas ofertas primárias com maior foco nos fundos de recebíveis.

Seguimos positivos na alocação de fundos listados de dívida, especialmente aqueles com carteira atrelada ao CDI, uma vez que devem se beneficiar do cenário macroeconômico com a taxa de juros Selic em patamares mais elevados. Vemos inclusive uma tendência de preferência/número de ofertas públicas nos fundos com portfólio mais concentrado no CDI, considerando que devemos ver menores rendimentos nos fundos com portfólio mais indexado à inflação.

CRÉDITO OFFSHORE

Em linha com os resultados do mês anterior, em setembro os ativos de crédito global apresentaram fortes correções. A nova surpresa no núcleo do CPI de agosto – 0,6% frente a 0,3% estimado – assim como dados de atividade ainda robustos, motivaram uma preocupação adicional no FOMC, que continua vendo um balanço de risco altista para a inflação americana. Além do tom hawkish do Fed, os treasuries acabaram refletindo a maior preocupação dos investidores com a desaceleração da economia chinesa e a inflação na zona do euro. O cenário que se estabelece é cada vez mais de Bancos Centrais mantendo juros altos por mais tempo e de um hard landing nos EUA. Refletindo isso, a taxa do treasury de 2 anos avançou de 3,45% para 4,22% – chegando a tocar a máxima do ano em 4,30%. O vértice de 10 anos escalou de 3,15% para 3,83%, configurando assim, a maior desinclinação da curva vista no ano e um grande indicativo de recessão.

Os ativos com grau de investimento foram novamente mais penalizados do que o high yield. O Barclays Global Aggregate Index recuou 5,20% no mês e agora a queda anual é de 19,89%. Já o US Corporate High Yield Index recuou 3,97% e agora cai 14,74% no ano. A preocupação com a desaceleração no setor imobiliário americano afetou bastante o desempenho do Dow Jones U.S. Real Estate Index. A queda foi bem expressiva:  -13,21% no mês e no ano -30,09%. O S&P U.S. Leveraged Loan 100 Index não se defendeu tão bem no mês, caindo 2,85%. Mas no ano os Senior Loans têm apresentado boa resiliência, a queda é de 4,26%. Inevitavelmente, os fundos de crédito global encerraram o mês no campo negativo, porém devem se recuperar bem em um cenário de normalização da curva de juros americana.

Nos mercados emergentes o impacto foi semelhante ao índice high yield americano. O Corporate Emerging Market Bonds Index (CEMBI) apresentou queda de 4,86% e no ano a queda se aproxima de 19%.  O JPM Asia Credit Bond caiu 0,80% no mês e cai 17,30% no ano. O impacto talvez tenha sido menor devido à expectativa de um relaxamento das políticas de Covid Zero na China após as trocas do governo chinês que serão definidas em outubro. No curto prazo, preocupações com o crescimento do país e a deterioração no setor imobiliário, aumentam o risco de crédito e pressionam os preços dos bonds.


RESULTADO CARTEIRAS - SETEMBRO 2022


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