Carta Mensal Março 2022

Cartas Mensais

RESUMO MARÇO

Principais indicadores:

Locais: CDI +0,93%, Ibovespa +6,06%, Prefixados (IRF-M) +0,84%, Ativos IPCA (IMA-B) +3,07%, Imobiliários (IFIX) +1,42%, Dólar (Ptax) -7,81%, Multimercados (IHFA) +3,94%

Internacionais: MSCI AC: +1,94%, S&P 500 +3,58%, Euro Stoxx 600 +0,61%, MSCI China -8,00%, MSCI EM -2,52%, Ouro +2,61%, Petróleo +4,76% e Minério de ferro +30,76%

MACRO

O mês de março foi marcado pelo alívio nas tensões geopolíticas entre Rússia e Ucrânia, trazendo forte recuperação para os ativos globais. No Brasil, tivemos mais um resultado positivo para a bolsa e para o real, comprovando o bom momento do país em relação aos pares globais.
Seguem as atualizações dos temas globais considerados como os mais importantes na visão do nosso Family Office:

INTERNACIONAL : Alívio nas tensões geopolíticas entre Rússia e Ucrânia e os cenários para a economia global

  • Atualizações do conflito entre Rússia e Ucrânia : A invasão russa ao território ucraniano tem causado diversas mudanças na ordem global. No início do mês vimos o ocidente impondo diversas sanções contra o governo de Vladimir Putin, com profundas e possíveis implicações econômicas ao país. Ao contrário do que o governo russo imaginava, a comoção da comunidade internacional, principalmente do ocidente, impôs uma quantidade enorme de restrições à Rússia, que mesmo com o fim da guerra não deverão ser retiradas no curto prazo, dada a forte pressão social de países do ocidente. A Rússia hoje já é o país com o maior número de sanções no mundo, com números superiores a Irã e Síria, por exemplo. De acordo com analistas, uma retirada de sanções poderia acontecer caso eventualmente um novo governo assuma a Rússia via convocação de eleições livres, mas tal cenário é extremamente improvável nas circunstâncias atuais. O rápido escalonamento da guerra também trouxe à tona o isolamento russo frente a diversos países do globo. Prova disso foi a resolução da ONU aprovada por 140 votos a favor da responsabilização da Rússia na crise humanitária ucraniana (37 países se abstiveram e apenas 5 votaram contra).

    Em um rápido resumo, as sanções impostas basicamente excluem a Rússia do sistema financeiro global, com diversos bloqueios a bancos russos em operações de dólar, libra, euro e iene. O país também foi retirado do SWIFT (com ressalvas a alguns bancos russos em um primeiro momento), excluído de índices internacionais e ficou “travado” no acesso de reservas do banco central, incluindo acesso a ouro físico (reserva de R$130bi). No mais, a Rússia ainda viu seu principal parceiro comercial na Europa, a Alemanha, anunciar que ficará independente do gás russo nos próximos anos, além de diversos outros países europeus divulgaram que pretendem mudar suas matrizes energéticas a fim de interromper a dependência de energia russa. Como resultado, o governo russo se viu obrigado ao longo do mês passado a elevar sua taxa de juros para 20% logo no início do mês. Ainda que com menor efeito, as sanções do ocidente foram respondidas pelo governo russo, que também impôs diversos impedimentos ao longo de março como respostas às retaliações. Dentre elas a proibição de autoridades europeias entrarem no país e de outros 200 produtos serem exportados para o ocidente. Não obstante, Putin declarou que poderia confiscar ativos de empresas estrangeiras no país, caso tais empresas anunciaram a retirada de suas operações do país.

    No mais, vimos ao longo de março diversas conversas entre Ucrânia e Rússia para algum acordo de paz. As demandas Russas envolvem basicamente: não entrada da Ucrânia na OTAN, reconhecimento ucraniano da Crimeia e da região de Dombass e desmilitarização da fronteira. Do lado ucraniano, o presidente Zelensky chegou a afirmar que o país estava pronto para um acordo de paz e que não faria esforços para que a Ucrânia entrasse na OTAN. O governo ucraniano ainda afirmou que conversas sobre ceder alguns territórios ao leste do país poderiam ser negociadas. A partir de então, conseguimos acompanhar uma retirada ao menos de parte das tropas russas de território ucraniano, concentrando o conflito ao leste do país.

    Alguns desdobramentos que já podemos observar ao longo das últimas semanas envolvem também o fenômeno da desglobalização. Fato que já vem ocorrendo há pelo menos 10 anos, com ascensão de líderes populistas, pandemia, guerra comercial, Brexit e as sanções contra a Rússia. Os impactos devem ser grandes em um contexto global, isto porque dado que ambos os países são grandes exportadores de commodities, o impacto na inflação e no crescimento global fica diretamente associado. Resta acompanhar o desfecho do conflito e as respostas dos principais bancos centrais.
Fonte: gzeromedia.com


  • Qual o novo cenário para as economias globais após o conflito entre Rússia e Ucrânia?: Durante o mês de março, dividimos a equipe para monitorar os desdobramentos da guerra para as economias desenvolvidas. De fato, o risco de estagflação voltou a assombrar os mercados, com as economias aumentando as expectativas de inflação e reduzindo o crescimento para o ano de 2022. Vale resumir o que vimos como principal destaque em cada economia:
    (i) os EUA reduziram a decisão de subir os juros para 25bps, porém não deixaram de iniciar o ciclo de alta de juros. A economia segue forte e a inflação deve atingir ainda o seu pico até meados de maio, antes de começar a cair. Jerome Powell e vários membros do FED já voltaram a trazer um tom mais duro para o cenário inflacionário e devemos ter duas altas de 50bps nas próximas reuniões, com os juros podendo chegar a atingir um nível acima do juro neutro (algo como 2,5%).
    (ii) Na Europa, o cenário é mais adverso, com a economia sendo a principal impactada pela guerra. Boa parte do mercado já começa a projetar um PIB bem menor para o ano e uma inflação maior, algo que prejudicará bastante a região. Além disso, achamos difícil a Zona do Euro não elevar os juros ainda este ano, podendo realizar algo como 3 altas de 10bps ao longo de 2022.
    (iii) Na China, vemos um impacto muito baixo da guerra no país, mas a Covid segue atrapalhando os planos de crescimento acima de 5,5% do governo. Muitas regiões voltaram a ficar em lockdown e já existem projeções para um crescimento menor do que 5% se tivermos novos surtos nos próximos meses.Importante considerar que ao longo de março vimos os EUA subirem juros em 25bps, o Brasil em 100bps, o Peru em 50bps, UK em 25bps, Africa do Sul em 25bps e o México em novos 50bps. A China é a única grande potência que poderá utilizar a política monetária como ferramenta para novos estímulos, embora muitos ainda questionem como os dados de inflação do consumidor não sobem mesmo com os dados dos produtores reportando números mais altos.

BRASIL: Na contramão do mundo, seguimos surpreendendo em 2022

Para o cenário local, o fluxo de entrada na bolsa segue forte e vimos uma performance de recuperação frente ao que ficamos para trás em 2021. O dólar caiu 7,81% durante março e vimos a bolsa subir 6,06%.O BC começa a mudar o tom da comunicação com o mercado, assumindo que o Brasil não precisará de um juro tão além dos 11,75% atuais para controlar a inflação. Isso assumindo algumas bandas para o preço do petróleo, mas sendo o preço de USD 100 o cenário base para a commodity. A inflação deve atingir seu pico em maio deste ano, antes de iniciar o seu processo de arrefecimento e provavelmente fechar o ano próximo a 7%.Seguimos atentos aos novos anúncios de caráter “populista” do atual governo e não estamos tão confiantes com o desempenho dos ativos de risco brasileiro em meio ao cenário eleitoral que pouco fez preço e aos juros nos EUA que podem gerar um cenário de maior aversão ao risco para os mercados emergentes.Sobre o cenário eleitoral, Jair Bolsonaro segue capturando parte dessa melhora da economia e começa a crescer na disputa. A melhora é percebida também na sua avaliação de governo. O presidente Lula chega a um acordo para garantir Geraldo Alckmin como vice pelo PSB, sinalizando que o seu governo deverá ter um perfil mais de centro. Já a terceira via parece começar a se organizar para tentar um candidato único, podendo ser Eduardo Leite, ainda do PSDB, como presidente e Simone Tebet, do MDB, como vice. Difícil dizer se existe favoritismo para alguém, mas no momento fica claro que se tivermos nomes que já atuaram no cargo, a visão do mercado poderá ser neutra independente do candidato.

CARTEIRAS E POSICIONAMENTO

Durante o mês, tivemos forte performance nas carteiras locais e um desempenho negativo nas carteiras internacionais. Dentre as mudanças na carteira local, adicionamos para o perfil moderado e agressivo mais 2,5% em ativos prefixados, reduzindo a posição de bolsas globais. O cenário mais desafiador para os países desenvolvidos segue nos forçando a adotar uma estratégia mais cautelosa em bolsa e por isso optamos por reduzir equities globais ao nível neutro em todos os portfólios. Vamos aproveitar essa redução para dobrar a nossa aposta na estratégia prefixada comentada na carta anterior.

Para as carteiras internacionais, reduzimos 5% da posição em bolsa global, zerando a posição direta na Europa e reduzindo outras geografias de forma proporcional. Para esses portfólios, priorizamos a classe de alternativos líquidos via gestores que possam se beneficiar de cenários adversos, sem precisar necessariamente se posicionar de forma direcional em bolsas globais.

Sendo assim, estamos:

(i) otimistas com o carrego das posições em CDI de duration curta (até 3 anos), IPCA para uma duration intermediária (entre 4 e 6 anos) e agora com uma maior proporção em ativos prefixados de duration curta (entre 3 e 3,5 anos);

(ii) confiantes com a capacidade dos fundos de retorno absoluto em gerar alfa de maneira descorrelacionada, ou seja, utilizando ferramentas que teríamos dificuldade para acessar diretamente como: commodities, estratégias de arbitragem, quantitativas, juros e moedas internacionais, etc;

(iii) com a posição neutra em Renda Variável local e seguimos aproveitando o bom momento dos ativos para embolsar resultados nos portfólios;

(iv) alterando os portfólios para uma visão mais neutra em bolsas internacionais devido ao momento desafiador das economias no mundo. O crescimento global sendo reduzido, com revisões altistas para a inflação e o cenário de juros nos EUA devem prevalecer nos preços dos ativos;

(v) neutros para Fundos Imobiliários, praticamente zerando todo o portfólio de tijolo para ativos de recebíveis diretamente. A partir disso, devemos começar a incluir alternativas de FI Agro e até mesmo fundos de infraestrutura com viés de dívida nas carteiras;

(vi) Otimistas com as oportunidades em empresas fora do ambiente de bolsa, via bons gestores da indústria de Private Equity e Venture Capital.

RENDA FIXA : JUROS NOMINAIS E REAIS (PRÉ-FIXADO / INFLAÇÃO)

Em comunicado durante o mês de março, a postura mais dovish do BC surpreendeu o mercado. Parece claro que o plano de voo da instituição brasileira passa a ser uma nova alta de 100 pontos base na próxima reunião para encerrar o ciclo de aperto monetário em 12.75%, mas é possível que tenhamos ainda um novo ajuste de 50 pontos base para encerrar o ciclo na casa dos 13%, em linha com o que o boletim Focus indica hoje. No mais, acompanhamos as constantes revisões para cima no IPCA, pressionado também pelo forte peso da gasolina no indicador, com o barril do petróleo atingindo valores não vistos há algum tempo. Além disso, dados melhores que o esperado de arrecadação e do mercado de trabalho devem continuar pressionando a inflação local.

O mês foi marcado por forte fechamento das curvas de juros brasileiras, especialmente nos vértices intermediários e longos, com melhor entendimento das questões do conflito entre Rússia e Ucrânia. No mais, o mercado projeta hoje IPCA na casa dos 7%, já precificando o número ao redor de 4% em 2023. Por fim, em março, o IRF-M apresentou alta de 0,84% e acumula valorização de 2,3% ao longo dos últimos 12 meses. Já o IMA-B apresentou ganhos significativos com o fechamento da curva, com valorização de 3,07%, acumulando 4,5% ao longo dos últimos 12 meses.

CRÉDITO CORPORATIVO

Março foi mais um mês de excelente carrego da classe de crédito privado local, impulsionados pelos juros altos e inflação pressionada. A queda de cerca de 15 bps no CDS de 5 anos brasileiro reflete a melhora na percepção do mercado acerca do cenário fiscal, mesmo com grandes desafios no radar (redução do IPI, mudança do ICMS e redução de PIS/COFINS). Isso contribuiu para ganhos adicionais em função da marcação a mercado, com destaque para o setor de transmissão de energia. O fechamento do spread médio da indústria medido pelo JGP Idex, acelerou 10 pontos-base a 1,70%. As captações da classe seguem bem aquecidas, tanto em relação aos fundos como de ofertas primárias. Segundo levantamento realizado pelo Itaú BBA, o patrimônio total de fundos que investem em ativos de crédito soma hoje cerca de R$ 870 bilhões, mais do que o volume observado na pré-pandemia. Ainda assim, os spreads de crédito se mantêm um pouco acima do nível daquela época e da média histórica, configurando um cenário positivo para novos aportes. O volume de ofertas de debêntures já soma R$ 18 bilhões, bem acima dos R$ 8 bilhões ofertados no ano passado. O pipeline deve se manter aquecido no segundo trimestre, visto que as empresas devem evitar captar muito próximo da volatilidade das eleições.

A respeito das subclasses, os ativos atrelados à inflação se beneficiaram do forte fechamento das taxas das NTN-Bs de referência. O carrego também se mantém atrativo, vide a última leitura do IPCA-15 de 0,95% versus um consenso de 0,85%. A inflação implícita para o fim do ano se elevou para 6,6%, indicando que o carrego do IPCA deve se manter elevado nos próximos meses e arrefecer a partir do segundo semestre. O IDA-IPCA apresentou alta expressiva de 3,09% em março, em linha com o IMA-B (+3,07%). Não há mudanças em relação a nossa visão de alocação: preferência por papéis de vértices intermediários e aproveitar as taxas atrativas de ofertas primárias e ativos saindo de lock-up.

Para os pós-fixados, houve forte fechamento dos contratos futuros do DI, após o COPOM surpreender o mercado e sinalizar que o ciclo de alta de juros deve se encerrar na reunião de maio, levando a taxa Selic em 12,75%. Entretanto, o impacto sobre o carrego da subclasse é baixo, visto que os juros devem permanecer próximos a esse patamar ao longo de todo o ano. Os índices performaram de forma positiva com o IDA-DI apresentando alta de 1,12%, enquanto o Idex da JGP (BRIDEXCDI) subiu 1,15% (124% do CDI). Do ponto de vista de alocação, temos aproveitado bem o aumento de ofertas atreladas ao CDI.

A única mudança na classe de crédito é o aumento em nossa posição prefixada. Mesmo que o cenário traçado pelo Banco Central de fim de ciclo de alta na próxima reunião não se concretize, a visão está cada vez mais clara de que ele está próximo. Uma análise histórica nos leva a crer que a performance dos prefixados deva superar a das demais subclasses quando olhamos para o horizonte de 3 a 3,5 anos. Temos encontrado boas opções de emissores bancários para realizar tal estratégia.

RETORNO ABSOLUTO

O índice de multimercados da Anbima apresentou forte alta ao longo do mês de março. No mês, o IHFA trouxe valorização de 3,73%, acumulado alta de 6,30% no ano e 8,59% ao longo dos últimos 12 meses.

Dentre nosso radar de cobertura, envolvendo mais de 100 fundos multimercados, todas as subcategorias apresentaram retorno mensal positivo em março. O grande destaque foram os fundos macroestruturais, que obtiveram retorno médio de 3,78% no fechamento do mês. Em seguida, os fundos macro dinâmicos apresentaram também retornos muito atrativos, com valorização média de 2,99% em março. Já os fundos descorrelacionados, caracterizados como quantitativos, sistemáticos e de eventos corporativos, trouxeram ganhos médios de 2,60%, acumulando alta de quase 9% ao longo dos últimos 12 meses. Os fundos com maior viés a carregarem ativos de renda variável, caso dos long&short direcionais/total return, aproveitaram o bom momento da bolsa brasileira e registraram ganhos médios na ordem de 1,50%. Por fim, os long&short neutros foram os que pior performaram ao longo do mês passado, anotando ganhos de 0,52% na média da sua subcategoria.

*Dados do IHFA até o dia 30/03

RENDA VARIÁVEL LOCAL

Pelo terceiro mês consecutivo o Ibovespa estendeu ganhos, fechando março em +6,1% (16% em dólares no mês) aos 120 mil pontos e consolidando-se como um dos melhores mercados de 2022. Beneficiando-se do atual cenário geopolítico externo, mercados emergentes com destaque ao Brasil ganharam uma forte e constante entrada do capital estrangeiro nos 3 primeiros meses do ano, registrando um montante total de R$ 89,6 bilhões - número maior do que o volume total somado da última década (2011-2020). Importante considerar que ao final do mês a B3 afirmou que por um erro interno o montante estava inflado em aproximadamente 42% por considerar operações de empréstimo, mas ainda assim o número total é relevante.


Na visão dos gestores e casas de análise, movimento é explicado pelos seguintes fatores:

1 - Desconto por múltiplos da bolsa local em comparação aos emergentes: Ibovespa hoje negocia em P/L projetado 22 (múltiplo comumente utilizado para avaliar preços de ações em relação ao lucro projetado da empresa) a aproximadamente 1 desvio padrão abaixo da média histórica, enquanto pares emergentes negociam em linha ou com prêmio. No caso ainda da Rússia, deixa de ser uma alocação ativa, favorecendo fluxo ao Brasil;

2 - Participação de 62% ações value na composição do índice Ibovespa: Hoje, a composição do Índice é de aproximadamente 40% em commodities e mais 20% em bancos (respondendo por mais de 80% do lucro projetado em 2022), sendo os setores que negociam com os menores múltiplos e os mais procurados no momento atual de aversão a risco global. São setores que, principalmente, o estrangeiro busca exposição, uma vez que em seus mercados locais são escassos de opções;

3 - Maior direcionamento na discussão eleitoral: dado os primeiros resultados de pesquisas eleitorais presidenciais consolidando o candidato Lula na liderança, o movimento de incerteza reduz consideravelmente. O discurso mais moderado ao centro da figura aliado ao avanço das discussões da cadeira de vice presidência ao Geraldo Alckmin acalmaram os cenários mais extremistas e radicais levantados no final do ano passado;

4 - Antecipação de ciclo de aperto monetário x mercados desenvolvidos: pela primeira vez na história, os mercados emergentes anteciparam um fluxo de aperto monetário para controle da inflação subindo os juros em ritmo anterior às economias desenvolvidas. Como consequência, a forte entrada do capital de estrangeiro visa não somente aproveitar o diferencial de juros, como também acaba sendo vista como um porto menos incerto quanto ao ritmo de aperto/controle da economia. Em ciclos de alta de juro do FED, XP reportou estudo histórico mostrando que ações brasileiras superam ações globais durante tal período em 31,1%, na média;

5 - Em contramão ao restante do mundo, governo chinês volta a acelerar estímulos monetários à economia para alcançar meta de PIB ao final do ano. Tal cenário estimula a demanda por commodities, onde o Brasil tem grande exposição ao mercado Chinês – Vale é o grande exemplo, subindo cerca de 28% no ano puxada pela apreciação do minério de ferro, em grande parte precificado pela demanda chinesa.

6 - Dados de atividade econômica local com margem mais positiva do que o esperado, levando a revisões de projeção do PIB ao final do ano para cima – movimento positivo para as ações domésticas, que nas duas últimas semanas do mês subiram mais de 15% (vide gráfico abaixo).

7 - Apesar do cenário de ano eleitoral e aperto fiscal, em comparação aos pares emergentes possuímos um mercado de capitais bem desenvolvido e com alta liquidez, vide gráfico abaixo comparando volume de negociação diário médio em dólar contra pares da américa latina:

Ainda que que o Ibovespa negocie com desconto por múltiplo de lucro do Ibovespa (cerca de 18% em relação à média histórica) com possibilidade de revisões de resultado para cima (grande parte das empresas reportando resultados do 4T21 acima do consenso), a forte abertura da taxa de juros reais segura parte do aumento do prêmio de risco para se investir em bolsa, freando um eventual rali adicional. Dois pontos contribuíram para uma contínua alta: (a) novos resultados de empresa acima das estimativas atuais e/ou (b) juros reais mais baixos vindos de um controle inflacionário. Importante ressaltar que os juros reais de longo prazo fecharam em 5,48%, acima da média histórica e com espaço para cair ao longo do ano. Quanto aos riscos, (a) deterioração do cenário fiscal local e/ou (b) movimento de aversão ao risco global com juros de longo prazo americanos em patamares maiores do que o projetado.

Após a boa performance do índice nos primeiro meses do ano, as casas de análise vem revisando o target do Ibovespa para cima para o final do ano em aproximadamente 130 mil pontos, implicando um potencial de alta de aproximadamente 9%, patamar abaixo da Selic em dois dígitos. Seguimos positivo no cenário local via stock picking, no qual entendemos que existem as maiores assimetrias e possibilidades para superar não só o Ibovespa, como também o custo de capital.

A carteira MMZR de ações teve uma performance de 12,7% no mês de março contra 6,1% do Ibovespa, acumulando alta de 12,7% no mês. Destaques positivos para 3R (+23,5%), fechando boa parte do gap de performance contra PetroRio e Petrobrás nos últimos meses e Gerdau (+21,9%), acompanhando a alta dos preços dos metais mundo afora. Weg (+18,5%) e Natura (12,5%) também compõem a lista, a primeira como tese de aumento do global capex e a segunda em um movimento de correção após quedas sucessivas. Do lado negativo, apenas Rede D’Or (-2,2%) como detrator, com os investidores ainda cautelosos quanto às sinergias da grande aquisição da SulAmérica no último mês. Para o mês, não faremos alterações, ainda observando o movimento recente da bolsa local: preços das commodities ainda sólidos e sustentando ganhos, enquanto nomes domésticos começam a ensaiar alguma recuperação de preços.

FIIS

O IFIX (Índice de Fundos Imobiliários) reportou em março alta de 1,59% em março, após queda de 1,29% em fevereiro. Destaque para a boa performance dos fundos de tijolo, que subiram 1,76% no mês medidos pelo índice da XP (XPFP), enquanto os fundos de dívida caíram 1,17%. Apesar da performance positiva dos fundos de tijolo, o aumento da taxa de juros Selic atingindo o patamar de 11,75% a.a. tende a permanecer pressionando suas cotas no mercado secundário, que hoje representam aproximadamente 57% da composição do IFIX e vêm como os grandes detratores do ano. Por outro lado, os fundos de dívida vem surfando bem o cenário, considerando a indexação do portfólio ao CDI ou IPCA, ambos em dois dígitos hoje. Fundos com essa característica estão no campo positivo no ano em sua grande maioria, entregando rendimentos mensais acima de 1% ao mês, líquidos de imposto de renda.

Partindo desse pressuposto seguimos concentrando a estratégia em fundos de dívida, de forma a surfar o ambiente inflacionário e de juros altos de forma defensiva – especialmente fundos com carteira atrelada ao CDI nesse curto prazo, indicador que vem entregando um carrego de curto prazo melhor se comparado ao IPCA. O mercado enxerga uma inflação calculada pelo índice IPCA em patamares de alta até meados de maio, enquanto o ciclo da Selic em dois dígitos deve perdurar ao menos nos próximos 18 meses.

Fundos de tijolo hoje negociam com forte desconto frente ao valor patrimonial e alguns até abaixo do custo de reposição, sendo aqui uma boa oportunidade de ganho de capital a longo prazo. Taticamente, porém, estamos concentrando novas alocações em fundo de dívida, pois entendemos que um acirramento do cenário inflacionário pode impactar ainda mais negativamente tais fundos – enxergamos que teremos um momento mais claro e seguro de entrada na categoria, visando ganho de capital. Por ora, fundos de dívida vem remunerando, na média, em cerca de 13% ao ano líquido de imposto de renda para pessoa física, com rendimentos mensais.

RENDA VARIÁVEL GLOBAL

Apesar de um início turbulento em março para os ativos de risco globais, os principais índices encerraram o mês no campo positivo. Mesmo em meio a um aumento de preços em uma escala global, um banco central americano cada vez mais a favor de retirada de estímulos, declínio nas projeções de crescimento econômico nos principais países desenvolvidos e um conflito armado ainda em andamento no leste europeu, os índices acionários americanos entregaram boa performance, recuperando parcialmente as quedas expressivas ao longo desse começo de ano. Seguem algumas interpretações possíveis para o “rally” observado nas duas últimas semanas de março: i) investidores buscando proteção em ativos reais em um ambiente inflacionário ii) sentimento havia ficado negativo até demais até meados de março (temor de uma guerra nuclear, racionamento de petróleo), abrindo espaço para uma recuperação parcial. Seja qual for o(s) motivos(s), o S&P 500 encerrou em alta de 3,6% em março, apresentando queda de 5% no trimestre (primeira queda trimestral após 7 trimestres consecutivos de altas). Setorialmente, a performance positiva foi observada em todos os setores do índice, exceto setor financeiro (queda de 0,4%), impactado pelo achatamento da curva de juros e alta sensibilidade das empresas à situação econômica global. 

Diferente dos principais índices americanos, os índices da Europa encerraram o mês de março com performance mista, majoritariamente no campo negativo. O sentimento negativo para os ativos de risco na região foi influenciado por uma maior proximidade com o conflito entre Rússia e Ucrânia, alto grau de dependência energética com o país, maior risco de estagflação e um ambiente cada vez mais desafiador do BCE iniciar o ciclo de aperto monetário ao passo que a economia deve enfrentar desaceleração nos próximos meses. Com isso, o Euro Stoxx 50 encerrou o mês em queda de 0,6%, acumulando queda de 9,4% no ano. Olhando individualmente a performance dos principais países, destaque para o índice de Londres, encerrando o mês em alta de 0,8% e acumulando leve alta de 1,8% em 2022. Em Frankfurt, o índice encerrou em queda de 0,3% (-8,7% no ano) e em Paris as ações encerraram no neutro (-6,9% no ano). No continente asiático, destaque positivo para o índice de Tokyo, com o Nikkei registrando alta de 4,8% em março, mas acumulando queda de 3,4% no trimestre. As ações chinesas tiveram mais um mês turbulento ao passo que o país enfrenta a pior onda de Covid-19 desde 2020 e se vê obrigado a forçar fechamento de fábricas e pontos comerciais (impactando negativamente as revisões de crescimento econômico), em linha com a política de zero tolerância ao vírus que vem sendo estabelecida na região. Como resultado, o CSI 300 encerrou o mês em forte queda de 7,8% (-14,5% no ano), o HK 50 caiu 3,2% (6,0% no ano) e o SSEC caiu 6,1% (10,6% no ano). 

A Carteira de Ações da MMZR apresentou alta de 2,8% em março, contra 1,9% do índice MSCI AC. Exceto pelas ações da Disney (-7,6%) e J.P. Morgan (-3,9%), todas as ações da Carteira encerraram o mês no positivo, com destaque para Johnson & Johnson (+7,7%), Apple (+5,7%) e Amazon (+6,1%). No final do mês, foram divulgadas notícias de que a Apple deve até o final de 2022 ou começo de 2023 adicionar um novo modelo de negócios: venda de iPhones via modelo de subscrição. A informação foi interpretada como positiva pelo mercado, dado que a empresa deve adicionar uma nova fonte de receita recorrente no produto (base de mais de 1 bilhão de usuários) que é responsável por mais da metade do faturamento anual. As ações da Amazon também apresentaram alta expressiva em março, com investidores reagindo positivamente à autorização de um programa de recompras de USD 10 Bilhões, assim como aprovação do desdobramento das ações, possivelmente contribuindo para uma maior liquidez. Impulsionado por rumores de deslistagem de algumas ADRs chinesas da Bolsa Americana, as ações da Alibaba (+3,4%) apresentaram uma alta volatilidade no mês, mas conseguindo encerrar acima do índice após valorização de mais de 50% durante seis pregões consecutivos com anúncios de que o as pressões regulatórias do governo chinês nas empresas de tecnologia devem enfraquecer, assim como sinalizações de aumento de suporte dos mesmos no mercado de capitais. Seguimos com visão neutra em renda variável global, alertando que o ano deve seguir sendo bastante volátil para os ativos de risco com o mercado atento à velocidade e intensidade nos aumentos de juros nos países desenvolvidos. Por outro lado, os prêmios de risco de investir na Bolsa seguem positivos e eventuais "drawdowns" podem ser interpretados como oportunidade de expor o investidor de longo prazo em empresas que devem ser protagonistas nas transformações digitais e seculares que veremos nos próximos anos.

CRÉDITO OFFSHORE

Março foi marcado por uma das piores performances dos ativos de crédito globais de toda a série histórica. A combinação do prolongamento da guerra na Ucrânia e de sanções à Rússia com uma inflação americana mais persistente – refletindo maiores preocupações do que apenas o choque de preços de commodities – ocasionou um grande movimento de sell-off. Após a alta de 25 bps na Fed funds rate por parte do FOMC, vários membros do Federal Reserve dão indícios de uma intensificação no movimento com altas de 50 bps nas próximas duas reuniões. Os dois apertos devem motivar uma continuidade de abertura da curva de juro americana, sobretudo nos vértices mais curtos. Cada vez mais a curva aponta para uma inversão. O treasury de 2 anos escalou a 2,28%, praticamente igualando a taxa para 10 anos de 2,32%. Talvez o que impede uma maior abertura dos juros longos seja o fato do tesouro americano ser visto como o risk-free do planeta. Então, mesmo que um cenário de recessão se concretize no curto ou médio prazo, muitos investidores ainda procuram proteção nele, evitando um movimento de steepening acentuado como ocorre em países como o Brasil. Diante desse cenário desafiador, reforçamos a importância de manter alocações com durations mais curtas para proteger os portfólios.

Os impactos da inflação americana se refletiram principalmente sobre os ativos High grade. O índice representativo da classe, o Barclays Global Aggregate, recuou 3,05% no mês e acumula queda de 6,16% no ano, pouco usual para a classe. Já o US Corporate High Yield Index, se mostrou mais resiliente, caindo 1,15% no mês e 4,84% no ano. A classe de Senior Loans foi a mais defensiva das três, com o S&P U.S. Leveraged Loan 100 Index registrando alta de 0,22%. Já o setor imobiliário representado pelo Dow Jones U.S. Real Estate Index subiu 6,04% no mês, reagindo às perdas do início do ano.

Os índices de mercados emergentes têm sido fortemente impactados pela performance desastrosa dos ativos russos. O ETF de bonds emergentes, JPM Emerging Markets Bond (EMB) já acumula queda de 9,39% no ano, mesmo após a exclusão dos bonds do país do ETF. A Ásia também está sendo bastante impactada: o JPM Asia Credit Bond a Ásia cedeu 3,28% no mês e cai 7,56% no ano.

ALTERNATIVOS

Nesse mês iniciaremos nossa alocação em participações ilíquidas. O racional da estruturação do fundo de fundos em Private Equity e Venture Capital ocorreu devido à crescente demanda dos clientes para exposição a esses mercados. Na nossa visão o momento de alocação coincide com diversos fatores macro e micro que nos dá conforto para estruturarmos esse produto, sendo eles: (i) juros relativamente baixos para o país nos últimos anos; (ii) amadurecimento das gestoras locais nos últimos 10 anos; (iii) retornos atrativos; (iv) diversas empresas bancadas por fundos de PE e VC chegando à etapa final de listagem pública; e (v) alto fluxo de capital estrangeiro para o setor na América Latina, sendo o Brasil o principal mercado. Por outro lado, ainda enxergarmos algumas dificuldades para alocação direta a esses mercados, como: (i) altos tickets mínimos para acesso, impossibilitando muitas vezes a diversificação nessa classe de ativos; (ii) Dificuldade de achar informações e acessar os gestores; (iii) mecanismo de chamada de capital integral na subscrição do fundo, impactando diretamente na TIR final ao cotista.

O fundo de fundos deverá contemplar entre 10-12 gestores, com estratégias complementares, o que diminui significativamente o risco de perda de capital (conforme gráfico abaixo), além de reduzir a duration do fundo, possibilitando uma devolução faseada de capital, provavelmente, a partir do 4° ou 5° ano do fundo.

Quanto à complementaridade entre os fundos selecionados, podemos observar segmentações claras dentro das subclasses de Venture Capital e Private Equity, que vamos apenas citar na presente carta, mas que vamos esmiuçar ao longo das próximas edições. Dentro de Venture Capital, observamos gestoras focadas em

(i) Pre-seed e Seed, sendo esse o segmento com maior risco já que em muitas vezes o produto ainda não está totalmente testado e finalizado; na sequência, temos gestoras focadas em

(ii) Series A e B, em que o risco já é mais reduzido por apenas investirem em produtos já testados, tendo como o principal objetivo do capital aportado os ajustes finais na equipe e no produto para o que antecede o crescimento exponencial. Por último no mundo de Venture Capital, temos as gestoras

(iii) late stage, que investem em startups que já receberam investimento de outros fundos anteriormente e o capital serve para acelerar exponencialmente o crescimento do produto antes de se listarem em mercados públicos.

Na subclasse de Private Equity, podemos observar algumas segmentações entre as gestoras, sendo elas:

(i) Growth, fundos que buscam na maioria das vezes, ser o primeiro cheque de investimento externo em companhias com potencial de crescimento e com espaço para melhora de governança;

(ii) Special situations, sendo fundos caracterizados por buscarem ativos que estão com dificuldades financeiras ou com business model desalinhando, visando com o expertise dos gestores recuperar as empresas investidas; e

(iii) Buyout, sendo essa a modalidade mais tradicional da subclasse de Private Equity, em que as gestoras buscam ativos que com pequenos ajustes de posicionamento e governança podem seguir o caminho para a listagem pública. Vale destacar que os fundos de Venture Capital buscam empresas, muitas vezes, com tecnologia proprietária relevante, com mercados endereçáveis grandes e não objetivam a compra de controle das startups, enquanto fundos de Private Equity, em sua maioria, buscam o controle das investidas, além de olharem também para empresas de economia real e com mercados endereçáveis não necessariamente tão grandes, mas com potencial da investida consolidar esse mercado.

Observando as definições das segmentações das gestoras dentro das duas subclasses de alternativos, buscamos alocar em cada um dos segmentos a fim de evitar sobreposição de estratégias, além de expor nossos clientes à todas as fases das companhias antes de se tornarem públicas, conforme gráfico a seguir.



RESULTADO CARTEIRAS - MARÇO 2022


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