Almoço realizado XP com a Kapitalo Investimentos em 28/08/2019
INTRODUÇÃO
A Kapitalo Investimentos é uma gestora fundada em 2009 e possui aproximadamente R$ 16.000 milhões em ativos sob gestão. A casa aloca os recursos em diversos mandatos líquidos através de 14 books.
Os sócios fundadores são João Pinho e Carlos Woelz, ambos com passagem pelo Banco BBM e com mais de 20 anos de experiência. João iniciou a carreira no Bank of America, passou pela Nomura Securities, em 1998 foi para o Banco BBM para em 2009 fundar a Kapitalo. Carlos iniciou a carreira em 1994 no Banco BBM.
COMENTÁRIOS
Os fundos da gestora podem ser divididos em 4 estratégias. Quando há mais de um fundo na estratégia, o segundo fundo geralmente utiliza a mesma estratégia, porém, de forma alavancada.
- Kappa e Zeta: utilizam os 14 books; multimercado
- Alpha e Omega: utilizam 7 books; foco offshore
- Tarkus: utilizam os 3 books; foco em renda variável Brasil
- K10: 1 book, chamado K10; multimercado
Para cada book existe um trader/gestor responsável e cada um tem um mandato. O comitê executivo decide quanto risco alocar em cada mesa e revisam esta alocação semestralmente. As alocações de risco não sofrem mudanças abruptas e seguem o desempenho de cada book.
A equipe é o fator mais importante e por isso, a gestora adota diretrizes pensando na retenção dos funcionários:
- Curto prazo – as pessoas são recompensadas meritocraticamente, ou seja, variam em função do desempenho da gestora e do book
- Médio prazo – a alocação de risco varia seguindo os resultados da mesa, de forma que quando se performa bem a alocação de risco aumenta e o potencial de ganhos também
- Longo prazo – a gestora acredita ser importante que as pessoas com boa performance e que estão alinhados com a cultura e os valores devem ser sócias
Fundo K10
O fundo pode se posicionar de 3 formas: (1) posições direcionais, (2) estratégias de valor relativo e (3) através de spreads intra-commodities
Alguns exemplos de ativos que geraram boa performance em 2019 são: petróleo, minério de ferro, moeda russa e ouro.
Cenário (Bruno – Gestor do K10)
Entre 2015 e 2017 observaram que houve alto crescimento no mundo. A partir de 2018 o crescimento ficou cada vez menor, com tendência a continuar desacelerando, principalmente devido à piora na produção industrial.
O gestor acredita que o baixo nível de crescimento e nível mais baixo de inflação são estruturais, ou seja, não são questões passageiras; e os principais fatores são mudanças na demografia e a tecnologia.
Em relação ao cenário externo, particularmente o “trade war”, Bruno ressalta que a questão não é comercial, mas sim de proteção da propriedade intelectual, pois os EUA e a Europa criam um produto e investem recursos em pesquisa e desenvolvimento, e em seguida a China copia e vende a um preço mais baixo. Para tentar fazer este cenário mudar, uma das medidas que o presidente americano Donald Trump pensou para forçar esta mudança foram tarifas comerciais.
Este tema é muito bem aceito nos EUA, inclusive entre os democratas. Por outro lado, recentemente os discursos dois lados começaram a mudar. A China está mudando a postura, não estando mais inclinada a ceder no curto prazo e se dispondo a passar por dificuldades por um prazo mais longo; e nos EUA, está aumentando a impressão de que a tática de aumento de tarifas não é mais um instrumento eficiente. Desta forma, apesar do objetivo de longo prazo estar certo, aumentar ainda mais as tarifas é uma tática que está prejudicando cada vez mais os americanos.
Por exemplo: a soja dos EUA desvalorizou porque a China não está comprando, ou seja, não é preciso taxar a soja porque não tem compra. Neste caso os agricultores estavam dispostos a absorver as perdas dado o alinhamento com o objetivo de longo prazo, mas a partir do momento que a percepção de que a tática está errada, os agricultores começam a ficar incomodados em absorver os prejuízos da guerra comercial.
Um ponto que está sendo discutido nos EUA é que Trump não deve adotar medidas paliativas e de curta duração até as eleições ocorram.
Neste contexto, a China tem potencial para ganhar espaço no comercio global e por isso, a imposição de tarifas em parceiros importantes a UE e o Japão não devem ocorrer no curto prazo.
Em relação ao cenário local, o gestor está construtivo com Brasil, pois acredita que a economia está melhorando. No mercado de juros, os retornos continuam atrativos, mesmo que sejam abaixo da média histórica, por exemplo, juro real na curva a termo (21 - 24) de 4,0% é bom quando comparado ao juro nos desenvolvidos, que gira em torno de 0,8%.
Um ponto que afeta negativamente o mercado local é que o cenário não está bom para emergentes. Por outro lado, dada a situação do país, o Brasil deveria apresentar retornos melhores que o retorno dos outros emergentes.
Um dos impactos do cenário global ocorre no câmbio e isto faz com que o real fique “barato”. Diferentemente de outras ocasiões, quando o problema estava no real, o gestor observa que o dólar está supervalorizado e que, portanto, no médio/longo prazo, deve haver correção. Os impactos de curto prazo no real se devem aos seguintes fatores: (1) os exportadores não está “hedgeando” as vendas em dólar e (2) as empresas estão pré pagando dívidas em moeda estrangeira e tomando dívidas em real porque está mais barato. Concluindo, com a premissa de que o real está “barato”, o BC está correto em vender reservas agora, amenizando uma situação que deve se normalizar.
Time de Análise - MZR