Carta Mensal Agosto 2022

Cartas Mensais


RESUMO AGOSTO 22

Principais indicadores:

Locais: CDI +1,17%, Ibovespa +6,16%, Prefixados (IRF-M) +2,05%, Ativos IPCA (IMA-B) +1,10%, Imobiliários (IFIX) +5,76%, Dólar (Ptax) -0,18%, Multimercados (IHFA) +2,57%

Internacionais: MSCI AC: -3,86%, S&P 500 -4,24%, Euro Stoxx 600 -5,29%, MSCI China +0,22%, MSCI EM +0,03%, Ouro -3,12%, Petróleo -8,57% e Minério de ferro -1,60%

MACRO

O mês de agosto foi marcado pelo receio relacionado ao risco de um ciclo de juros mais agressivo nos EUA. Os dados mais fracos da economia pareciam fortalecer uma tendência de alta para as bolsas no mundo, porém a Ata do FOMC e o discurso considerado mais duro de Jerome Powell em Jackson Hole foram capazes de trazer um tom mais cauteloso para os mercados. No Brasil, o mercado começa a dar mais atenção às eleições e a economia segue surpreendendo positivamente os participantes do mercado.

Seguem as atualizações dos temas globais considerados como os mais importantes na visão do nosso Family Office:

CENÁRIO INTERNACIONAL : Atualização do cenário macro global e sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia

  • Atualizações do conflito entre Rússia e Ucrânia :

    Poucos imaginavam que o confronto pudesse se estender por tanto tempo. Fato é que em agosto a guerra entre Rússia e Ucrânia completou 6 meses e ainda não temos prognóstico do fim do impasse. Mês passado tivemos diversos acontecimentos importantes que impactaram diretamente o cenário global. Logo no início do mês, observamos finalmente a liberação de navios dos portos ucranianos, trazendo alívio na crise de abastecimento alimentar mundial. Diversos navios puderam navegar livremente no mar negro graças ao avanço no acordo envolvendo ambos os países, a ONU e a Turquia. Ainda que o acordo tenha avançado, declarações do secretário da OTAN reforçaram o momento mais perigoso da Europa desde o fim da 2ª guerra mundial. Nesse sentido, acompanhamos também a contínua ajuda ocidental à Ucrânia, tanto do ponto de vista militar, como também financeira. Outro fato que chamou muita atenção da comunidade mundial foi o da maior usina nuclear da Europa, a usina de Zaporizhzhia, ser alvo de novos bombardeios. A usina é responsável por 20% do que é consumido na Ucrânia e tem potencial de produção de energia equivalente a cerca de 40% da capacidade instalada em Itaipu. Desde o início da guerra, a região é tomada por forças russas, embora existam ucranianos chefiando as operações dentro do complexo energético. Diversos líderes globais manifestaram a necessidade de entender as reais condições da usina, dado que um acidente nuclear poderia ter consequências dramáticas para todo o continente europeu.

    Do lado econômico, observamos que o PIB russo encolheu 4% no 2ªtri de 2022, devido às diversas sanções. Mais empresas seguem anunciando o fim das operações em solo, como no caso da Siemens Energy e da operadora de terminais Maersk. Do lado ucraniano, credores de títulos do país aprovaram plano de moratória de 2 anos para pagamento de US$20bi.

    No mais, a China anunciou exercícios militares ao lado do exército russo. Do ponto de vista militar, a Rússia ainda enfatizou a não intenção de utilizar armamentos nucleares no conflito, mas o governo russo descartou negociações de paz, prevendo uma guerra longa contra Kiev. Além disso, a questão do fornecimento de energia continua sendo um fato extremamente preocupante na Europa. Nos últimos dias do mês, a estatal Gazprom anunciou o fechamento total do fluxo de gás para o continente europeu, graças a problemas técnicos de manutenção. O preço da energia no bloco segue preocupando os agentes financeiros e o racionamento de energia em diversos países europeus já começou. Ainda não há prognóstico de quando ou se o fluxo de gás voltará normalmente.

    Por fim, a Ucrânia iniciou uma contra ofensiva no sul e sudeste do país para a retomada de territórios. O próprio governo ucraniano, entende que será um processo lento e trabalhoso.

  • Cautela no mercado global devido ao aperto das condições financeiras

    Nos EUA, vimos o mercado mudar o humor positivo ao longo do mês diante da Ata do FOMC e do discurso de Jerome Powell, presidente do FED, no simpósio de Jackson Hole. Powell comentou o foco da instituição em trazer a inflação para a meta de 2% e classificou essa busca de estabilidade nos preços como “incondicional”, além disso citou a necessidade de agir com mais força no curto prazo, mas sem se comprometer com um novo aumento de 0,75% na próxima reunião. A ata também confirmou a necessidade de mais dados econômicos antes de assumir que a economia americana está em desaceleração, após dados mais fracos no CPI e PCE (inflação ao consumidor) e até mesmo no PPI (inflação ao produtor). Vale lembrar também que o mercado imobiliário apresentou seu ritmo mais lento desde o início de 2021.

    Seguimos interpretando o cenário como cauteloso e com alta volatilidade em cada divulgação de dados econômicos no curto prazo, porém confiantes que a economia americana é a favorita para evitar uma recessão prolongada mesmo em meio a esse ciclo de aperto das condições financeiras ao redor do mundo.

    Na Europa, vimos a economia apresentar dados piores (mesmo no Reino Unido) e com dados inflacionários ainda muito fortes. Muitas projeções trazem a inflação ainda acima de dois dígitos até o final do ano, o que coloca a região em uma situação complexa à frente. O risco de um racionamento mais severo no inverno é uma realidade e o ambiente de estagflação deve persistir na Europa até o final de 2023. Seguimos extremamente cautelosos com a região e monitorando os estoques de energia para entendimento das condições da região para os próximos meses.

    Na China, os mercados seguem surpresos com a falta de coordenação rumo a um crescimento maior no país. A crise imobiliária na região, juntamente com a política de covid zero seguem criando um ambiente de menor crescimento e com necessidade de estímulos. Ao longo do mês de agosto o PBoC anunciou novos cortes nas taxas com prazos de um ano e cinco anos e o mercado especula que em setembro haverá um grande anúncio para um plano claro de expansão econômica a ser divulgado pelo governo. As tensões geopolíticas com Taiwan criaram um fator adicional de receio pelos investidores e observamos diversas casas cortando novamente as projeções de crescimento para 2022. Independente do momento desafiador e com o preço dos ativos já refletindo boa parte destes pontos citados, uma vacina chinesa com maior eficácia contra a Omicron pode criar um ambiente mais positivo, além de possível reavaliação do cenário.

    No mundo, a sequência do aperto das condições financeiras segue com muitos países anunciando novos aumentos nos juros diante das pressões inflacionárias: a (i) Índia subiu os juros em 0,50%, para 5,4%, o (ii) Reino Unido aumentou os juros em 0,50%, para 1,75%, a (iii) Noruega aumentou em 1,25%, para 1,75%,a (iv) Austrália mais 0,50%, para 1,85%, a (v) Nova Zelândia mais 0,50%, para 3%, o (vi) México mais 0,75%, para 8,5%, o (vii) Peru mais 0,50%, para 6,5%, a (viii) Indonésia mais 0,25%, para 3,75% e a (ix) Coreia do Sul mais 0,25%, para 2,5%.

    Por fim, entendemos que o alívio principal de alguns dados inflacionários no mundo seja por conta da redução do petróleo. Qualquer aumento muito acima de USD 120,00 pode restabelecer uma nova pressão inflacionária vinda da commodity. O acordo entre Irã e os países do Ocidente pode ser uma excelente notícia para este movimento continuar, mas ainda não temos garantias de que será anunciado. Além disso, observamos um maior descontentamento de países como Venezuela, Iraque e Cazaquistão quanto aos preços atuais e isso pode criar uma nova coalização para reduzir as produções de petróleo pelo mundo, ou seja, o tema segue sensível e exige um maior monitoramento.



CENÁRIO LOCAL: O Brasil é o país do futuro?

Depois de muitos desafios, o Brasil começa a divulgar resultados empolgantes na sua economia para 2023. Temos a chance de ver o país crescendo mais do que a China no ano, devido aos cortes de projeção por lá e as revisões para cima por aqui. Muitos economistas já começam a projetar algo próximo de 3% de crescimento (vs Boletim Focus em 2,10% divulgado em 29/08) e a inflação segue sendo revisada para baixo no ano e até mesmo para 2023. O Copom fez o que deve ser o último ajuste deste ciclo, ao elevar as taxas para 13,75%, mas devemos ter dificuldades para cortar os juros com velocidade ao longo do ano que vem. Fica difícil imaginar um pace de corte acelerado em meio a um país com alta atividade, desemprego em queda e com mais auxílios sendo anunciados para a base de menor renda do país.

Nossas preocupações estão voltadas para o ano que vem com a discussão do orçamento, dado que a PLOA (projeto de lei orçamentária anual) não incluiu o auxílio Brasil em 600,00 e o reajuste dos servidores públicos não está claro. As eleições serão decisivas para o tema e à medida com a qual nos aproximamos de outubro precisamos ficar atentos a novas promessas feitas pelos candidatos.

Enviamos semanalmente para clientes do Family Office nosso resumo de mercado com os updates das eleições e nele está clara a recuperação do candidato Jair Bolsonaro nas pesquisas, juntamente com a melhoras na pontuação dos candidatos Ciro Gomes e Simone Tebet, principalmente, após o primeiro debate realizado na Band. Ao que tudo indica, teremos segundo turno e a disputa eleitoral deve ganhar novas estratégias e alianças até o seu desfecho final.

CARTEIRAS E POSICIONAMENTO

Nos portfólios locais, vimos as carteiras apresentaram resultados próximos ao CDI e acima do benchmark para cada perfil em virtude da deflação momentânea. As posições em equities locais tiveram forte desempenho e puxaram os resultados do mês. O destaque negativo ficou para a classe de equities globais, que foi detratora no período diante do contexto exposto no resumo macro da carta. Em setembro, decidimos aumentar a estratégia de crédito global com hedge cambial, reduzindo parte da parcela de equities globais na carteira moderada. Para a carteira agressiva, reduzimos as posições em fundos imobiliários e equities globais, para aumentar a exposição em bolsa local e crédito global com hedge cambial. Estamos finalizando alguns estudos para uma possível troca da exposição em equities globais (restante da carteira) em uma mesma exposição dolarizada.

Já para os portfólios internacionais, tivemos perdas tanto na parcela de renda fixa global, quanto na parcela de equities globais. A gestão ativa na parcela de renda fixa ainda foi capaz de reduzir parte das perdas dos benchmarks, mas não foi o suficiente para segurar os resultados ao longo do mês. A parcela de alternativos líquidos também teve comportamentos mistos, com alguns retornos muito próximos de zero e outros negativos. A volatilidade dos mercados evidenciada no texto macro prevaleceu nos resultados.


Sendo assim, estamos:

(i) otimistas com o carrego das posições em CDI de duration até 4 anos, IPCA para uma duration intermediária (entre 4 e 6 anos) e com uma maior proporção em ativos prefixados de duration curta (entre 3 e 3,5 anos);

(ii) otimistas com a parcela de Retorno Absoluto nos portfólios moderados e agressivos para capturar via gestão ativa as estratégias de bolsa, commodities, arbitragem, juros e moedas internacionais, etc;

(iii) mais otimistas com as posições em Renda Variável local;

(iv) Reduzindo novamente à exposição em equities internacionais em meio a volatilidade recente e o cenário ainda difícil para a classe;

(v) neutros para Fundos Imobiliários, praticamente zerando todo o portfólio de tijolo para ativos de recebíveis diretamente, porém já enxergando um potencial mais tático em alguns fundo de fundos devido ao nível de preços;

(vi) otimistas com as oportunidades em empresas fora do ambiente de bolsa, via bons gestores da indústria de Private Equity e Venture Capital; e

(vii) otimistas com a classe de crédito global, montando posições com hedge cambial nos portfólios locais em virtude do alto carrego das carteiras dos fundos e do CDI;

RENDA FIXA : JUROS NOMINAIS E REAIS (PRÉ-FIXADO / INFLAÇÃO)

O mês de agosto manteve a tendência dos meses anteriores de volatilidade elevada para os ativos de juros reais e nominais, porém a performance foi positiva. A dicotomia envolvendo o tom mais hawkish do Federal Reserve e o cenário deflacionário local movimentou a curva de juros brasileira. Além disso, fatores como a proximidade das eleições, a permanência ou não do Auxílio Brasil em 2023 e dados fortes de atividade econômica e do mercado de trabalho elevam o nível de incerteza. O desafio é mensurar o impacto de cada um desses elementos na inflação para o ano que vem, sobretudo entre o último trimestre e o início de 2024, horizonte que o Banco Central vem trabalhando para finalmente conduzir a inflação mais próximo à meta de 3,25% do CMN.

Os cortes na alíquota do ICMS e no preço da gasolina nas refinarias têm surtido efeito no IPCA. O IPCA-15 recuou pelo segundo mês consecutivo. Desta vez, apresentou queda de 0,73%, número mais forte do que o esperado pelo consenso de mercado. Assim, o acumulado em 12 meses voltou a ficar abaixo dos dois dígitos, registrando avanço de 9,6% em agosto. No Boletim Focus, a mediana de expectativas para o IPCA de 2023 passou a ser revisada para baixo – atualmente em 5,30% – após 19 semanas de revisões altistas. Porém, continuamos avaliando um risco nos estímulos fiscais que devem pressionar o indicador, além da inércia trazida pelo crescimento acima do esperado. Na parte nominal o mercado segue trabalhando com SELIC terminal de 11% em 2023 e cortes apenas a partir do segundo trimestre.

No acumulado do mês, o fechamento expressivo da curva do DI futuro nos vértices intermediários, retornando ao patamar de 12%, favoreceu os ativos prefixados. O IRF-M apresentou alta de 2,05% e acumula valorização de 6,17% em 12 meses. Já a curva da NTN-B apresentou abertura na parte curta e fechamento nos vértices a partir de 5 anos (IMA-B 5+). O IMA-B foi penalizado pela deflação, mas ainda assim teve alta de 1,10% e avança 5,54% em 12 meses.

CRÉDITO CORPORATIVO

Em agosto, os ativos de crédito corporativo apresentaram ótima performance em todas as subclasses. O destaque continua sendo os ativos pós-fixados que se beneficiam do CDI elevado. Esse foi o mês de melhor desempenho do JGP Idex no ano, com avanço nominal de 1,38% (117,9% do CDI) e acumulando 9,38% de alta até aqui. O spread médio de carrego do índice ficou em 1,81%. Um fator que chamou bastante atenção foi mais uma forte migração de recursos para os fundos de renda fixa. Desta vez, houve uma captação líquida de mais de 69 bilhões de reais, mais da metade de todo o volume que havia entrado no ano até julho. Isso demonstra a aversão a risco dos investidores com a proximidade das eleições e a busca por liquidez. Porém, olhando detalhadamente os dados da Anbima, é possível perceber que o fluxo é majoritariamente para fundos com risco exclusivamente soberano ou de grau de investimento, ou seja, o fluxo para os papéis corporativos não foi tão relevante. Por isso, não houve impacto nos spreads do JGP Idex. De qualquer forma, seguimos monitorando uma possível reversão do fluxo quando os investidores voltarem a tomar mais risco, o que pode provocar abertura dos spreads de papéis high grade e consequentemente afetar a performance dos fundos de renda fixa mais líquidos.

Mesmo com alguns cortes nas projeções da Selic para o ano que vem, o mercado ainda precifica os juros no patamar de dois dígitos até o fim do ano que vem. Portanto, os papéis CDI devem continuar apresentando o melhor carrego entre os indexadores. O IDA-DI apresentou alta de 1,32% e acumula 12,31% em 12 meses. Por outro lado, não deve se beneficiar tanto do fechamento de spreads em um cenário de melhora na percepção de risco. Seguimos privilegiando papéis com duration mais curta (até 3 anos) e uma exposição a subclasse por meio de fundos de crédito High Grade e fundos de FIDC de cotas sênior.

Na parcela de inflação ainda vemos boa perspectiva. A leitura negativa do IPCA prejudicou a performance mensal (+0,54%). No ano, o índice acumula alta de 5,34% frente a 4,57% do IMA-B. Apesar da expectativa do carrego do IPCA ser menor neste ano, quando retiramos os itens mais voláteis de sua composição (principalmente os combustíveis), ainda se nota uma inflação bem disseminada. Por isso, mantivemos nossa exposição à classe. A inflação implícita segue próxima a 6% para durations mais longas, bem acima da meta do Banco Central. Há uma assimetria positiva para a classe e seguimos posicionados em uma duration média entre 3 e 5 anos.

Por fim, continuamos construtivos para a classe prefixada. A expectativa de manutenção dos juros altos por mais tempo reduz a atratividade da subclasse no curto prazo, porém seguimos confortáveis com posições entre 3 e 4 anos.

RETORNO ABSOLUTO

O índice IHFA apresentou forte valorização no mês de agosto com alta de 2,43%, acumulando desempenho de 11,76% ao longo de 2022 e 11,95% nos últimos 12 meses.

Em nosso radar de cobertura envolvendo mais de 130 fundos multimercados, a subcategoria que apresentou melhor resultado foram os fundos L&S direcionais/total return, acompanhando a alta dos índices de ações locais. Na média, a subcategoria teve retorno de 4,27% e mediana de 3,43%. Os fundos L&S também tiveram retorno expressivo, com valorização mensal média de 4,12% e mediana da amostra em 3,05%. Vale dizer, que para a indústria long&short acompanhamos um total de aproximadamente 30 nomes da indústria local.

Outra categoria que apresentou resultado médio da amostra superior ao índice IHFA, foi a de fundos macro estruturais. A classe apresentou desempenho positivo médio de 2,45% e a mediana da amostra dos fundos coletados mostrou valorização de 2,07%. No mais, fundos macro dinâmicos, com amostra total de 40 veículos, demonstraram desempenho positivo médio de 1,72% e mediana praticamente igual, com alta de 1,73%.

Por fim, outros 17 nomes, caracterizados como fundos descorrelacionados, como fundos quantitativos, sistemáticos e event-driven, apresentaram alta média em agosto de 0,84% e mediana com alta de 0,47%

RENDA VARIÁVEL LOCAL

Após subir 4,7% em julho, novamente o Ibovespa reportou alta de 6,2% em agosto (mesmo patamar em dólares), destacando-se frente ao S&P (-4,2% no mês) e pares regionais. O grande diferencial desse mês é que o rali não foi impulsionado por bancos e commodities, mas sim por nomes domésticos e de crescimento que estavam lateralizados e esquecidos pelo mercado há meses, beneficiados pelo início da desaceleração da inflação e um possível pico do ciclo de alta de juros. Conforme gráfico abaixo, varejo foi o grande destaque, apresentando alta de mais de 18% no mês. No ano, o Brasil segue como uma das melhores bolsas do mundo, com um retorno de +11,9% em dólares até então.


Destacamos os seguintes fatos no mês de Agosto:

1- Início da desaceleração da inflação. IPCA reportado de julho apresentou uma deflação de 0,68% na variação mensal, maior queda reportada desde o início do plano real, sendo um fenômeno atípico conforme imagem abaixo. Devemos observar algo semelhante ao menos nos próximos dois meses. Como consequência disso, os juros futuros apresentaram forte correlação, impactando positivamente o valuation das empresas da bolsa – nomes domésticos e de crescimento são os mais sensíveis no movimento dos juros futuros, o que pode indicar o início de um ciclo mais favorável aos papéis.

2- Fim da temporada de resultados no Brasil, com 71% das empresas reportando EBITDA acima do esperado e 52% surpreendendo positivamente na linha de receita. Os maiores destaques ficaram para os nomes domésticos: shoppings, varejo de alta renda e supermercados. Novamente, o micro surpreendeu positivamente o mercado, descolando-se do cenário macro ainda perturbado do ponto de vista fiscal e as eleições.

3- Voltou a ser registrado uma forte entrada de capital estrangeiro na B3, com um volume superando R$18,0 bilhões no mês – um montante que se assemelha ao visto nos primeiro trimestre do ano (média de R$20,0 bilhões de entrada ao mês). Essa entrada chama ainda mais atenção considerando o mês de correção das bolsas globais, batendo de frente com a tese que o investidor estrangeiro só entra no Brasil em períodos positivos de ativos de renda variável.

4- A formalização das chapas presidenciais e início dos debates/propagandas em rádios e televisões. A eleição está há menos de 2 meses de ocorrer e agora o mercado tem a oportunidade de conhecer os projetos de cada deputado, reduzindo parte da incerteza gerada.

5- Fim da temporada de resultados nos EUA, com 76% das empresas do S&P 500 superaram as expectativas do mercado, com a surpresa agregada nos lucros ficando na casa de 4,1%. Essa surpresa micro teve maior impacto nas variações de julho, quando o S&P apresentou forte alta.

6- Volatilidade nos mercados globais e preocupações crescentes quanto a um cenário de recessão em meio a dados globais de inflação persistentes.

7- Persistência da política zero covid na China afetando a cadeia de suprimentos global somado ao aprofundamento da crise imobiliária na China.

Apesar do cenário local desafiador do ponto de vista político/fiscal, dados de atividade econômica doméstica mostram sinais de resiliência neste primeiro semestre, justificando o movimento de revisões para cima nas projeções para o PIB de 2022. Isso vem sendo refletido bem nos resultados das empresas da bolsa, muitas delas reportando números excelentes e/ou recorde, atreladas a uma estrutura de capital desalavancada e bem posicionada frente aos concorrentes menores – maior exemplo em Petrobrás, que somente neste primeiro trimestre já anunciou dividendos acima de 50%, sendo a maior empresa pagadora em termos nominais no mundo nesse período. O lado positivo disso é que, consequentemente, o Ibovespa negocia hoje aos menores múltiplos desde a crise de 2008 (9,0x P/E 2022 ex Vale e Petro), desconto de quase 2 desvio padrão abaixo da média histórica. Olhando para o prêmio de risco, medida para comparar os rendimentos dos ativos contra as taxas de juros reais, o nível encontra-se em 5,3% contra uma média histórica de 2,7%, indicando mais um desconto e possibilidade de apreciação da bolsa (dois primeiros gráficos abaixo). Outro ponto que corrobora a tese de boa parte do risco já esteja precificado é a tabela abaixo, sendo uma simulação construída pelo Santander em nível de Ibovespa considerando crescimento de lucro por ação para o próximo ano e juro real. O Ibovespa nos níveis atuais projetam um juro real em 7,5% e uma queda de lucro de 20% para o próximo ano, patamares que entendemos estarem bem exagerados – atingimos esse juro real apenas em 2015, quando tivemos uma crise fiscal e cenário político muito mais profundos, em tese, enquanto as revisões de lucro das empresas estão sendo positivas em sua grande maioria.

Para esse terceiro trimestre, o grande evento será a eleição presidencial no Brasil. Conforme estudo abaixo, na média, a volatilidade aumenta nos 3 meses que antecedem o evento, o que reforça a tese de cautela e importância de um portfólio equilibrado.

Dois pontos que contribuiriam para uma nova alta seriam (a) resultados das empresas acima das estimativas atuais e/ou (b) juros reais mais baixos vindos de um controle inflacionário. Quanto aos principais riscos, (a) deterioração do cenário fiscal local e/ou (b) movimento de aversão ao risco global com juros de longo prazo americanos em patamares maiores do que o projetado. Com a desaceleração da inflação e arrefecimento dos juros futuros, casas de análise voltaram a ficar mais otimistas com a projeção do Ibovespa para o final do ano – XP aumentou sua estimativa de 120 mil pontos para 130 mil pontos. Do nosso lado, seguimos positivo no cenário local via stock picking, no qual entendemos que existem as maiores assimetrias e possibilidades para superar o Ibovespa.

Dada a assimetria histórica de múltiplos e bons dados das empresas no micro, os dados indicam ótima janela de entrada com uma perspectiva de longo prazo, jamais tentando acertar o “fundo do poço”. Estratégia de aportes divididos em janelas distintas se mostra historicamente como a melhor estratégia de investimento.

FUNDOS LISTADOS

O IFIX (Índice de Fundos Imobiliários) reportou em agosto alta de 5,76%, refletindo o dado de deflação de 0,68% do IPCA em julho, menor taxa mensal registrada desde o início da série histórica na década de 80. Movimento foi puxado de forma integral pelos fundos de tijolo, que subiram 12,41% no mês de acordo com o XPFT (índice de fundos imobiliários de tijolo da XP), enquanto grande parte dos fundos de papel (especialmente aqueles com maior parte da carteira indexada ao IPCA) fecharam o mês no negativo em cerca de -0,5%. Entendemos que o movimento de alta dos fundos de tijolo está associado ao fechamento da curva longa de juros, como é o caso do Tesouro IPCA + 2035, que fechou 36 bps em agosto – um movimento semelhante ao visto em equities.

Em nossa estratégia de alocação, optamos por concentrar as alocações em fundos de dívida, por entender que (a) seja uma classe mais defensiva e que performe melhor ao longo do tempo (primeira tabela, evidenciando que tijolo só supera dívida em janelas de bull market) e (b) por entender que por mais que os fundos de tijolo estejam descontados, hoje você pode comprar no mercado de ações ativos melhores e mais descontados. O segundo gráfico é um exemplo desse ponto considerando o setor de Shoppings, evidenciando assimetrias de precificação entre os mercados de FIIs e Ações; nele, destaca-se a relação entre cap rate (considerando NOI 2019) e proporção de shoppings dominantes do portfólio, observando-se uma melhor relação risco-retorno, neste momento, para as ações.

Sendo assim, é natural que em um cenário de deflação os FIIs de CRI indexados passem a pagar rendimentos mensais menores, mas entendemos que isso seja um efeito pontual do cenário atual de curto prazo. São fundos com uma carteira de dívida com um yield geralmente superior ao que a pessoa física consegue acessar e ainda assim vem entregando bons rendimentos isentos, conforme gráfico abaixo. Importante ressaltar que dado os altos rendimentos nos últimos meses alguns fundos de dívida negociavam com bastante ágio em relação ao valor patrimonial, algo que foi corrigido ao longo desse mês.

Durante o último ano vimos um aumento considerável no número de emissões de títulos de dívida (principalmente CRIs), sendo que 59% do volume total captado via ofertas públicas foi levantado por fundos de recebíveis no ano passado. Inclusive, os fundos de investimento são os principais investidores de CRI do mercado, registrando participação de 62,5% das ofertas em 2021, vide gráficos abaixo. Olhando para 2022, essa tendência continua sendo observada nas ofertas primárias com maior foco nos fundos de recebíveis.

Seguimos positivos na alocação de fundos listados de dívida, especialmente aqueles com carteira atrelada ao CDI. Vemos inclusive uma tendência de preferência/número de ofertas públicas nos fundos com portfólio mais concentrado no CDI, considerando que devemos ver menores rendimentos nos fundos com carteira de inflação.

CRÉDITO OFFSHORE

Diante de um cenário do Federal Reserve preponderantemente hawkish em agosto, na contramão do discurso observado no mês anterior, houve grande incremento de prêmio sobre a curva de juros americana, o que provocou uma correção em toda a classe de crédito global. Notou-se uma preocupação dos membros do Fed em alinhar as expectativas dos agentes de mercado a respeito do ritmo de aperto monetário, algo que ficou bastante evidente no discurso de Jerome Powell no simpósio anual de Jackson Hole reforçando a necessidade de convergir a inflação à meta. Isso ofuscou os dados da inflação americana finalmente fazendo seu pico. o CPI de julho ficou estável em sua variação mensal e desacelerou em sua taxa de 12 meses de 9,1% para 8,5%. Porém, o núcleo do indicador, que exclui preços de energia, segue avançando. É esperado que uma reversão ocorra somente no último trimestre. Por isso, ficou ainda mais em aberto a alta no fed funds rate para a próxima reunião do FOMC. Uma parcela maior passou a considerar alta de 75 bps ao invés dos 50 bps que eram esperados anteriormente e a taxa terminal do ciclo deve ficar próximo a 4%. O reflexo do discurso de Powell foi uma forte abertura nos treasuries. A taxa do vértice de 2 anos avançou de 2,89% a 3,45%, enquanto a T-Note de 10 anos escalou de 2,67% para 3,15%. Os ativos com grau de investimento foram mais penalizados do que o high yield. O Barclays Global Aggregate Index recuou 3,95% no mês e agora a queda anual é de 15,55%. Já o US Corporate High Yield Index recuou 2,30% e agora cai 11,22% no ano. No setor imobiliário (Dow Jones U.S. Real Estate Index) a queda foi bem expressiva:  -5,88% no mês e no ano -19,45%. A classe dos Senior Loans foi uma das poucas que se defendeu da queda por seu caráter pós-fixado. O S&P U.S. Leveraged Loan 100 Index apresentou subiu 1,13% no mês e a queda no ano reduziu para -1,45%. Para setembro, aumentaremos nossa exposição aos fundos de crédito global devido ao bom ponto de entrada que se originou pela abertura dos treasuries. Vale reforçar que a estratégia é focar em fundos com hedge via cupom cambial, aproveitando o carrego alto do CDI e uma expectativa de fechamento dos spreads de crédito à frente. A alta volatilidade nas curvas representa boa oportunidade de geração de alfa.

Para os mercados emergentes houve uma correção forte, visto que, somado às revisões no mercado americano, a retomada da China continua frustrando os investidores e a crise energética da Europa está se agravando cada vez mais. O impacto das políticas de Covid Zero e a desaceleração do mercado imobiliário chinês ficaram mais evidentes com a queda nos dados de atividade econômica de julho. Esse nível de incerteza tem limitado a demanda por crédito no país. Cabe agora avaliar o quanto as políticas do PBOC do governo serão eficazes. O ETF representativo dos mercados emergentes, JPM Emerging Markets Bond (EMB), recuou 2,48% em agosto e cede 18,8% no ano. O JPM Asia Credit Bond caiu 0,80% no mês e cai 12,39% no ano.

ALTERNATIVOS

Na carta atual, iremos discutir sobre outro mercado alternativo que vem ganhando a atenção dos alocadores institucionais ao longo dos últimos anos. Nesse mês de setembro, o Ethereum, a segunda maior criptomoeda em valor de mercado, passará por um evento em que muitos consideram ser o segundo maior do mundo das criptomoedas após o white papper do Bitcoin escrito por Satoshi Nakamoto. O “The Merge”, como é conhecida essa atualização, consiste na mudança do atual mecanismo de consenso usado – proof-of-work (PoW) – para proof-of-stake (PoS), a fim de ajudar na eficiência energética da Ethereum.

O Proof of Work (PoW) que significa “Prova de Trabalho”, em tradução livre, é um protocolo que objetiva a confirmação de movimentação por meio da realização de um problema matemático realizado por um minerador. Ao resolver o problema matemático de um bloco, o minerador recebe sua comissão, e a transação é registrada no Blockchain público. Com isso, para maximizar as chances de conseguir validar uma transação e receber a recompensa total daquele bloco, os mineradores colocam o máximo de força computacional que conseguem, assim levando a um gasto energético elevado.

Já o Proof of Stake (PoS) é a sigla para “Prova de participação” e consiste em outro protocolo de validação de transações para o Blockchain. O resultado, porém, é obtido de uma maneira diferente. Esse protocolo consiste em os mineradores deixarem suas criptomoedas na Blockchain e o que deixar por mais tempo e em maior volume leva a comissão mais elevada a cada bloco de transação. A vantagem é que não há necessidade de um grande poder de máquina para o computador e nem mesmo grande volume de energia consumida. Portanto, consiste na comissão por bloco minerado ao equivalente da participação de cada minerador na rede, reduzindo a necessidade de uma corrida por mais força computacional (e consumo energético).

A promessa do novo Ethereum é reduzir o consumo de energia elétrica gasto na mineração da moeda, mudar o algoritmo de consenso, diminuir o congestionamento da rede e aumentar a segurança, ou seja, em apenas uma movimentação a plataforma acabará com alguns de seus gargalos. A equipe da Ethereum previu que a troca do mecanismo PoW para PoS irá reduzir drasticamente os custos energéticos em 99,95%. Além disso, a fusão transformará a política monetária da Ethereum reduzindo a oferta total da ETH em 90%. Após a fusão, o Ethereum terá uma inflação mais baixa que o Bitcoin. Especialmente com a queima de taxas, o Ethereum poderá ser deflacionário, enquanto o Bitcoin sempre será inflacionário (muito embora, a cada halving do Bitcoin, a taxa de inflação caia). A oferta líquida da ETH vem crescendo cerca de 2,5% ao ano, porém, após o “The Merge”, espera-se que isso caia para cerca de 1%, podendo até se tornar negativo (deflacionário) se houver um alto volume de transações que faça com que um grande volume de ETH seja queimado.

Após o “The Merge”, que deve ocorrer ainda em setembro, o Ethereum ainda tem uma lista de novas atualizações futuras programadas. Além do problema ambiental de gasto de energia relacionado ao PoW, existe também o problema de escalabilidade da rede, em que altas taxas são cobradas para completar as transações. Sabendo de tal situação, a próxima grande atualização deve focar nesse tema, para que a rede fique mais leve, permitindo a redução das taxas de processamento das transações.

Principais notícias do mercado de criptomoedas:

  • Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, entra para conselho consultivo da Binance;
  • XP lança Xtage, plataforma para negociação de criptomoedas dentro do aplicativo de investimentos da corretora;
  • BTG lança plataforma de criptomoedas: Mynt;
  • Mercado Livre lança criptomoeda, Mercado Coin, desenvolvida na rede Ethereum;
  • A Charles Schwab lançará seu primeiro ETF relacionado a criptomoedas;
  • Samsung lançará sua plataforma de “Exchange” de criptomoedas em 2023; e
  • O cofundador da Binance, Yi He, liderará o braço de Cripto Venture Capital de US$7,5 bilhões da Binance.


RESULTADO CARTEIRAS - AGOSTO 2022


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