Na última quinta-feira (1), a Verde Week chegou ao fim com seu último episódio que foi mediado por Luis Stuhlberger, engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP e co-fundador da Verde Asset. A gestora, atualmente, está entre as 20 maiores do Brasil, contando com 69 profissionais e 4 equipes de gestão, com um patrimônio de aproximadamente R$ 55 bilhões.
Em relação ao último quadro da Verde Week, intitulado Cenários e Estratégias, Stuhlberger dá início tratando dos Estados Unidos, especialmente sobre sua preocupação em relação à inflação. Inicialmente, é abordada a boa perspectiva para o avanço na vacinação, que tem por consequência a recuperação e reabertura da economia. Ainda no cenário pandêmico, foi ressaltado o fato de os democratas terem ganhado as eleições, fomentando políticas monetárias, por parte do Fed, direcionadas aos mais vulneráveis. Assim, a recuperação dos EUA foi nomeada de “recuperação em K”, fazendo com que os da ponta superior subam e da inferior desçam. Em termos quantitativos, aqueles que ganhavam mais do que US$ 60 mil tiveram crescimentos de 2,7% em comparação ao cenário anterior à pandemia. Do outro lado do “K”, aqueles com ganhos inferiores a US$ 27 mil (especialmente trabalhadores de bares, hotéis e restaurantes) tiveram um encolhimento de 29%.
O que preocupa Stuhlberger é a chance de a inflação não ser transitória, pois nos últimos anos caminhava em baixa e atualmente está muito maior do que a esperada. Nessa linha, é relevante relembrar a divisão da inflação norte-americana de ⅓ para Core Goods e ⅔ para Core Services, o que faz com que gargalos na parte de Core Goods pressionem a inflação. Conforme o avanço da vacinação e consequente reabertura da economia, é projetado que essa pressão em Core Goods diminua. Com essa escalada na inflação desde as eleições, é provável que a postura do Fed fique mais Hawkish, fazendo com que os juros a curto prazo subam, mas deixando os de longo prazo flat.
Outro ponto abordado foi o do desemprego: a sua expectativa de normalização é apenas para 2024. Entre os motivos, estão o alto seguro-desemprego fornecido pelo governo, as dificuldades com child care enfrentadas especialmente por mães solteiras, o possível medo de trabalhar presencialmente e, por fim, as aposentadorias antecipadas.
As reações do mercado frente ao cenário enfrentado é uma alta de 5% no CPI anualizado, fazendo com que o 5Y e o 10Y Treasury também subam. Estes estavam com tendência de alta até o último FOMC: quando o juro de curto prazo subiu, o de longo prazo sofreu flattening, já que é esperado pelo mercado que o Fed inicie o tightening antecipadamente.
Em um segundo momento da palestra, o Brasil entrou em pauta. Em termos de COVID-19, foi o país com o maior número de mortes acumuladas por milhão de habitantes e também com o maior número de novos casos por milhão de habitantes. Apesar disso, foram apontadas boas perspectivas em relação à vacinação: em um cenário conservador, a gestora estima que todos os adultos receberão pelo menos a primeira dose até outubro.
Sobre o PIB, foi realizada uma importante revisão, que elevou para 5,5% as estimativas de crescimento em 2021, especialmente pela recuperação econômica. No entanto, ela veio junto a um aumento na inflação, pressionada também pela alta nos preços das commodities e pela depreciação do câmbio. Assim, foi estimado pela gestora que o IPCA feche em 6% esse ano e o IGPM em 18%.
No que tange à questão de política fiscal, foi notada uma melhora na arrecadação deste ano, fazendo com que a dívida bruta reduza em relação ao PIB.
Sobre o crescimento, é dado que as empresas estão, desde o pior momento do governo Dilma, em processo de desalavancagem. Do outro lado da questão, a reforma tributária deve aumentar os impostos sobre as empresas, culminando na redução dos investimentos. Ainda nesse tema, é possível que a tributação dos dividendos faça com que as empresas os antecipem, o que impulsionará a saída de dólar do país no final deste ano, configurando-se como um novo fator altista do dólar.
Acerca das eleições, foi dito que são altas as chances de Bolsonaro e Lula irem para o segundo turno nas próximas eleições. No entanto, também é importante ressaltar que ainda é muito cedo para descartar a “terceira via”, ou seja, o surgimento de um terceiro candidato.
Por fim, o gestor da Verde encerrou o episódio mostrando a alocação de capital. Em termos globais, estão comprados em ações globais, aplicados em juros na China de 5 anos (16% do PL), hedgeados com posição tomada no 10Y Treasury Americano e no juro de 30 anos europeu. Em termos nacionais, estão comprados em ações brasileiras (25%, que representa queda de aproximadamente 5% do habitual), aplicados em juro real na parte curta e intermediária da curva, aplicados no pré curto (32% do PL), hedgeados com posição comprada em inflação implícita (23% do PL) e hedgeados com posição comprada em dólar (4% do PL).