O fato do Banco Central baixar o juros vai muito mais além do que uma mudança na carteira de investimentos do brasileiro, tem todo o lado de que com os juros mais baixo as pessoas físicas ou pequenas e médias empresas passem apresentar um maior apetite a crédito e assim voltando a gerar consumo e girar a economia. Porém de nada adianta a Selic seguir uma tendência de queda renovando suas mínimas históricas, se não tivermos o reflexo disso nos créditos dos bancos como está sendo visto pelo movimento inverso no crescimento do spread bancário. Que basicamente significa menores custos de captação para estas instituições, ou seja, elas pagam menos pelos investimentos que o cliente faz em emissões bancárias (CDB, LCA, LCI e Poupança) e continuam a cobrar juros altos de quem toma dinheiro emprestado. Resumindo o lucro do banco cresce uma vez que ele paga menos para quem aplica com eles, e cobra mais de quem ele empresta dinheiro. O impacto disso pode ser tremendo na nossa recuperação econômica, uma vez que as pequenas e médias empresas que representam a nossa economia real não conseguem captar dinheiro no mercado de capitais como as grandes companhias listadas em bolsa. Por conta disso o papel das instituições bancárias privadas é tão importante, pois sem crédito barato o empresário não consegue investir no crescimento impactando na nossa retomada de crescimento.
As instituições financeiras ainda não repassaram para os seus clientes a queda nos custos de captação provocada pela redução recente nos juros básicos da economia, mostram dados divulgados ontem pelo Banco Central.
A remuneração paga pelos bancos para captar recursos dos seus clientes caiu 1,1 ponto percentual entre maio e agosto, de 7,4% ao ano para 6,3% ao ano. Mas os juros médios cobrados nos empréstimos a empresas e pessoas físicas caíram apenas 0,6 ponto percentual, de 38,5% ao ano para 37,9% ao ano.
A diferença entre a queda dos custos de captação e dos empréstimos engordou a margem bruta dos bancos. O chamado spread bancário subiu 0,5 ponto percentual no período, de 31,1 pontos percentuais para 31,6 pontos percentuais. Os dados incluem apenas o chamado crédito livre, ou seja, a parcela do empréstimo em que os bancos têm liberdade para fixar os percentuais pagos a depositantes e cobrados dos tomadores de empréstimos - e que, na teoria, deveriam refletir o nível de competição no sistema financeiro.
Os custos de captação dos bancos caíram depois que o BC passou a dar os primeiros sinais de que iria retomar o ciclo de cortes de juros, em junho. A política monetária mais acomodatícia derrubou os juros futuros negociados no mercado financeiro, que servem de referência para a remuneração paga pelos bancos a seus depositantes e para captar recursos de algumas fontes.
Em algumas linhas de crédito, os juros chegaram a subir, em vez de cair. É o caso do crédito rotativo no cartão de crédito, cuja taxa saltou de 299,8% ao ano para 307,2% ao ano, entre maio e agosto. O custo do crédito rotativo regular do cartão de crédito, em que o cliente faz o pagamento mínimo de sua fatura, teve alta expressiva entre julho e agosto, de 283,7% ao ano para 289% ao ano.
A exceção no período foi a queda dos juros no cheque especial, que passaram de 318,7% ao ano em julho para 306,9% ao ano. Em boa medida, essa taxa caiu em virtude dos cortes de juros feitos pela Caixa Econômica Federal.
Quando se considera o conjunto do crédito bancário, as taxas de juros tiveram uma alta de 0,8 ponto percentual no período de 12 meses até agosto. Os juros subiram apesar de a taxa do crédito livre ter ficado estável no período e o custo médio do crédito direcionado ter apresentado uma pequena queda, de 0,1 ponto percentual.
O custo global médio dos empréstimos subiu devido ao chamado efeito composição. O crédito livre -- que tem taxas de juros mais alta - está crescendo de forma mais acelerada do que o crédito direcionado, que tem juros menores. A redução da participação do crédito direcionado na economia é um reflexo da política adotada desde o governo Temer de liberalizar o mercado de crédito, flexibilizando regras anteriores de direcionamento dos empréstimos.
O BC vem sustentando que uma parte das empresas passou a tomar financiamentos no mercado de capitais, a taxas mais baixas. Mas ainda não existem estatísticas consolidadas dos juros dessas operações para acompanhar a evolução dos custos de financiamento globais.
Olhando os dados num prazo mais longo de tempo, porém, os bancos repassaram aos clientes a queda dos juros básicos. De outubro de 2016 a agosto de 2019, o BC cortou os juros básicos da economia em 10,5 pontos percentuais, de 16,5% ao ano para 6% ao ano (na semana passada, baixou mais, para 5,5% ao ano). No mesmo período, os custos do crédito livre caíram 16 pontos percentuais, de 53,8% ao ano para 37,9% ao ano.
Além da queda da Selic, a baixa ocorrida nesse período mais amplo reflete também mudanças estruturais no mercado de crédito, como medidas do BC no rotativo do cartão de crédito.