Carta Mensal Maio 2022

Cartas Mensais

RESUMO MAIO

Principais indicadores:

Locais: CDI +1,03%, Ibovespa +3,22%, Prefixados (IRF-M) +0,58%, Ativos IPCA (IMA-B) +0,96%, Imobiliários (IFIX) +0,26%, Dólar (Ptax) -3,87%, Multimercados (IHFA) +2,08%

Internacionais: MSCI AC: -0,13%, S&P 500 +0,01%, Euro Stoxx 600 -1,56%, MSCI China +1,18%, MSCI EM +0,14%, Ouro -3,69%, Petróleo +9,53% e Minério de ferro -0,94%

MACRO

O mês de maio foi marcado por uma alta volatilidade nos preços dos ativos, mas dessa vez sem trazer necessariamente um resultado negativo nos portfólios globais e locais. Vimos o S&P operar próximo da estabilidade no final do período, mas oscilando entre -7% e 1% na janela mensal. Os dados econômicos já trouxeram a expectativa de um nível de atividade mais fraco e aos poucos o mercado foi apostando em um juro nominal não tão alto nos EUA, com uma inflação já no pico. Por fim, no Brasil tivemos um bom desempenho da bolsa e forte apreciação do real frente ao dólar. Seguem as atualizações dos temas globais considerados como os mais importantes na visão do nosso Family Office:

INTERNACIONAL : Update do conflito entre Russia e Ucrânia, a Covid na China e o risco de recessão global

  • Atualizações do conflito entre Rússia e Ucrânia :

    O mês de maio foi marcado pela intensificação do confronto em território ucraniano e principalmente pela piora na relação da Rússia com o ocidente. Logo no início do mês, observamos falas do ministro russo Sergei Lavrov e do próprio Presidente sobre o possível uso de armas nucleares e de um sério risco de uma terceira guerra mundial.

    A contínua piora da relação russa com os países ocidentais intensificou a sequência de embargos e rompimento de contratos comerciais. Do lado russo, logo no início do mês, o país cortou o fornecimento de gás à Polônia e Bulgária, fato que se estendeu a outros países em um segundo momento. Do lado ocidental, a Europa seguiu ajudando a Ucrânia através do envio de armamentos e respaldo financeiro. A Alemanha, por exemplo, mudou de postura de forma importante e começou a enviar armamentos de primeira linha ao país ucraniano, além de logo no início do mês afirmar que não se oporia ao pacote de embargo ao petróleo russo, fato este que ocorreu no fim do mês com aprovação da UE e isenção à Hungria.

    No mais, observamos ao longo do mês de maio os primeiros avanços da entrada da Suécia e Finlândia na OTAN, com amplo apoio dos países pertencentes ao bloco, com exceção da Turquia. A oficialização dos pedidos de entrada no bloco foi mal recebida em Moscou, que retaliou a Finlândia através do corte de energia elétrica ao país e prometeu o corte no fornecimento de gás. Vale dizer que 10% de todo consumo de energia elétrica finlandês era oriundo da Rússia.

    Vale ainda dizer que, tivemos eventos importantes ao longo do mês passado, como a parada militar no dia da Vitoria Russa, que celebra o fim da segunda guerra mundial e a vitória da URSS contra o partido nazista, no dia 9 de maio de 1945. O discurso de Putin no dia foi amplamente esperado pelo mercado, aguardando uma eventual escalada de tensões entre Rússia e Ucrânia, fato este que não ocorreu.

    Mais a frente durante o mês, avançou no senado dos EUA o projeto de ajuda financeira de mais de US$40bi, enquanto o G7 mobilizou outros quase US$20bi para envio aos ucranianos. Ainda na frente de ajuda, Reino Unido, Dinamarca e Noruega firmaram acordo para defender a Suécia e a Finlândia mesmo antes dos dois países entrarem na OTAN.

    Por fim, com aproximadamente 100 dias após o início da guerra, o conflito tem se concentrado ao lado leste da Ucrânia e, ao menos por enquanto, não houve grandes tratativas de paz entre os países inseridos na disputa. Ao passo que Zelensky ainda afirmou não concordar em ceder território aos russos. Na Rússia, houve corte de juros em reunião extraordinária e agora o país possui taxa de 11% a.a. vs. 20% a.a. logo no início do conflito.


  • Há realmente um risco de recessão global? Sem conseguir responder essa pergunta da última vez, resolvemos deixar o mesmo tema para essa carta mensal. A verdade é que muitos dados econômicos foram apresentados em maio, trazendo uma probabilidade maior, na nossa visão, para um cenário de Soft Landing nos EUA. Ou seja, talvez não seja necessário um choque de juros tão altos e não será preciso forçar (de maneira agressiva) a economia americana para uma recessão.

    Começando pelos EUA, vimos o PIB americano do 1°tri ser revisado para -1,5% (pior do que o esperado), os dados de PMI com certo desaquecimento em alguns setores, as vendas de moradia em queda e a inflação em linha com o esperado. Além disso, o resultado trimestral das empresas em vários setores já demonstraram dificuldades para lidar com a inflação dos custos e reportaram margens mais apertadas em diversos setores. Na nossa visão, todos os pontos trazem um certo alívio para a análise de espiral inflacionária fora do controle. Dessa vez, foi possível sim verificar o impacto nos dados e as apostas do mercado para altas de 75bps foram aos poucos sendo reduzidas. Importante lembrar que o FED subiu os juros em 50bps na reunião de maio e iniciou o processo de redução do seu balanço, vimos também uma clara mudança no tom dos membros do FED visando conter as projeções de recessão que dominaram o noticiário e de um choque de juros tão agressivos a partir dos dados que foram sendo divulgados.

    O mundo segue em ajuste monetário, com exemplos como a Coreia do Sul subindo 25bps (+1,75), o Peru subindo 50bps (+5,00), a Africa do Sul subindo 50bps (+4,75), e a Nova Zelândia subindo 50bps (+2,00). O BoE também voltou a subir 25bps no mesmo dia do FED. A Europa segue “atrasada” no movimento, mas com a mensagem clara de que iniciará o seu ciclo de aperto em julho, após novas surpresas nos dados de inflação na Zona do Euro.

    Sobre a China, a estratégia de covid-zero trouxe certo alívio ao mercado após novas flexibilizações anunciadas. Seguimos acompanhando de perto a capacidade da região de destravar parte da cadeia de produção global e de aos poucos voltar a apontar para um crescimento mais robusto. O governo chinês segue anunciado novas medidas de estímulos, com destaque para um corte nas taxas de empréstimos de 5 anos e descontos de impostos em diversos setores. Os dados de PMI no curto prazo seguem decepcionantes e muitas casas já revisaram o crescimento do PIB para algo mais próximo de 3,5% em 2022, muito abaixo dos 5,5% de meta.

BRASIL: A privatização da Eletrobrás avança e a atividade segue surpreendendo

Após um longo período de discussão no TCU, a Eletrobras está pronta para ser privatizada. O avanço deve contar com boa parte do mercado na oferta via B3, além do estrangeiro que já havia demonstrado bastante interesse em participar do evento.O governo ainda tenta ao menos iniciar o projeto da reforma tributária, mas encontra dificuldades em votar no congresso em uma data tão próxima das eleições. Dentro do que se pode fazer em um ano eleitoral, acompanhamos diversos anúncios micro como corte do IPI, pacote de linhas de empréstimos para pequenas e médias empresas e utilização do FGTS pela população. A atividade segue muito forte, com dados surpreendentes na arrecadação fiscal, nos dados de emprego e em alguns índices de confiança. Devemos ter a confirmação de um PIB acima de 1% como consenso pelos economistas no curto prazo, podendo ser até mais surpreendente à medida que os dados são divulgados.

Sobre a inflação, esse segue sendo o ponto de atenção do BC. É verdade que o tema é preocupante para o mundo todo e tivemos um ciclo de ajuste muito antes dos países desenvolvidos, mesmo assim devemos ter que subir a Selic para algo acima dos 12,75% já anunciados, possivelmente discutindo cortes já no segundo trimestre do ano que vem. As expectativas da inflação chegaram a bater dois dígitos para alguns economistas, mas com a provável decisão de teto de ICMS para preços administrados, devemos ver um alívio para trazer os dados para algo mais próximo de 8,5%.

Dessa vez, não é mais sorte do que juízo. O Brasil segue bem posicionado entre os emergentes para trazer resultados mais expressivos na sua economia mesmo em um ano eleitoral. Eleições essas que já sacramentam Lula vs Bolsonaro no segundo turno, com a terceira via sem chances de se organizar direito e trazer um candidato à altura da disputa presidencial. Estamos atentos às novas estratégias do atual presidente para tentar reverter a sua rejeição, que é próxima de 60%, e em como será capaz de converter votos da oposição para ele daqui pra frente. É importante ressaltar o grande momento da sua campanha quando comparado com o final do ano passado.

CARTEIRAS E POSICIONAMENTO

Optamos por não realizar alterações nas carteiras locais e internacionais. Conseguimos fechar o mês com um desempenho razoável para as carteiras locais (em meio a tanta volatilidade) e mais estável para a carteira internacional. Para essa segunda, sabemos que o ano segue bem desafiador em termos de performance, mas convictos de que no longo prazo os modelos apontam para excelentes resultados anuais mesmo considerando esses cinco meses mais negativos. Agradecemos a confiança e seguiremos sempre próximos para garantir uma melhor leitura de cenário e transparência nas comunicações com os nossos clientes.

Sendo assim, estamos:

(i) otimistas com o carrego das posições em CDI de duration até 4 anos, IPCA para uma duration intermediária (entre 4 e 6 anos) e agora com uma maior proporção em ativos prefixados de duration curta (entre 3 e 3,5 anos);

(ii) confiantes com a capacidade dos fundos de Retorno Absoluto em gerar alfa, ou seja, capturar via gestão ativa as estratégias de bolsa, commodities, arbitragem, juros e moedas internacionais, etc;

(iii) com a posição neutra em Renda Variável local, sem deixar de ter a classe de ativo, mas não tão otimista com a relação risco-retorno;

(iv) neutros em posições de bolsas globais, aumentando aos poucos posições que foram reduzidas pelas quedas, mas sem enxergar uma relação risco-retorno clara para aumentos acima da alocação base;

(v) neutros para Fundos Imobiliários, praticamente zerando todo o portfólio de tijolo para ativos de recebíveis diretamente, porém já enxergando um potencial mais tático em alguns fundo de fundos devido ao nível de preços; e

(vi) otimistas com as oportunidades em empresas fora do ambiente de bolsa, via bons gestores da indústria de Private Equity e Venture Capital.

RENDA FIXA : JUROS NOMINAIS E REAIS (PRÉ-FIXADO / INFLAÇÃO)

Durante o mês de maio, a persistência da incerteza inflacionária no Brasil e no mundo trouxe volatilidade aos títulos de juros nominais e reais. Como era esperado, o Copom optou por elevar a Selic em 100 pontos-base a 12,75% – a 10ª alta consecutiva desde março de 2021 e a mais longa da série histórica. A Ata do Copom de maio não trouxe novidades significativas, apenas reforçou a visão do comunicado de que a deterioração na dinâmica de inflação tem prejudicado as projeções mais longas e, portanto, fica indefinido o cenário de elevação para a reunião de junho. Ela também levantou o debate sobre como a inflação elevada tem contaminado as expectativas de longo prazo além do esperado, o que gera preocupação com as expectativas de 2024. O IPCA-15 voltou a surpreender os agentes de mercado que acreditavam em alta de 0,45% em maio. A leitura foi de 0,59% no mês e, em 12 meses, de 12,20%. Ainda assim, houve uma desaceleração relevante nos preços de habitação (-3,85%) e de energia elétrica (-14,09%) e uma sinalização de que a pressão sobre os preços de combustíveis comece a arrefecer. Apesar do relatório Focus do Banco Central não estar sendo divulgado devido a greve dos servidores, tivemos a leitura do Focus XP elevando a expectativa do IPCA deste ano para 8,80%. A SeIic terminal prevista é de 13,25%, mas algumas casas consideram alta adicional para 13,75%. A curva precificava ao final do mês 0,5% de alta para a reunião do Copom do dia 15 de junho e 0,25% para a reunião do dia 03 de agosto.

O impacto dos dados de inflação mais forte fez com que as taxas de juros subissem ligeiramente no mês, principalmente nos vértices mais curtos, se traduzindo em um movimento de achatamento da curva. Porém, o movimento foi mais brando do que nos últimos meses e o nível de juros altos fez com que os ativos de juros reais e nominais encerrassem no campo positivo. O IRF-M apresentou alta de 0,58% e acumula valorização de 1,60% ao longo dos últimos 12 meses. A performance do IMA-B já foi mais próxima dos ativos atrelados à Selic, com alta mensal de 0,96% e alta em 12 meses de 4,59%.

CRÉDITO CORPORATIVO

Os juros altos seguem beneficiando o carrego dos ativos de crédito corporativo. O JGP Idex, representativo das debêntures da indústria, acumula alta de 5,5% no ano, sendo 1,27% em abril (122,5% do CDI). Os spreads médios dos títulos de crédito corporativo que compõem o índice apresentaram fechamento de 5 pontos-base a 1,65%, garantindo um certo ganho na marcação a mercado. Os spreads aparentam ter se estabilizado nos últimos meses em um patamar saudável para o mercado, acima do nível pré-pandemia. Por um lado, a proximidade das eleições pode reduzir o bom volume de emissões que estamos vendo no primeiro semestre e, consequentemente, provocar um fechamento de spreads nos próximos meses por um movimento mais técnico de redução de oferta de títulos. Por outro, a expectativa de estabilização dos juros e um cenário de corte a partir do ano que vem pode reverter o fluxo intenso de migração para renda fixa e provocar o movimento inverso. Portanto, a menos que tenhamos uma deterioração expressiva do cenário fiscal ou uma grande surpresa inflacionária, é difícil imaginar os spreads fugindo desse range.

O movimento expressivo de captação dos fundos renda fixa visto nos últimos meses já apresenta sinais de estabilização. Em maio houve inclusive uma saída líquida de recursos dos fundos da classe na ordem de 2,7 bilhões de reais, segundo levantamento realizado pela Anbima (data de referência: 27/05). O volume líquido captado nos últimos 12 meses para esta classe de fundos totaliza 236,6 bilhões de reais, sendo mais da metade disso para a subclasse de Renda Fixa Simples.

O IPCA-15 acima das expectativas manteve a inflação implícita em nível elevado ao longo de todo o mês. A Estrutura a Termo da Taxa de Juro (ETTJ) estimada pela Anbima aponta para inflação anual média de 6,37% nos próximos 3 anos, um pouco acima do nível observado no mês anterior. Os ativos atrelados à inflação com duration curta tiveram uma performance pior, porque a perspectiva do carrego nos próximos meses reduziu diante de algumas medidas pautadas pelo governo para conter o avanço dos preços, como a nova redução do limite do ICMS em 17%. No longo prazo, nossa visão positiva para a classe se mantém inalterada. Reforçamos que as melhores oportunidades estão nos vértices intermediários (2025 a 2030) com foco na manutenção das posições até próximo do vencimento. Apesar da leve abertura das taxas de juro real, os ativos de crédito privado atrelados à inflação apresentaram boa resiliência e se beneficiaram do IPCA ainda elevado. O IDA-IPCA apresentou alta de 1,14% em maio e acumula alta em 12 meses de 9,51%, bem acima dos 4,59% do IMA-B.

Os ativos pós-fixados, seguem como ótima opção de carrego e têm entregado rendimentos consistentes.  Em maio, o IDA-DI apresentou alta de 1,23% e acumula 10,46% em 12 meses. Apesar da uma tendência de redução de juros no ano que vem e dos spreads de crédito estarem estáveis, a parcela CDI ainda é a que possui melhor relação risco-retorno. Seguimos concentrando alocações via ofertas primárias e fundos de crédito com prazo de resgate intermediário.

Nosso call tático em ativos prefixados se mantém inalterado. Nesse caso, temos utilizado principalmente papéis bancários com risco coberto pelo FGC. Em maio a abertura das taxas futuras favoreceram mais alocações com retorno bruto acima de 14,5% ao ano. Dado as incertezas em relação ao prolongamento do ciclo de estabilização dos juros que está por vir, temos conforto somente em posições com vencimento entre 3 e 4 anos.

RETORNO ABSOLUTO

O índice IHFA avançou 1,10% ao longo do mês de maio e acumula alta de 8,75% ao longo de 2022. O retorno da classe pode ser visto em todas as cinco subcategorias que designamos dentro da indústria de multimercados (macro estrutural, macro dinâmico, descorrelacionados, long&short neutro e long&short direcional/ total return).

O destaque do mês foram os fundos macro dinâmicos, que dentro do nosso universo de cobertura de fundos multimercados da indústria, envolvendo mais de 130 fundos, tiveram um retorno médio de 1,02% com mediana em 1,19%. Em seguida, observamos desempenho dos macroestruturais com retornos médios positivos de 0,84% e mediana em 0,55%. Fundos descorrelacionados (quantitativos, sistemáticos e event driven) obtiveram retorno médio de 0,60% com mediana em 0,42%. Com resultados próximos, os long&short direcional/total return registraram alta média de 0,62% e retorno mediano de 0,82%. Por fim, os veículos long&short neutros obtiveram retorno na média de 0,72% com mediana em 0,65%.

*Dados do IHFA até o dia 27/05


RENDA VARIÁVEL LOCAL

Após forte queda em abril (-10,1%, maior correção desde o início da pandemia), o Ibovespa aliviou perdas e encerrou maio em alta de 3,22% (+7,8% em dólares) aos 111,4 mil pontos, mantendo o posto de uma das melhores bolsas globais em 2022 em dólares (gráfico abaixo).


Sustentado pela alta das ações de commodities e bancos, que hoje representam cerca de 60% da composição, destacamos os seguintes fatores no mês:

  1. O mercado começou a digerir melhor o aperto monetário nos Estados Unidos, após o Federal Reserve indicar um ritmo de aumento em 0,5 ponto percentual na taxa de juros americana para as próximas duas reuniões – um alívio frente às expectativas mais pessimistas que previam um reajuste de 0,75 ponto percentual já no próximo encontro;
  2. Início do processo de reabertura parcial da China interditada pela política de zero covid, aumentando o apetite ao risco dos investidores globais e reacendendo demanda por commodities;
  3. Fim de temporada de resultados referente ao 1T22 no Brasil, com 44% das empresas reportando resultados acima do esperado e somente 15% negativos, reforçando a tese de que apesar de um cenário macro desafiador, no micro as empresas vêm reportando resultados recordes;

Apesar da boa performance, vimos a partir de abril um movimento de fluxo de capital negativo pelos estrangeiros, com saídas de R$ 7,7 bi em abril e R$ 9,0 bi em maio, interrompendo aportes sucessivos no primeiro trimestre de R$ 61,4 bi. Olhando para o valuation, hoje o Ibovespa a um múltiplo P/L (Preço/Lucro) projetado ao final do ano em 9,5x, um desconto de quase 2 desvios padrões abaixo da média histórica. Olhando para o prêmio de risco, medida para comparar os rendimentos dos ativos contra as taxas de juros reais, o nível encontra-se em 4,8% contra uma média histórica de 2,6%, indicando mais um desconto e possibilidade de apreciação da bolsa (gráficos históricos abaixo). Dois pontos que contribuíram para uma nova alta seriam: (a) resultados de empresa acima das estimativas atuais e/ou (b) juros reais mais baixos vindos de um controle inflacionário. Quanto aos principais riscos, (a) deterioração do cenário fiscal local e/ou (b) movimento de aversão ao risco global com juros de longo prazo americanos em patamares maiores do que o projetado.

Juros reais encerraram maio em 5,72%, patamar extremamente elevado, indicando significativos riscos políticos e fiscais. Um maior comprometimento fiscal do próximo candidato presidencial sustentaria fortes altas nos ativos de renda variável. BTG divulgou estudo colocando que a cada redução de 100bps no custo de equity das empresas (ke, medido pelos juros futuros longos), o preço alvo dos papéis subiriam em 15% na média – nos cenários base, estimam Ibovespa entre 140-165 mil pontos, implicando upside de 25-48%. Do nosso lado, seguimos positivo no cenário local via stock picking, no qual entendemos que existem as maiores assimetrias e possibilidades para superar não só o Ibovespa, como também o custo de capital.

A carteira MMZR de ações teve uma performance de -3,0% em maio, contra +3,2% do Ibovespa no mesmo período. Ao longo do mês, alteramos o perfil da carteira a um direcionamento mais defensivo, retirando os papéis de Rede D’Or, Natura e redução de 3R após alta de quase 50% no ano, adicionando Equatorial (10%), Petrobras (10%) e Itaú (5%). Setores elétricos, Oil & Gas e Bancos possuem múltiplos menores e entendemos que conseguem surfar o ambiente atual com maior eficiência e segurança, todas elas apresentando níveis excelentes de geração de caixa, TIR Implícita de 2 dígitos e dividendos relevantes.  No mês, os maiores detratores foram os papéis com múltiplos mais elevados (Petz em -20,4% e Weg em -4,9%), puxados pelas incertezas quanto ao movimento dos juros futuros e aversão a risco global. Do lado positivo, destaques para Suzano (+9,7%) que volta ficar em evidência com a alta do preço da celulose e queda dos estoques, além de BTG (+9,7%) que apresentou resultados sólidos em todas as linhas de receita no 1T22, acima de seus pares.

RENDA VARIÁVEL GLOBAL

A volatilidade dos mercados acionários globais se manteve bastante elevada nos primeiros 20 dias de maio, o que fez com que o S&P 500 atingisse a marca de 3.858,9 pontos em determinado momento, representando uma queda de 20% desde o pico em janeiro e consequentemente marcando o pior início de ano para o índice desde 1939. Na última semana, os mercados viraram e apresentaram uma forte alta, com o S&P 500 revertendo para o campo positivo no mês e interrompendo a sequência de 7 semanas em queda. Olhando para performance por setor do índice, destaque novamente para as empresas do setor de energia, acumulando alta de 16,0% em maio e alta de 57,1% no ano, impulsionado pela alta do preço da commodity. No campo negativo, 4 dos 11 setores encerraram o mês com mais de 4% de queda: consumo discricionário (-5,1%), imobiliário (-5,1%), aéreo (-4,6%) e consumo não discricionário (-4,1%). O mês foi marcado pela divulgação de resultados da segunda metade das empresas do S&P 500 e no consolidado 77% das empresas superaram as expectativas de lucro, 73% superaram as expectativas de receita e o crescimento anual consolidado dos lucros tem sido de 9,2% (previsão no final de março era de 4,6% de crescimento). Em termos de múltiplos, a queda das ações corrigiu o Preço/Lucro do índice (17,1x) para abaixo da média dos últimos 5 anos (18,6x) e em linha com a média dos últimos 10 anos (16,9x).

Na Europa, os índices encerraram o mês de maio mistos, também passando por alta volatilidade durante grande parte do período e aproveitando o rally na última semana para recuperar as perdas. Destaque para as ações da Bolsa de Frankfurt, com o índice Dax apresentando alta de 2,1% no mês e surpreendendo positivamente levando em conta que é a região mais dependente da Rússia e a relevância de setores cíclicos na composição (industrial, material e Consumo discricionário). Por outro lado, o índice amplo da Europa (Stoxx 50) encerrou o mês com leve queda de 0,4% e acumula 9,4% de baixa. Já as ações de Londres (que se encontram em patamares descontados em comparação com outros países desenvolvidos) subiram 0,8% e em Paris o índice caiu 1,0%. Na Ásia, os principais índices acionários voltaram a apresentar retornos positivos, mesmo em meio às medidas restritivas para contenção do coronavírus, impacto nas cadeias de suprimento e revisões baixistas para economia chinesa. O índice CSI300 subiu 1,9%, o HK50 subiu 1,5% e o SSEC subiu 4,6%. No Japão, o Nikkei 225 valorizou 1,6% e acumula queda de 5,3% no ano.

A carteira de ações globais da MMZR apresentou uma queda de 0,9% contra uma queda de 0,1% do MSCI Global. A ação que mais contribuiu para a performance foi a do banco JP Morgan (10,8%), que apresentou uma alta acima das ações do setor financeiro (+2,8%) dado o tom otimista do CEO Jamie Dimon durante o investor day. Os executivos do banco citaram a resiliência econômica e a performance positiva no ambiente de crédito, revertendo as estimativas pessimistas no início do ano. Do lado negativo, as ações da Amazon foram detratoras para a carteira no mês, registrando uma queda de 3,3% refletindo os resultados divulgados no final de abril e sendo prejudicada pela força vendedora das grandes empresas de tecnologia, que vêm sofrendo de forma significativa esse ano. Na reta final da divulgação de resultados das empresas que compõem a Carteira, tivemos a divulgação dos resultados da Disney (-1,1%) e da Alibaba (-1,1%). Apesar da empresa ter decepcionado em termos de receita (USD 19,3 Bilhões vs USD 20,0 Bilhões estimado) e lucro por ação (USD 1,08 vs USD 1,19 estimado), a Disney superou as expectativas no número de assinantes globais no Disney+ (uma das grandes apostas da empresa), reportando 137,7 milhões contra uma expectativa de 134,4 milhões. Ademais, a empresa manteve inalterado o objetivo de atingir entre 230 e 260 milhões de assinantes globais até 2024. Ainda no segmento de streaming a empresa aumentou o prejuízo operacional para USD 887 milhões, acima do registrado no ano anterior (USD 290 milhões). No segmento de parques, experiências e produtos, a empresa dobrou o faturamento para USD 6,7 Bilhões, impulsionado pelo aumento das viagens e reabertura econômica com avanço do processo de imunização.

No final do mês a gigante de e-commerce chinesa (Alibaba) divulgou seus números trimestrais, que, apesar de ter apresentando seu menor crescimento anual da história (+9%), a leitura pelo mercado foi boa, com faturamento e lucro por ação acima do consenso. O número de consumidores atingiu a marca de 1,31 bilhão, um crescimento anual de 47,4% e uma taxa de retenção de 98%, número bastante alto. Outro destaque positivo foi no braço de computação em nuvem, com faturamento crescendo 23% para USD 11,8 bilhões e atingindo lucro operacional positivo. No mês de maio, fizemos uma movimentação pontual na carteira, visando torná-la mais defensiva frente ao cenário mais incerto pela frente. Optamos por reduzir 5% da posição em Facebook e 5% da posição em Alibaba, dando espaço para uma entrada nas ações da Coca Cola com 10% de peso. Enxergamos a Coca Cola como uma empresa resiliente, com capacidade de repassar alta dos preços dado a baixa elasticidade da demanda, com portfólio global e uma marca extremamente valiosa. A empresa tem pago dividendos por 58 anos consecutivos, atualmente conta com um dividend yield de 2,8% e sua ação possui um Beta (sensibilidade com os movimentos de mercado) de 0,58 e suas ações sobem 7,0% em 2022.

FUNDOS LISTADOS

O IFIX (Índice de Fundos Imobiliários) reportou em maio uma alta de 0,26%, estendendo ganhos após alta de 1,19% em abril. Destaque para os fundos de dívida (CRIs), que subiram +0,53% no mês medidos pela índice da XP XPFP (índice de fundos imobiliários de papel), enquanto o XPFT (índice de fundos imobiliários de tijolo) apresentou queda de -0,11%. Esses primeiros refletem bem o cenário atual inflacionário/juros altos, considerando a indexação do portfolio ao CDI ou IPCA, ambos em dois dígitos hoje. Fundos com essa característica estão no campo positivo no ano em sua grande maioria, entregando rendimentos mensais acima de 1% ao mês, líquidos de imposto de renda. Ao longo do último ano vimos um aumento considerável no número de emissões de títulos de dívida (principalmente CRIs), sendo que 59% do volume total captado via ofertas públicas foi levantado por fundos de recebíveis no ano passado. Inclusive, os fundos de investimento são os principais investidores de CRI do mercado, registrando participação de 62,5% das ofertas em 2021, vide gráficos abaixo. Olhando para 2022, essa tendência continua sendo observada nas ofertas primárias com maior foco nos fundos de recebíveis.

Partindo desse pressuposto seguimos concentrando a estratégia em fundos de dívida, de forma a surfar o ambiente inflacionário e de juros altos de forma defensiva – especialmente fundos com carteira atrelada ao CDI nesse curto prazo, indicador que vem entregando um carrego de curto prazo melhor se comparado ao IPCA. O mercado enxerga uma inflação calculada pelo índice IPCA em patamares de alta até meados do final do semestre, enquanto o ciclo da Selic em dois dígitos deve perdurar ao menos nos próximos 12 meses.

Fundos de tijolo hoje negociam com forte desconto frente ao valor patrimonial e alguns até abaixo do custo de reposição, sendo aqui uma boa oportunidade de ganho de capital a longo prazo. Taticamente, porém, estamos concentrando novas alocações em fundo de dívida, pois entendemos que um acirramento do cenário inflacionário pode impactar ainda mais negativamente tais fundos – enxergamos que teremos um momento mais claro e seguro de entrada na categoria, visando ganho de capital. Por ora, fundos de dívida vem remunerando, na média, em cerca de 13,4% ao ano líquido de imposto de renda para pessoa física, com rendimentos mensais.

CRÉDITO OFFSHORE

Assim como observado nos últimos meses, em maio a volatilidade dos ativos de crédito globais seguiu elevada. O mercado se mostrou cada vez mais preocupado com a inflação e desaceleração das economias pelo mundo e isso impactou fortemente o desempenho dos bonds. O nível de abertura dos spreads indicava alta probabilidade de recessão na primeira quinzena do mês, mas a percepção melhorou com os dados fortes de gastos das famílias no PCE e com o avanço da reabertura na China. O movimento ficou evidente nos treasuries, que apresentavam grande abertura, mas se acomodaram no fim do mês. No fim, o rendimento do vértice de 2 anos reduziu de 2,70% para 2,53%, enquanto o da T-Note de 10 anos caiu de 2,89% para 2,85%. Isso beneficiou os ativos high grade que voltaram ao campo positivo. o índice representativo dos bonds high grade, Barclays Global Aggregate, subiu 0,27%, mas no ano a queda ainda supera os 11%. Já os ativos High Yield seriam mais afetados, caso o mercado consolidasse o cenário de recessão. A melhora na percepção permitiu uma performance ainda melhor do que dos ativos com baixo risco de crédito. O US Corporate High Yield Index reverteu parte das perdas do ano, com alta de 1,24% e agora cai 4,98% em 2022. Nós mantemos nossa visão de que o cenário ainda é adverso e é necessário encurtar a duration dos bonds e buscar ativos indexados para proteger o portfólio. A classe de Senior Loans acabou sendo mais penalizada, com o S&P U.S. Leveraged Loan 100 Index apresentando queda de 2,5% no mês e queda anual de 2,8%. O mesmo ocorreu com o setor imobiliário. O Dow Jones U.S. Real Estate Index cedeu 4,47% em maio e no ano a queda já se aproxima de 15%.

Os índices de mercados emergentes finalmente apresentaram certo fôlego, principalmente  devido à melhora nas restrições na China. A menor aversão ao risco dos investidores globais trouxe um volume relevante de recursos para os emergentes. O ETF representativo da classe, JPM Emerging Markets Bond (EMB) chegou a cair 2% no mês, mas encerrou em alta de 0,77%. A queda nos bonds asiáticos também foi mais contida: o JPM Ásia Credit Bond cedeu 0,66%.

ALTERNATIVOS

Na última seção do education de Alternativos iremos comentar mais a fundo sobre o mercado de Private Equity e suas especificidades. O escopo de atuação do Private Equity se encaixa em empresas mais maduras, com nível de receita mais alta em relação ao Venture Capital e que já tenham um modelo de negócios e setor mais estabelecido. Na grande maioria dos casos, os fundos fazem a injeção de capital nas empresas a fim de acelerar o crescimento, mas diferente do Venture Capital, esses fundos muitas vezes participam mais do processo de decisão da companhia, assumem mais cadeiras no conselho, compram o controle das investidas e até mesmo chegam a trocar o CEO/ CFO, em alguns casos. A seguir, vamos explorar as características de cada subcategoria de fundos de Private Equity e seus riscos atrelados, sendo elas:

  1. Growth: esse tipo de fundo foca em empresas com nível de receita menor em relação ao escopo de empresas dos fundos de Buyout. Geralmente o fundo não compra o controle das companhias, apesar de já participar da gestão, do planejamento e da estratégia, além do principal objetivo do aporte ser para o financiamento do crescimento. Outro perfil comum de se observar nesses investimentos é que são empresas que geram caixa, com gestão familiar e que  muitas vezes é a primeira vez que estão captando recursos externos para financiar o crescimento.  No mercado brasileiro, os fundos desta subcategoria possuem entre 7-12 investidas dentro do portfólio, além de já ser mais incomum nessa etapa observarmos write-offs das investidas, tendo em vista que são companhias que já geram caixa. Sendo assim, um erro de tese nessa etapa seria um gasto de capital para gerar crescimento, em que esse crescimento não ocorra, porém sem impacto de remarcações na empresa para baixo. A porta de saída para os investimentos nesse estágio, em sua grande maioria ocorre em M&As estratégicos para companhias privadas maiores ou para empresas listadas.
  2. Special Situations: essa subclasse de fundos ainda é uma modalidade nova no Brasil, porém que já observamos algumas gestoras trazendo bons retornos e levando empresas à bolsa. Acreditamos que com a grande complexidade no ambiente de negócios brasileiro, além das altas taxas de juros vigente no momento, esses fundos terão diversas oportunidades de investimento no período de alocação do nosso Fundo de Fundos. Os fundos dessa classe, geralmente, possuem entre 5 a 8 teses dentro do portfólio, em média, além de que na maioria das vezes estruturam um instrumento de dívida conversível com as investidas, ao invés de entrar no equity direto. Outra característica relevante desses fundos é de que o prazos de duração do fundo são de 6-8 anos, por já terem um pipeline montado, com a diligência em andamento e com a estratégia de turnaround desenhada antes e durante o período de captação, assim ajudando a reduzir o duration do nosso FoF.
  3. Buyout: essa é a subclasse mais tradicional do segmento de Private Equity, composta pelos maiores fundos dentro da estratégia de empresas privadas, já que compram controle das companhias investidas, sendo empresas que se encontram num nível de receita e geração de caixa robustos. Parcela relevante dos aportes nessa etapa ocorre para a  compra de participação no secundário para assumir o controle e melhor nível de governança e estratégia, a fim de levar essas empresas para o mercado público, e parcela menor vai pra caixa, para financiar crescimento e criação de novos produtos/ modelos de negócio.

Relacionando esses conceitos com nossa alocação na parcela de Private Equity no nosso fundo de fundos de Alternativos, a alocação será dividida em seis gestoras diferentes, cada qual será responsável por cobrir uma dessas etapas, já que em nossa visão cada uma exige conhecimentos, tamanho de equipe e abordagens distintas.

Por fim, a faixa de Growth terá uma gestora, com alocação entre 7,5-10% do PL total. Na faixa de Special Situations, teremos a divisão da alocação entre duas gestoras que no total corresponderá por 15% do PL do fundo, além da classe se beneficiar do cenário global  e ajudar a reduzir a duração do nosso produto. Por fim, teremos três veículos que investirão no fundo de Buyout, com cerca de 35% do PL total do fundo, totalizando os 60% de alocação do nosso fundo de fundos em Private Equity.


RESULTADO CARTEIRAS - MAIO 2022


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