Carta Mensal Setembro 2021

Cartas Mensais

RESUMO SETEMBRO

Principais indicadores:

Locais: CDI +0,44%, Ibovespa -6,57%, Prefixados (IRF-M) -0,33%, Ativos IPCA (IMA-B) -0,13%, Imobiliários (IFIX) -1,24%, Dólar (Ptax) +5,76%, Multimercados (IHFA) +0,15%

Internacionais: MSCI Global: -4,15%, S&P 500 -4,76%, Euro Stoxx -3,41%, MSCI China -5,07%, MSCI EM -3,97%, Ouro -3,36%, Petróleo +9,24% e Minério de ferro -12,36%

MACRO

O mês de setembro foi marcado como sendo o mais negativo do ano para quem possui investimentos em ativos de risco. Os mercados internacionais sofreram fortes correções, com o S&P500 caindo cerca de 5% e as bolsas na Europa ao redor de 3,5%. Os principais motivos dessa queda foram: (i) o risco de uma inflação global maior com um crescimento das economias menor, (ii) a escassez de oferta de muitos produtos, (iii) o caso “Evergrande” na China (empresa do setor imobiliário com problemas financeiros) e (iv) a discussão fiscal nos EUA. O mercado local acabou sofrendo também com a contaminação do cenário internacional e com os investidores ainda em dúvidas quanto ao futuro do fiscal.

Internacional : Pandemia cada vez mais controlada não impactou mais os preços, o novo risco de estagflação global e o caso Evergrande na China

Seguem as atualizações dos temas globais considerados como os mais importantes na visão do nosso Family Office para o mês:

  • Pandemia : O mundo chegou a marca de 6,3 bilhões de vacinas aplicadas, com todas as grandes economias praticamente atingindo 65% da população com ao menos 1 dose. Os EUA puxam o lado negativo, com o governo encontrando muitas dificuldades em avançar nos números a partir de agora. O pace de 800 mil pessoas como média móvel não deve ser alterado daqui pra frente, o que leva o processo de imunização a ser atingido em uma velocidade muito menor do que a esperada. Na Europa, vemos o lado positivo, com o passaporte de vacinação sendo eficaz do ponto de vista de avanço de vacinação no velho continente, destaque para Espanha e França que já possuem mais de 75% da população com ao menos 2 doses da vacina. O Brasil mostrou a sua força cultural no processo e já está com números semelhantes aos dos países desenvolvidos, evidenciando que o problema sempre foi a oferta de vacinas. Os dados de fechamento do mês traziam aproximadamente 240MM de vacinas aplicadas ao redor do país.
  • Economia Global: Diferente do que vimos nos últimos trimestres, dessa vez observamos as bolsas globais com fortes correções ao longo do mês e zerando ou invertendo os ganhos do trimestre para o campo negativo. O mercado começa a precificar um risco maior de uma estagflação, ou seja, onde as grandes economias enfrentam um cenário de crescimento baixo com uma inflação mais alta. Os fatores que ao longo do mês intensificaram essa essa tese foram: (i) EUA com um payroll mais fraco do que o esperado e revisões do PIB para baixo em 2021 devido ao impacto da variante delta, (ii) números de inflação nos EUA ainda altos, com escassez de oferta em diversos setores da indústria e muitas commodities ainda em níveis de preços elevados, (iii) Europa podendo sofrer impactos econômicos com uma possível crise energética e as revisões de PIB para baixo na China (a região da zona do euro normalmente é bem influenciada pela economia chinesa).
    Sobre os EUA, o processo de retirada de estímulos está cada vez mais próximo e já percebemos que a maioria dos votantes no FED considera uma alta de juros a partir do meio do ano que vem, com o programa de títulos sendo reduzido ainda neste ano. Powell deixou bem claro ainda nas últimas comunicações que há uma preocupação maior com a inflação e que não precisa mais de um forte payroll para decidir quanto ao tema de aperto monetário. Sendo assim, vimos as treasuries americanas de 10 anos voltarem ao patamar de 1,5%.
    O Japão e a Europa ainda seguem com comunicações mais dovish, ou seja, a favor de afrouxamento monetário com estímulos por mais tempo, mas sabemos que uma mudança de postura nos EUA pode obrigar os representantes dessas economias a se moverem de maneira mais rápida.
    Por fim, vimos na China revisões de PIB para baixo para 2021 e 2022 de muitas casas de renome que cobrem a região, fruto da (i) crise imobiliária institucional que estamos vivendo (comentada a seguir), (ii) uma política já desde o ano passado de menos estímulos e (iii) menor acesso a crédito concedido pelo governo, além de (iv) problemas de causas naturais como enchentes e apagões impactando a economia local acima do esperado no curto prazo.
  • Caso Evergrande: Nossa opinião sobre a crise no setor imobiliário chinês, após o risco de default de USD 300bi de uma das maiores empresas do país, é mais branda do ponto de vista de risco sistêmico. Avaliamos muitas opiniões do mercado e consideramos que a crise pode ter sido, de certa forma, “induzida” pelo governo chinês. O governo se mostrou muito insatisfeito com o grau de especulação que foi atingido no mercado imobiliário local, onde o foco era acelerar o processo de urbanização do país, criando condições e estruturas melhores para a população. Os inúmeros estímulos criados geraram uma “bolha” em algum momento e muitos investidores aproveitaram a situação para lucrar com a estratégia. Entendemos que o tema serviu de alerta para os participantes de mercado e que o partido comunista não medirá esforços para controlar situações como essa. Qualquer mudança de rumo em outros setores deve estar no radar, já que vimos recentemente iniciativas restritivas nos setores de tecnologia e de educação surpreendentes naquele momento, mas que não são novidades quando analisamos a história de investimentos no país. Acreditamos que o governo intervirá nos “bastidores” para que a crise não seja tão agressiva a ponto de contaminar a economia como um todo, porém será tocada gradualmente conforme os compromissos da empresa ao longo dos próximos anos.

Nossa visão sobre os mercados internacionais se mantém intacta e seguimos otimistas com o futuro dos ativos de risco nos EUA, Europa e até mesmo na China. EUA e Europa seguem com alto potencial de crescimento no ano que vem e o mesmo é observado quando olhamos os lucros das empresas. Não apostamos em um FED perdendo o controle da inflação, mas, ao mesmo tempo, acreditamos que seja normal algum tipo de oscilação após as inúmeras altas consecutivas. Para o mercado chinês, o foco segue sendo o crescimento da classe média local, com exposições de risco dedicadas a esse mercado. Vale ressaltar que as oscilações dos últimos meses não foram diferentes das correções dos últimos anos, sempre girando em torno de 20% quando olhamos historicamente.

Brasil: RCN: ”Quando governo explicar como será financiado Bolsa Família, vamos virar a página”

Usamos a frase do presidente do BC, Roberto Campos Neto, para explicar a nossa opinião sobre o cenário local. Durante o mês, claro que a contaminação do cenário internacional interferiu nos preços dos ativos brasileiros, porém não justifica a queda de mais de 10% na bolsa se considerarmos o desempenho dos últimos três meses.

À medida que as eleições se aproximam, as estratégias dos futuros candidatos comandam as ações no curto prazo. No caso do executivo, há uma prioridade clara: criar o espaço no orçamento para aumentar o Bolsa-família. Paulo Guedes já "recebeu a missão” (como ele mesmo disse) de criar as condições para aumentar o programa em pelo menos 60%, números que garantiriam uma alta acima da alta nos preços de alimentos e combustíveis. O tempo é curto e outubro será decisivo para acompanharmos a evolução da PEC dos precatórios, considerada plano A para liberação de 50 bilhões de reais. O plano B (pode ocorrer em conjunto) seria a reforma do IR, mas consideramos essa hipótese mais complexa pela falta de acordo com empresários, Estados e municípios.

O fiscal incerto segue pressionando o BC ao tentar passar maior credibilidade sobre a inflação, considerada “transitória”, e faz o mercado acreditar que os juros deveriam se aproximar de dois dígitos até o fim do ciclo em 2022. O Copom optou por uma alta de 100bps na última reunião e trabalhou no comunicado com um cenário de alta de mais 100bps na próxima reunião, o que levaria os juros para 7,25%, encerrando o ano com algo próximo de 8,5%, segundo o boletim Focus.

No curto prazo, seguimos com dados fortes no micro que deveriam impulsionar os preços dos ativos, porém prevalece ainda o cenário macro mais incerto, proximidade das eleições e trajetória fiscal do país.

CARTEIRAS E POSICIONAMENTO

Diante do cenário acima mencionado, optamos por realizar mais um ajuste nas carteiras moderadas e agressivas, reduzindo posições de bolsa local e aumentando posições de bolsas internacionais. A estratégia tem como foco o cenário estipulado para 2022, considerando ainda o crescimento robusto das economias desenvolvidas e reduzindo o risco do mercado brasileiro com o cenário eleitoral que nos aguarda.

Seguimos muito confiantes com posições de juros reais, optando neste momento pela duration máxima de 4 anos, com foco em papéis do tesouro e boas empresas validadas pelo nosso comitê de crédito. Outra aposta que temos está no desempenho dos fundos multimercados via a nossa classe de Retorno Absoluto. Entendemos que, em cenários de incertezas, há espaço para movimentos táticos e de alto potencial retorno capturados somente via gestão ativa. Por fim, taticamente podemos aproveitar o cenário de juros mais altos para alocarmos recursos em ativos pós-fixados novamente, com opções de emissões bancárias, corporativas ou até mesmo via fundos de crédito, a depender do momento da alocação.

RENDA FIXA : JUROS NOMINAIS E REAIS (PRÉ-FIXADO / INFLAÇÃO)

A forte pressão observada na curva de juros brasileira se dá por conta da contínua precificação da trajetória da SELIC para cima devido às expectativas de uma inflação cada vez mais alta. O último Boletim Focus novamente apresentou um aumento nas projeções dos juros para 8,25% em 2021 e 8,50% em 2022, contra uma expectativa de 7,50% no início de setembro. 

Na parte longa da curva, apesar de grande parte do risco fiscal já estar precificado, o mercado espera alguma volatilidade nas próximas semanas. O programa de compra de títulos por parte do FED em novembro e o pagamento do programa do Auxílio Emergencial são os principais pontos de atenção para os investidores do mercado de juros.

Apesar de apresentarem uma queda menor em relação ao mês passado, os indicadores seguiram no campo negativo pelo terceiro mês consecutivo e ampliaram suas perdas no ano. O IMA-B fechou em baixa de -0,13%, acumulando uma queda de -2,30% no ano, contra uma desvalorização de -0,33% do IRF-M que apresenta um prejuízo de -2,95% em 2021. 

O IPCA-15 de setembro, que é a prévia da inflação para o mês, seguiu dando sinais de que a pressão inflacionária deve permanecer alta ao colocar o acumulado de 12 meses acima dos 10%. Consequentemente, vimos mais um mês muito forte para os ativos atrelados ao indicador, que seguiram com um carrego positivo e apresentaram mais uma boa valorização mensal quando marcados na curva.

Os papéis mais curtos como a NTN-B 2024 e a NTN-B 2026 continuaram um movimento de abertura do juro real e melhorando ainda mais o seu prêmio em relação aos papéis mais longos, nos levando a manter as recomendações para os títulos de duration mais curta. Além disso, com o aumento da SELIC, os investidores passaram a priorizar a procura por papéis pós-fixados e com isso os spreads apresentando uma trajetória de queda.

CRÉDITO CORPORATIVO

Em setembro a classe de renda fixa apresentou bastante volatilidade, em linha com o que foi observado para os títulos do tesouro. O movimento de abertura da curva de juros e fechamento dos spreads de crédito ocorreu novamente e comprovou a resiliência da classe. Por outro lado, o movimento começa a dar sinais de arrefecimento, já que não sobrou tanto espaço para compressão dos spreads, mesmo que as empresas continuem reportando ótimos resultados no micro. Os ativos do setor de transmissão de energia elétrica apresentaram recuperação em relação ao mês anterior e se destacaram juntamente com algumas concessões. Este foi mais um mês de alto fluxo migratório para a Renda Fixa. A captação líquida para os fundos da classe foi de R$ 39,2 bilhões, segundo dados da Anbima.

Devido ao fechamento expressivo dos spreads para papéis atrelados ao IPCA, já não se encontram tantas oportunidades de aquisições no mercado secundário como se via antes (salvo algumas opções nos vértices intermediários). Cada vez mais papéis têm sido negociados com prêmios de crédito negativos, o que eleva a necessidade de uma seleção criteriosa de emissores. Ainda assim, a classe segue com bom carrego, impulsionada pela aceleração da inflação nos últimos doze meses que rompeu a barreira dos dois dígitos na leitura do último IPCA-15. A melhor saída para quem deseja proteger seu portfólio tem sido a entrada em ofertas primárias, que têm apresentado taxas nominais mais atrativas. O índice de debêntures Anbima atrelado à inflação (IDA-IPCA) avançou 0,44% no mês e no ano acumula alta de 3,22%, bem acima da queda de 2,30% do IMA-B. Vale ressaltar que a elevação das taxas das NTN-Bs, gerou boa oportunidade de entrada para os vértices de 2024 e 2026.

Já a demanda elevada por ativos pós-fixados ocasionou forte compressão dos spreads em setembro. Devido à escassez de ofertas atreladas ao CDI e voltadas para o varejo nos últimos anos, o mercado secundário apresenta dificuldade em suprir a procura dos investidores por papéis pós-fixados isentos. Ativos high grade com vencimentos de até 3 anos, que eram negociados em torno de 110% a 115% do CDI em agosto, neste mês passaram a ser oferecidos a pouco mais de 105% CDI, refletindo a avidez do mercado por proteção ao ciclo de aperto monetário. Apesar do fechamento das taxas, estas continuam em patamar atrativo, considerando a curva de juros projetada para os próximos 3 anos. Em função disso, seguimos aumentado nossa exposição a pós-fixados. Espera-se que novas emissões surjam para suprir a demanda elevada nos próximos meses. Em setembro, o índice de debêntures da JGP atrelados ao CDI (BRIDEXCDI) encerrou em alta de 0,7% (164,5% do CDI) e acumula um ganho de 5,9% (233,4% do CDI) no ano.

RETORNO ABSOLUTO

O mês de setembro foi caracterizado por bastante volatilidade nas bolsas globais, atrelada principalmente por uma eventual antecipação da retirada de estímulos nos EUA e por uma possível crise estrutural na China, envolvendo o caso Evergrande. No que tange às questões locais, vimos em setembro uma intensificação dos ruídos políticos e institucionais, logo após as manifestações do início do mês. Após a carta aberta do presidente, tivemos uma certa acomodação dos preços, mas ainda assim vimos o mercado bastante receoso quanto aos riscos político-fiscais e uma pressão inflacionária cada vez maior.

Os principais destaques na classe de multimercado absoluto ficaram por conta dos fundos macro dinâmicos e macroestruturais. Fundos com maior exposição a renda variável local, caso dos long&short direcional/ total return apresentaram sem dúvida o pior destaque entre os pares, ao fecharem setembro com retorno negativo médio de -1,78%. O principal índice de referência da indústria, o IHFA teve performance positiva, embora bastante tímida de 0,15% até o dia 30/09.

Dentro do nosso universo de cobertura, envolvendo mais de 100 fundos da indústria local, os fundos macro dinâmicos, conforme citado anteriormente tiveram o melhor desempenho da classe e apresentaram retorno médio de 1,16%. O segundo principal destaque foram os estruturais, fundos caracterizados por carrego de posições com poucas mudanças no portfólio tendo em vista um horizonte de curto prazo. Esta subcategoria apresentou retorno médio de 0,78%.

Outras subcategorias como os fundos descorrelacionados, caracterizados em nossa visão como fundos quantitativos, sistemáticos ou de arbitragem tiveram ligeira alta na média. Estes veículos apresentaram retorno ao longo de setembro de 0,25%, com mediana em 0,18%. No mais, na mesma linha de retornos positivos embora pouco expressivos, os fundos long&short neutro apresentaram retorno médio de 0,31% no mês passado e mediana pouco acima disso.


RENDA VARIÁVEL LOCAL

Em setembro, o Ibovespa sofreu uma queda de mais de 6,6% (-11,7% em dólares). Após a correção do mês passado, o Ibovespa está sendo negociado a 11,1x P/L (ex Petrobras e Vale) projetado de 12 meses, que representa um desvio padrão abaixo de sua média histórica, indicando que do ponto de vista de geração de lucro das empresas o índice está descontado. Embora os dados econômicos recentes e uma maior reabertura da economia ainda apontem para um crescimento do PIB da ordem de 5,3% em 2021, as perspectivas para o próximo ano se deterioraram no lado fiscal e político com a antecipação da discussão eleitoral. A ausência de solução para a questão dos precatórios e a retomada das negociações sobre a possibilidade de prorrogação do pacote de auxílio emergencial por mais alguns meses continuam pesando na percepção de risco do mercado, somado a uma escalada de inflação e juros bem acima das projeções passadas. Se não bastasse o cenário local desafiador, soma-se uma crise global de energia já impactando economias desenvolvidas e a crise do mercado imobiliário Chinês, com reflexo direto no preço das commodities e, consequentemente, preço de algumas ações negociadas no índice Ibovespa. Olhando para o fluxo de capital estrangeiro, na direção oposta de agosto vimos saídas de tais investidores no mercado de ações brasileiro em setembro na ordem de R$ 4,1 bilhões (contra entrada de R$ 7,4 bilhões em agosto) - no acumulado do ano, continuamos com captação de R$ 43 bilhões. O CDS Brasil (medida de percepção de risco) de 5 anos subiu na semana passada, subindo 20 pontos em um único dia e ultrapassando 200 bps pela primeira vez desde março.

Dado o cenário macro mais desafiador, vimos as casas de análise revisarem o target do Ibovespa para o final de ano de 135 mil pontos para 120 mil pontos, implicando um upside de cerca de 10%. Importante ressaltar que do ponto de vista micro as empresas seguem performando bem, muitas deles reportando os melhores resultados de sua história. Nesse cenário mais nebuloso, reforçamos a importância do stock picking, selecionando empresas vencedoras com vantagens competitivas evidentes, boa governança, margens saudáveis e crescentes e em ambientes com grandes barreiras de entrada e baixa penetração de mercado. É um movimento que faremos na nossa carteira de ações neste mês, buscando nomes mais defensivos que performem bem no cenário dos próximos 18 meses.

A carteira de ações MMZR teve uma queda de -9,5% em setembro, contra -6,6% do Ibovespa no mesmo período. Novamente, o mercado penalizou as empresas de varejo como Via, Magalu, Renner e Multiplan performando em -25,8%, -21,4%, -9,2% e -9,8% respectivamente. Vale e Suzano também foram impactadas em -14,7% e -10,6% com a desaceleração do mercado imobiliário chinês e um eventual choque de demanda nas commodities. Importante ressaltar que do ponto de vista micro as empresas seguem entregando excelentes resultados, principalmente no cenário atual no qual as restrições de circulação foram retiradas. Ou seja, a baixa performance é 100% reflexo do ambiente macro. Dessa forma, dado que ainda enxergamos diversas incertezas nos próximos meses – discussão eleitoral, discussão fiscal com precatórios e auxílio, escalada de juros e inflação, crise hídrica, crise no mercado imobiliário chinês e choque de inflação global – faremos algumas mudanças na carteira visando um portfólio mais defensivo. Trocaremos Renner por Natura, aproveitando que mais de 70% da receita vem de moeda estrangeira e ainda deve absorver diversas sinergias com a Avon, além de Via por Petz, aproveitando a baixa correlação do crescimento do mercado Pet x PIB e posicionamento de liderança da companhia, com boas margens e plano robusto de crescimento/consolidação.

FIIS

O IFIX (Índice de Fundos Imobiliários) apresentou novamente uma queda em setembro, reportando -1,24% no mês após queda de 2,94% em agosto. Dado o aumento da taxa de juros de 2% a.a. no ápice da pandemia para os atuais 6,25% a.a. com a escalada em paralelo dos índices de inflação, investidores pessoa física vem buscando classes mais defensivas. Vemos isso claramente na performance negativa dos fundos de tijolo no ano (Shoppings -11,7%, Lajes Coorporativas -10,7%, Galpões -8,2%), enquanto os fundos de CRI vem apresentando retornos positivos (+6,0% a.a. YTD). Em cenários de incerteza com juros e inflação altos, essa classe tende a performar melhor com a boa indexação de seus ativos mobiliários. Enxergamos uma forte assimetria de preço de cota nos fundos de tijolo, em sua maioria negociando abaixo do valor patrimonial, mas reconhecemos que no cenário de curto médio prazo os fundos de CRI tendem a continuar apresentando uma performance melhor. Mesmo com o ambiente de incertezas, o número de investidores pessoa física em fundos imobiliários aumentou, atingindo a marca de 1,4 milhão ao final de agosto (acréscimo de cerca de 300 mil CPFs nos últimos 12 meses).

A carteira de fundos imobiliários MMZR teve uma performance de -1,97% em setembro contra -1,24% do IFIX no mesmo período. Carteira neste mês foi bem impactada negativamente pelos fundos de fundos (RBRF11 -5,58% e HFOF11 -2,20%), que foram penalizados pela baixa performance de sua carteira de ativos – ainda assim, entregaram rendimentos dentro do planejado, mostrando ao mercado que existem distorções de preço. Além deles, alguns fundos da carteira realizaram emissões, o que pressiona a cota no secundário a convergir ao preço de emissão, movimento que geralmente é revertido pós oferta. Foi o caso de XPML11 (-5,81%) e HABT11 (-4,48%).

Buscando um portfólio mais defensivo, aumentaremos de 25% para 40% a nossa exposição em fundos de CRI, reduzindo as outras classes para 20% cada. Como reforçado acima, como são fundos de CRI indexados ao CDI, IPCA e IGPM, tendem a apresentar um resultado bem positivo nos próximos meses. Adicionaremos com 10% o Hectare CE (HCTR11) em nossa carteira, fundo tradicional de R$ 1,7 bi de PL negociando em linha com o valor patrimonial e com portfólio hoje em 56,5% IPCA + 10,2%, 27,8% INPC + 9,2% e 14,1% IGP-M +11,8%.

RENDA VARIÁVEL GLOBAL

Os resultados dos índices globais no mês seguiram a tendência de que historicamente setembro apresenta as piores performances para as bolsas. Com exceção ao índice Dow Jones, os índices americanos apresentaram os piores rendimentos desde março de 2020 (início da pandemia). O S&P 500 teve queda de 4,76%, o Nasdaq caiu 5,31% e o Dow Jones recuou 4,29%, porém com os três ainda apresentando retornos robustos de mais de 10% no ano. Os principais temas do mês que impulsionam tais retornos foram receios de uma inflação menos transitória dado atividades de reabertura da economia e gargalos na cadeia de suprimento em diversas indústrias, aperto monetário em diversos países, diminuição no ritmo de compra de ativos (tapering) pelo Banco Central Americano, redução de estimativas de crescimento das principais economias do mundo (China e Estados Unidos), impasse no orçamento das contas públicas nos Estados Unidos e uma potencial crise energética, colocando ainda mais pressão inflacionária e desaceleração das economias, principalmente na China. Quando olhamos para a curva de juros de 10 anos dos Estados Unidos (um indicador de extrema importância na precificação de ativos de risco mundo afora), os yields atingiram 1,54%, patamar que não se via desde junho, pressionando ainda mais as empresas de alto crescimento. 

Na Europa, os resultados dos principais índices seguiram a tendência dos índices americanos, fechando o mês em baixa. O índice Euro Stoxx 50, que representa 50 empresas de 10 países na Europa, encerrou o mês em queda de 3,53% (+13,95% no ano). Olhando para cada país, o índice alemão (DAX) foi o que mais apresentou baixas (3,63%) entre os principais indicadores, devido à maior incerteza quanto às eleições no país. Na França, o CAC 40 caiu 2,40% e em Londres o FTSE 100 apresentou leve baixa de 0,47%. Seguimos com visão positiva para as ações na Europa dado o desconto em relação às ações de outros países desenvolvidos, política monetária expansionista, menores pressões inflacionárias, boas perspectivas de crescimento econômico na região e maiores pesos a empresas com práticas de sustentabilidade. 

Na Ásia, atenção voltada para a solvência da Evergrande, uma das maiores incorporadoras do mundo e com mais de USD 300 Bilhões acumulados em passivos. Em nota, casas de análise de crédito alertaram para a probabilidade de não pagamento das obrigações da empresa junto a investidores e as especulações do possível impacto no sistema financeiro no país e possivelmente global vieram à tona. Fato é que o setor imobiliário da China representa aproximadamente 20% do crescimento econômico e uma possível desaceleração na indústria pode impactar principalmente países emergentes, que dependem da China como principal parceira comercial em diversas atividades. O caso, junto às restrições do governo chinês na produção de aço para fins de uma economia limpa, acabou gerando bastante volatilidade no preço das commodities (principalmente minério de ferro) e impactando ativos de risco de países emergentes. Olhando para o resultados dos principais índices acionários da região, destaque positivo para o índice do Japão (Nikkei 225), apresentando alta de 4,85%. Na China, o CSI300 apresentou alta de 1,26% no mês, o índice de Shanghai (SSEC) apresentou leve alta de 0,68% e o índice de Hong Kong (HK 50) caiu 5,04%.  

A carteira de ações globais da MMZR apresentou queda de 3,91% em setembro, contra queda de 4,76% do Benchmark (S&P 500). Destaque para os dois papéis no campo positivo: o banco J.P. Morgan (JPM) e Netflix (NFLX). As ações do banco ajudaram a carteira, atuando como proteção em caso de uma alta na curva longa dos juros americanos, que foi o caso em setembro, permitindo à ação avançar 2,3% em um mês de forte queda nos índices. Notícias positivas para o fundamento da Netflix ajudaram o papel a avançar 7,2% no mês marcado por correções nas grandes empresas de tecnologia. No início do mês, a empresa começou a testagem do serviço de streaming de vídeo games pelo aplicativo nos celulares Android o que serve de início para uma possível avenida de crescimento para a empresa. Expectativas positivas de adições de novos usuários com a estreia da série Seinfeld e a compra das obras do Roald Dahl (autor renomado de obras infantis) também impulsionaram com a alta da ação. Destaque negativo para as ações do Facebook, Google, Amazon e Microsoft com quedas no mês de 10,5% e 7,6%, 5.4% e 6,6%, respectivamente. A queda das ações podem ter sido explicadas pela alta dos juros longos nos Estados Unidos, que é inversamente proporcional ao valor do fluxo de caixa das empresas trazido para o presente, impactando com mais intensidade empresas de alto crescimento como as empresas de tecnologia. Investidores também podem ter aproveitado para realizar parcialmente os ganhos em seus investimentos, dada a alta no ano de 52,5% das ações do Google, 24,2% do Facebook e 26,8% da Microsoft. Seguimos com visão positiva para as ações globais dado ambiente de juros baixos e sólidos fundamentos das empresas, com atenção para a temporada de resultados do terceiro trimestre do ano com início previsto para a segunda semana de outubro.

CRÉDITO OFFSHORE

Novos temores fizeram com que a curva de juros americana voltasse a apresentar inclinação neste mês. O mercado começa a precificar uma aceleração prolongada da inflação não sendo acompanhada pelo crescimento esperado, gerando assim, temores de estagflação. Há indícios de instabilidade na relação de oferta e demanda do setor de energia global, o que corrobora a tese. Nos Estados Unidos, o núcleo do PCE (principal indicador de inflação empregado pelo Banco Central) subiu 0,3% no mês, valor acima das expectativas. Além disso, o discurso do Federal Reserve na última reunião do FOMC apresentou sinais de que o ciclo de aperto monetário poderá ocorrer já no ano que vem e que o início do tapering seja iniciado até o fim do ano. Em função disso, o juro da T-note de 10 anos escalou de 1,30% a 1,52%, o que acabou impactando os ativos globais de crédito como um todo.

No mercado de bonds americano, o cenário de aversão impactou sobretudo os ativos high grade. Temos observado ao longo do ano que em momentos de abertura da treasury os ativos high yield acabam sendo mais defensivos, sobretudo aqueles com vencimentos mais curtos, isso porque a liquidez das companhias segue elevada no curto prazo. Em virtude disso, o Barclays Global Aggregate composto por ativos high grade recuou 1,78%, enquanto o US Corporate High Yield Index teve queda de 0,68%. Outra classe que apresentou boa resiliência nesse cenário por estar atrelada à inflação foi a de Senior Loans. O índice S&P U.S. Leveraged Loan 100 Index subiu 0,63% em setembro e acumula 3,16% no ano.

A euforia provocada pela possibilidade de default da Evergrande, além de impactar o próprio mercado de bonds asiático, repercutiu bastante nos emergentes como um todo. O ETF de dívida de países asiáticos, JPM Asia Credit Bond, cedeu 1,48%. Já o ETF dos bonds emergentes, JPM Emerging Markets Bond (EMB) recuou 2,46%. No mercado imobiliário americano o efeito parece ter sido o mesmo, O Dow Jones U.S. Real Estate Index, que avalia a performance dos REITs, recuou 5,6% no mês. Mesmo assim, no ano o índice sobe 18,7%.


RESULTADO CARTEIRAS



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