Para o cenário internacional, continuamos com a visão de que a discussão sobre uma recessão prolongada ou não da economia americana virou a “protagonista” dentre os grandes temas que o mercado atribui para os preços dos ativos.
Foi importante ver a inflação de serviços recuando para baixo dos 7% em abril (divulgada em maio), se aproximando dos dados de novembro/22 e criando uma expectativa de que o pico já ocorreu no primeiro trimestre de 2023. Os dados de emprego ainda seguem firmes, com abril e maio novamente surpreendendo os mercados, mas agora se tornam dados cada vez mais importantes para trazer a confiança que o mercado precisa para acreditar em uma economia resiliente mesmo com os juros mais altos.
Sendo assim, acreditamos que o FED pause o ciclo de alta de juros nesta próxima reunião. Aos poucos, os membros estão mais divididos quanto à continuidade do aperto e os dados econômicos já demonstram um certo enfraquecimento quando comparado aos meses anteriores. A última ata ratificou tal movimento para nós e ficaríamos surpresos se houvesse ainda mais uma alta de 25bps.
Contudo, contestamos bastante a visão do mercado de projetar cortes já para o ano de 2023. Nossa teoria é de que o mercado tem dúvidas quanto à capacidade do FED em seguir com um posicionamento firme nos juros em meio a um processo de desaceleração econômica mais claro, sendo que esses dados devem ocorrer em algum momento a partir do terceiro trimestre. De qualquer forma, acreditamos que a inflação deve seguir caindo e que a meta de inflação seja possível de ser atingida já em 2024. Os membros votantes do comitê seguem bem transparentes quanto a continuidade dos juros na nossa visão e qualquer mudança de postura poderia acarretar em uma falta de credibilidade para comunicações futuras.
Sobre a Zona do Euro, imaginamos que ela deva seguir com o ciclo de aperto dos juros por pelo menos mais duas reuniões, em linha com o início mais tarde do seu processo de ajuste monetário. A capacidade de reversão de um processo de recessão mais longo seguirá dependente dos dados da Alemanha e dos níveis mais baixos das commodities de energia.
Sendo assim, no segundo semestre, devemos encontrar praticamente todas as economias revertendo o seu processo de aperto, o que deve gerar uma nova fase para os ativos de risco pelo mundo. Tal movimento, somado aos dados melhores da economia chinesa, devem criar um cenário muito diferente do que vimos nos últimos 18 meses. Estamos cada vez mais convictos sobre essa mudança de cenário mais benigna para os preços dos ativos, mas seguimos dependentes dos dados para tal confirmação.
Os ativos brasileiros entraram em euforia no mês de maio, fruto do bom desempenho de Arthur Lira no comando do arcabouço fiscal. Lira conseguiu aprovar o texto-base com 372 votos e conduziu com o relator Claudio Cajado um projeto elogiado por muitos do mercado. Muita gente ainda critica a penalidade mais fraca quando comparada ao teto de gastos, mas a verdade é que se as despesas crescerem nos níveis do que o arcabouço determina, já teremos um fiscal muito mais controlado do que o visto nos anos anteriores comandados pelo PT.
As expectativas de inflação recuaram significativamente e observamos a curva de juros projetar uma Selic abaixo dos 10% já em 2024. O país ainda ganhou uma boa surpresa para o PIB, vinda do agronegócio, e que deve trazer o crescimento para algo próximo dos 2% já em 2023. Boas notícias para o controle de gastos e boas notícias para a arrecadação, não poderia ter um mês melhor para os dados fiscais.
Para completar o bom momento, resta apenas Haddad convencer o presidente Lula de que o melhor a fazer no momento é não mudar a meta de inflação do país. Haddad defende apenas alterar o horizonte da meta, retirando a meta calendário para uma meta contínua. Tal fato poderia trazer um conforto para o mercado, demonstrando uma confiança ainda maior na autoridade monetária e minimizando os riscos de um retrocesso sobre a independência do Banco Central.
O fato é que o mercado internacional caminha para um cenário mais benigno e o Brasil só precisa demonstrar um mínimo de estabilidade para “surfar essa onda”. Os preços estão extremamente descontados por aqui e há uma boa oportunidade para o país aparecer como destaque dentre os emergentes novamente.
Para os portfólios locais, todos os perfis tiveram retornos excelentes. A carteira conservadora subiu 1,71% ou 151% do CDI, sendo o melhor resultado mensal da nossa história para o perfil e com grande destaque para a classe de ativos ligados ao IPCA. A carteira moderada teve alta de 2,17% ou 193% do CDI, com excelentes resultados das classes de renda variável local, fundos imobiliários e a parcela de inflação. Por fim, a carteira agressiva rendeu 2,68% ou 238% do CDI, com praticamente os mesmos destaques da carteira moderada, mas considerando uma exposição maior aos mesmos ativos.
Os portfólios internacionais encerraram o mês com retorno de 0,35% em maio, muito acima do benchmark passivo que caiu 1,67% no mesmo período (portfólio 60/40). Não tivemos uma classe 100% promotora, mas as subclasses de tecnologia, gestores sistemáticos, fundos L&S neutro e crédito mais estruturado conseguiram trazer bons resultados para o portfólio e se destacaram no mês. A parcela detratora ficou para boa parte dos ativos de fixed income e fundos com exposições geográficas ligadas a Europa e Ásia.
Sendo assim, estamos:
Em maio, o Ibovespa ampliou os ganhos de abril e subiu +3,7% aos 108.335 pontos (+1,8% em dólares), destacando-se frente aos mercados globais (S&P em +0,2% e MSCI AC World em -1,9% no período).
Nesse mês, vimos uma melhora estrutural no cenário local, a partir de uma combinação de avanços importantes na política fiscal e dados de atividade econômica melhores do que o esperado, aliviando a curva futura de juros e fortalecendo a antecipação do movimento de corte da Selic. Alocamos os principais eventos do período:
1- Aprovação do arcabouço fiscal pelo Congresso, alterando parte do projeto original apresentado pelo Governo em abril;
2- Revisões de projeções para o ano de 2023 IPCA baixo (de 6,1% para 5,7% em 1 mês) e PIB para cima (+1,0% para +1,3% em 1 mês), conforme Boletim Focus;
3- Forte alívio do Juro real: Como consequência da melhora da percepção do risco fiscal e político, a NTN-B 2035 recuou de 6,2% em março para cerca de 5,5% ao final do mês. A consequência desse movimento para a bolsa é extremamente positiva, uma vez que reduz o custo de capital das empresas (Ke) e o valor justo dos papéis. Para exemplificar na prática, o BTG Pactual fez um estudo simulando o impacto na projeção de preço dos ativos, conforme oscilação de 1% do Ke nos modelos, concluindo que na média o target price sobe em 18%:
4- Fluxo estrangeiro levemente negativo em maio, seguindo tendência neutra desde fevereiro: Após entrada de R$ 2,7 bilhões em abril, tivemos saída de R$ 2,2 bilhões em maio, sem indicações de tendência. No ano, o fluxo é positivo em R$ 9 bilhões, segundo a forte entrada de R$ 13 bilhões em janeiro. Os dados de China mais fracos que o esperado, aliados a um cenário de juros ainda altos nos EUA seguram parte do apetite do estrangeiro pelos mercados emergentes:
5- Retirada dos fundos locais de ações em ritmo menor: Vimos um fluxo negativo nos fundos de ações nos últimos 17 dentre 18 meses, como reflexo de juros altos e maior aversão a risco. Tal ritmo, porém, vem reduzindo (R$ 5,0 bilhões abaixo dos R$ 9,8 bilhões, R$ 6,3 bilhões e R$ 7,4 bilhões de Janeiro, Fevereiro e Março, respectivamente), com a maior aproximação de uma possível queda de juros no Brasil. A alocação média dos fundos locais está hoje em 9,4%, sendo o menor patamar desde maio de 2021:
6 - Temporada de resultados do 1T23 em linha com as projeções, com destaque das empresas domésticas: 32% das empresas reportaram resultados acima do esperado, 27% abaixo e 41% em linha. Destaque positivo para as empresas domésticas (ex bancos e commodities), que apresentaram receita, lucro e margem operacional acima do esperado, conforme a tabela:
Setorialmente, tivemos uma excelente performance das ações mais sensíveis aos juros, com destaque às altas de Educação (+55,3%), Construtoras (+27,4%) e Varejo (+13,9%). A alta do Ibovespa poderia ter sido maior, se não fosse as quedas de -9,6% dos papéis de siderurgia (dados mais fracos de China e correção dos preços das commodities metálicas) que detém grande participação no Índice.
Uma forma mais clara de observar a boa performance dos papéis domésticos é analisando o Índice de Small Caps, que detém uma carteira de cerca de 80% de ações domésticas (sendo 33% Consumo Básico/Discricionário) contra apenas 40% do Ibovespa que possui maior concentração em Commodities e Bancos (apenas 10% do índice em Consumo Básico/Discricionário). Enquanto o IBOV subiu 3,7% em maio, a alta do SMLL foi de 13,5%. Importante elencar que mesmo com a forte alta, ainda vemos potencial relevante de alta dos papéis, que seguem negociando com múltiplos descontados e bem abaixo dos preços passados - mediana da queda de todas as 119 ações do SMALL foi de -64%, enquanto que a mediana de alta desde as mínimas foi de +47%.
Para o mês de junho no cenário local, entendemos que o principal evento que ditará a performance dos papéis será: (a) a discussão da reforma tributária e (b) o posicionamento do Banco Central frente aos dados de atividade divulgados. Tais eventos impactam estruturalmente a curva futura de juros, o que entendemos que hoje seja o grande trigger de alta para o Ibovespa – vide correlação abaixo:
Mesmo após a forte alta dos papéis nesse segundo trimestre, o valuation do Ibovespa segue no maior desconto dos últimos 13 anos, oferecendo certa margem de segurança de entrada em bons ativos visando o longo prazo. O Ibovespa negocia hoje 9,2x P/E 12M ex Vale e Petro, desconto de cerca de 26% frente à média histórica de 19 anos de 12,4x. Olhando para o prêmio de risco, medida para comparar os rendimentos dos ativos contra as taxas de juros reais de 10 anos (principal métrica para avaliar a atratividade da bolsa frente a renda fixa), o nível encontra-se em 5,4% contra uma média histórica de 2,8%, indicando mais um desconto e possibilidade de apreciação da bolsa (dois primeiros gráficos abaixo) – reforçando aqui um duplo potencial de alta, considerando que a própria NTN-B negocia a um spread acima da média histórica.
A partir da maior probabilidade da aproximação do cenário de ciclo de corte de juros já no início do segundo semestre, vemos uma ótima janela para entrar ou elevar a participação em ativos ligados à economia doméstica dentro da parcela de renda variável local. Setores como Transporte/Infraestrutura, Consumo, Shoppings e Construção possuem maior sensibilidade e historicamente outperformam o índice em tais ciclos, focando em empresas líderes de mercado, com fortes vantagens competitivas, forte geração de caixa, crescimento de dois dígitos de receita/lucro nos próximos 3 anos e grande potencial de consolidação de mercado. Ao mesmo tempo, casas de análise vêm revisando pela segunda vez no ano a projeção do Ibovespa em 2023 para cima, para cerca de 130 mil pontos (cerca de 20% de upside).
Em maio, o IFIX (Índice de Fundos Imobiliários) seguiu o desempenho positivo apresentado no mês anterior, apreciando 5,43% na janela, revertendo a trajetória de baixa performance que caracterizava o ano até então, acumulando 5,10% em 2023 (frente a -0,22% até o mês de abril). Nesse mesmo período, obteve uma liquidez média ponderada de R$ 3,91 milhões, com um dividend yield anualizado de 11,2%.
Em contraste com o mês prévio, no qual também se observou desempenho positivo do índice, o resultado dos últimos trinta dias foi atrelado a boa performance das duas classes de fundos que compõem o benchmark, os fundos de ativos fixos (tijolo) e os fundos de recebíveis (papel), enquanto em março a alta foi muito mais caracterizada apenas pela recuperação dos fundos de tijolo.
Com relação ao motivo, se destaca o acumulado de notícias positivas, que deu fôlego aos investidores a retornarem aos fundos imobiliários. O movimento de forte queda das taxas de juros futuras gerou uma apreciação de 4,6% nos Fundos de Tijolos (de acordo com o índice Teva de FII's de Tijolo), o qual não foi o suficiente para diminuir o prêmio de risco sobre os títulos públicos, que continuam acima da média histórica de 290bps.
Já os Fundos de Papel, tiveram um proveito melhor, obtendo um retorno de 6,4% (de acordo com o índice Teva de FII’s de Papel). Com o destaque para essa classe sendo a recuperação de fundos High Yield – frente ao fechamento da curva – e fundos como Hectare (HCTR11), Devant (DEVA11) e Versalhes (VSLH11), que encerraram o mês de maio com valorizações de dois dígitos, recuperando parte das perdas anteriores causadas por inadimplências em algumas operações. Além disso, uma decisão judicial favorável anunciada contribuiu para o bom desempenho dos fundos, os quais não vão mais precisar devolver o fluxo de recebíveis e poderão executar as garantias previstas nos termos de securitização.
Olhando para o panorama geral da indústria, os fundos imobiliários continuam descontados no agregado, com o IFIX apresentando na média um desconto de 12% entre o valor de mercado e o valor justo da cota patrimonial. Assim, com diversos fundos continuando a apresentarem janelas atrativas de entrada.
Todavia, olhando para as oportunidades de risco x retorno, os fundos de ativos físicos apresentam em sua grande parte, apenas oportunidades de ganho de capital, através da recuperação dos valores de mercado. Enquanto isso, os fundos de recebíveis, apresentam em sua grande parte, oportunidades interessantes de valorização somadas ao carrego do portfólio, dado sua alta distribuição de dividendos em comparação às demais classes de fundos. Um exemplo claro é quando realizamos o comparativo dos dividend yields, com o segmento de papel possui uma distribuição de 13,7%, enquanto as classes de tijolo permanecem abaixo de 9,5%.
Observando o mercado secundário, os spreads sobre os títulos públicos seguem superando a média histórica, continuando a apresentar uma janela interessante de entrada em fundos de dívida.
Com base nisso, em nossa estratégia de alocação, seguimos preferenciando as alocações no segmento de Recebíveis por entender que: (i) sejam uma classe mais defensiva, outperformando o IFIX, os fundos de tijolo desde e CDI desde 2020, apesar da baixa no ano (fundos de tijolo só superam os de dívida em janelas de bull market e, em geral, apresentam menor volatilidade); (ii) Yields mais atrativos mesmo em um cenário de corte de juros e desaceleração inflacionária, com a Selic estimada em 12% e inflação de 6% para o fim do ano, diversos fundos corrigidos pelo CDI e IPCA, mais taxas prefixadas,vão seguir rendendo dois dígitos; (iii) desconto de valor de mercado em relação ao valor patrimonial (VP/VM abaixo de 1,0x ) em fundos high grade (focados em dívidas com baixo risco) e high yield com perfil de risco controlado (como MCCI11 e RECR11).
Em maio, o índice IHFA subiu em linha com o mês de abril, +0,81%, enquanto no ano acumula alta de +2,45% e em 12 meses 7,08%, com a classe de multimercados rodando, em média, bem abaixo do CDI em 2023 e na janela de 12 meses. De forma geral, todas as subclasses performaram, na média, no campo positivo, com destaque para as subclasses de L&S Neutro e Total Return, que seguiram, na média, a valorização da bolsa de +3,74%, já que possuem uma exposição líquida à bolsa mais relevante (nos fundos Total Return).
Ao longo do mês observamos o mercado offshore aliviando as tensões do setor bancário americano. Além disso, tivemos dados de inflação e atividade nos EUA que vieram mais fortes, provocando abertura das curvas e um fortalecimento do dólar ao longo do mês, além da queda marginal das bolsas globais, porém, não impediu diversos gestores da indústria de terem ganhos em posições nas curvas de juros ao redor do mundo. No Brasil, o cenário foi mais positivo com o avanço do arcabouço fiscal e dados de inflação melhor que as expectativas de mercado, favorecendo para o fechamento das curvas de juros e apreciação dos ativos de risco.
Em nosso universo de análise, cobrimos um total de aproximadamente 149 fundos, dos quais separamos em cinco subclasses: multimercados estruturais, dinâmicos, descorrelacionados, long&short neutro e long&short direcional/total return. Todas as categorias apresentadas acima apresentaram, na média, retornos positivos ao longo do mês passado. A subclasse com melhor desempenho foi a de Total Return, com retorno médio de 2,96% e mediana de 3,25%, já que tal subclasse possui uma exposição líquida superior a 20% em bolsa, que valorizou +3,74% ao longo do mês.
Na sequência, vale o destaque para a subclasse de Long & Short Neutro, que apresentou, na média, retorno positivo de 1,85%, com mediana de 1,74%. Classificamos tais fundos como aqueles que possuem net de exposição líquida entre -20 e 20%, independente dos mercados de atuação.
A subclasse dos multimercados Macro Dinâmicos fechou o mês com valorização média de 1,39% e com mediana de 1,16%. Entendemos tal subclasse sendo parecida com a de macro estrutural, porém possuem maior giro de carteira e focam em horizonte de investimento mais curtos, com prazos médios de 3 a 6 meses. Já os Macro Estruturais tiveram uma performance um pouco pior, subindo, em média, 0,62% e com mediana de 0,73%. Em nossa classificação, são caracterizados por estratégias que apresentam teses de longo prazo e que possuem baixo turnover de portfólio.
Por fim, fundos descorrelacionados, pelos quais classificamos em três diferentes frentes: quantitativos, event driven e sistemáticos, na média, ficaram mais no zero a zero, com retorno médio da subclasse em -0,03% e mediana de 0,05%
Vale dizer que em nosso radar de cobertura temos: 23 fundos descorrelacionados, 46 fundos dinâmicos, 29 fundos macro estruturais, 18 fundos long&short direcional/total return e outros 20 fundos classificados como long&short neutros.
No mês de maio, as condições macroeconômicas continuaram a contribuir para a redução do estresse dos ativos domésticos. O Brasil caminha para seguir à frente do ciclo de política monetária do mundo, enquanto nos EUA a discussão atual se dá entre um eventual encerramento do aumento da taxa de juros, com possibilidade de aumento de 25bps, por aqui o mercado cada vez mais começa a precificar corte de juros na reunião do Copom do próximo dia 21.
O mês foi marcado por um fechamento expressivo nos pontos intermediários e longos da curva DI. O vértice de janeiro de 2030 encerrou o mês fechando 84bps, muito similar aos vértices mais intermediários de 2026 e 2027 que fecharam, respectivamente, 85bps e 88bps no mês.
A aprovação do Arcabouço Fiscal no congresso, contou com modificações importantes no texto original que tiveram papel significativo na queda das taxas de juros, especialmente nos prazos mais longos. Importante ressaltar que a leitura do mercado não é de que o marco tem o melhor desenho possível, entretanto, adequando às expectativas e tendo em mente que historicamente o crescimento real médio das despesas de 1997 a 2015 foi na ordem de 6,0% a.a., os atuais 2,5% a.a. propostos parecem ser um indicativo de que o país conseguirá cumprir seu dever de casa, por mais apertado que esteja.
Ao longo do mês, observamos surpresas positivas do lado da atividade que surpreendeu com a divulgação do PIB do primeiro trimestre do ano avançando 1,9% (t/t) contra expectativa do mercado de 1,2% (t/t). Corroborando com a melhora do ambiente macroeconômico, o IPCA-15 de maio registrou alta de 0,51% m/m (4,07% a/a), muito abaixo da mediana das expectativas de mercado (0,64% m/m).
Por mais que a inflação ainda esteja persistente do lado de serviços, começamos a observar uma queda acentuada do índice como um todo, o que cria o pano de fundo perfeito para o cenário de corte de juros que os aliados do governo tanto pressionam o Banco Central. Ainda assim, Roberto Campos vem demonstrando seu pulso firme, dizendo que ainda é preciso ter mais certeza de que a inflação vai convergir à meta e ressalta a lentidão do ritmo do processo.
Dado o panorama, os títulos públicos em geral apresentaram um desempenho muito positivo pela marcação à mercado, especialmente aqueles com vencimentos mais distantes. O IMA-B 5 apresentou desempenho mais fraco no mês, rendendo apenas 0,57%, dando sinais de que o mercado já está precificando o limite da ponta curta da curva. Por outro lado, o IMA-B 5+ apresentou variação mensal de 4,13%, fortemente impulsionada pelo fechamento da ponta longa. Da mesma forma, o IRF-M 1+ subiu 2,85% enquanto o IRF-M 1 (com prefixados de vencimento inferior a um ano) apresentou desempenho mensal inferior a 1,14%. O reflexo do fechamento da curva na ponta mais longa fica evidente quando comparamos esses índices ao IMA-S (representando os pós fixados) que rendeu 1,21%.
O desempenho do mercado de crédito local em maio foi bastante descorrelacionado do mercado global. A começar pelos comportamentos distintos das curvas de juros que conduziram a performance dos ativos de crédito em direções opostas. Nos EUA observamos uma abertura relevante na curva, sobretudo nos vértices mais curtos – o rendimento do Treasury de 2 anos passou de 4,04% para 4,40% – refletindo um possível passo atrás do mercado em relação a expectativa de cortes no Fed Funds Rate ainda para esse ano. O discurso de Powell, ao elevar a taxa de juros básica da economia americana em 25 pontos-base para o intervalo entre 5,0% e 5,25% em tom hawkish, reforçou as preocupações do FOMC com o risco inflacionário. Somado a isso, o PCE – principal indicador de inflação utilizado pelo banco central americano – veio acima do esperado, resgatando os temores de inflação prolongada. Nos vértices intermediários e longos a discussão acerca do teto da dívida americana e um possível calote no curto prazo elevou o risco fiscal e acrescentou prêmio à curva. Mesmo com o desfecho positivo da discussão após a aprovação no senado da ampliação do teto, houve um impacto na percepção de risco estrutural do país elevando a projeção dos juros longos. A T-note de 10 anos teve rendimento passando de 3,44% para 3,64% enquanto a de 30 anos subiu de 3,67% para 3,85%.
O crédito corporativo como um todo foi afetado pelo movimento. Os títulos High Grade representados pelo Barclays Global Aggregate Index, recuaram 1,95%, passando a subir 1,44% no ano. Já a classe a classe High Yield (Barclays US Corporate High Yield Index) foi menos afetada, recuou 0,92% em maio e sobe 3,64% no ano. O balanço de risco que se faz é que a classe corporativa se tornou menos atrativa em relação a outras pela perspectiva de recessão no país a partir do fim do ano como cenário base e o impacto dos juros altos no custo da dívida das companhias. Os spreads, principalmente dos ativos high yield, não aparentam precificar esse risco, seguindo abaixo da média histórica. Por isso, por mais que seu carrego siga interessante, temos privilegiado fundos com estratégias híbridas que não dependam da classe para performar bem. O mercado imobiliário também sofreu com a abertura dos juros longos. O Dow Jones U.S. Real Estate Index caiu 4,15% e voltou ao campo negativo no ano (-2,86%).
Por outro lado, vemos estratégias de crédito estruturado apresentando excelente relação risco-retorno, (I) por contarem com uma cobertura sólida de garantias capaz de amortecer o aumento de inadimplência, (II) por majoritariamente ter indexação ao Fed Funds ou à Libor, garantindo assim, maior resiliência em momentos de estresse de crédito e (III) apresentarem spreads mais atrativos no momento. Como é o caso dos senior loans, representados pelo Morningstar LSTA US Leveraged Loan 100 Index, que recuou apenas 0,54% no mês e acumula 3,64% no ano.
Nos mercados emergentes, a performance foi afetada pelos dados mais fracos de recuperação chinesa afetando alguns setores. Os PMIs, as vendas de imóveis e dados de produção industrial frustraram as expectativas do mercado. O JP Emerging Markets Bond ETF (CEMB) recuou 1,42% e ficou próximo da estabilidade no ano. Na mesma linha, o JPM Ásia Credit Bond recuou 1,73% no mês e sobe 0,78% no ano.
Por outro lado, no Brasil o cenário foi bem diferente. Conforme ponderamos na carta anterior, o risco corporativo segue relativamente alto, com o patamar elevado de juros em que nos encontramos. Porém, em maio tivemos algumas confirmações importantes de que boa parte deste risco já foi incorporado ao valuation das companhias via correção dos spreads de crédito.
Com o noticiário micro um pouco mais calmo, sem novos nomes de grandes companhias entrando para a lista de chance real de default, pudemos observar os spreads de emissões pós-fixadas se estabilizando. O spread médio da indústria medido pelo JGP Idex Geral reduziu de 2,9% para 2,7% (retração de 16 pontos-base), representando assim um ganho de marcação para alguns papéis. O índice superou bem o CDI no mês (1,79% ou 160% do CDI) e retomou o campo positivo no acumulado do ano. De forma semelhante, o IDA-DI subiu 1,54% (137,5% do CDI).
Já os ativos de inflação se beneficiaram de um duplo fechamento. Além do forte fechamento nas taxas das NTN-Bs de referência, o spread médio da classe teve um ótimo rally. Com isso, o IDA-IPCA infraestrutura subiu 3,63% no mês e acumula 5,87% no ano. Era um movimento que havíamos antecipado nas cartas anteriores, até porque os spreads estavam próximos aos patamares da pandemia. Ainda consideramos uma boa janela de entrada para a subclasse, havendo espaço para aumentar a duration para algo em torno de 6 anos.
Para os prefixados, seguimos construtivos para duration próxima de 3 anos, dado que a curva nominal precifica 400 bps de corte até o final de 2024. Por outro lado, a oferta de bancários com taxas atrativas está mais restrita.
Os fundos líquidos de crédito, que concentram boa parte de suas carteiras em debêntures, voltaram a performar acima do CDI na janela mensal, algo que só foi possível pelo impacto mais contido do fluxo de resgates da indústria (ainda que existente).
O movimento que esperamos ver na sequência desse arrefecimento de resgates é a retomada do mercado primário. Em maio já foi possível observar um volume maior de ofertas incentivadas (destinadas a Pessoa Física), porém o mercado institucional ainda apresenta demanda reduzida.
Caso queira saber mais sobre nossos serviços clique aqui para entrar em contato
Este conteúdo tem propósito exclusivamente informativo e se baseia em dados estatísticos, metodologias probabilísticas, fatos concretos do mercado financeiro e em resultados financeiros apurados e nas conclusões da MMZR Family Office considerando o perfil de clientes que se adequem aos ativos e estratégias que compõem as carteiras apresentadas acima. Em nenhum momento, o conteúdo desta mensagem representa recomendações de investimento financeiro de qualquer natureza.
Para obter uma recomendação de investimento personalizada da MMZR Family Office acesse nosso site mmzrfo.com.br e entre em contato conosco.