Impeachment eleva incertezas e deve afetar os mercados

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A notícia de ontem dizia que o Senado adiou a votação da previdência para semana que vem, o que já vinha causando um reação negativa no mercado brasileiro que ia na contra mão do resto do mundo. Os mercados globais reagem ao comunicado do processo de impeachmanet do presidente americano em meio a sessões negativas na Europa e Ásia durante a noite, que devem se estender para o mercado de bolsa americano e naturalmente para o nossa aqui no Brasil. A denúncia protocolada ontem pela presidente da Câmera Nancy Pelosi, usa como argumento uma ligação de Donald Trump ao presidente ucraniano pedindo que eles investigassem o candidato democrata Joe Biden e seu filho, e oferecendo em troca ajuda financeira para sua área militar. A discussão sobre uma eventual saída do presidente americano ainda é muito incerta, uma vez que o seu partido republicano tem maioria no Senado. No entanto este novo fato trás consigo um aumento nas expectativas de risco em um mercado mundial que já convive com constante desconfiança frente a guerra comercial e possível recessão global, e que pode levar a impactos ainda maiores nos níveis de confiança dos investidores e empresas que já estão baixos. Quando se tem um cenário mais incerto com menor clareza do que pode acontecer, isto pode afetar a expansão da economia global e retração dos investimentos das empresas. O que seria para o Brasil no atual momento de retomada do crescimento, algo negativo uma vez que é muito difícil nós seguirmos na contra mão do resto do mundo em caso de recessão global.

Impeachment eleva incertezas e deve afetar os mercados

Divulgação hoje do conteúdo das conversas de Trump pode dar alguma clareza sobre a gravidade do processo de impeachment do presidente dos EUA. Mas incertezas podem perdurar por meses - 25/09/2019

É difícil antecipar o impacto econômico que pode ter a abertura de um processo de impeachment contra o presidente dos EUA, Donald Trump. Mas, como mínimo, o processo criará incertezas, o que sempre é ruim para a economia e os mercados. Analistas ontem esperavam movimento de queda, até forte, nos mercados de ações hoje. Outros mercados, como câmbio e commodities, também devem ser afetados.

Isso ficou evidente ontem. Assim que surgiram os rumores de que os democratas abririam o processo de impeachment na Câmara, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, que até então vinha em leve queda, começou cair mais fortemente. Quando o presidente Trump informou que autorizava a divulgação do telefonema que ele teve com o presidente da Ucrânia, que está na base das acusações contra ele, as ações tiveram alguma recuperação, para depois cair novamente quando ficou evidente que haverá o processo de impeachment.

“O que tudo isso junto vai fazer é garantir que haverá elevada volatilidade em ambas as direções nos próximos dias”, afirmou Michael James, diretor da corretora Wedbush Securities, de Los Angeles, à agência de notícias Reuters.

Talvez alguma clareza venha hoje com a divulgação da conversa de Trump. O teor da conversa deverá indicar a gravidade da acusação contra o presidente.

Se houver forte indicação de que Trump tenha cometido algum crime, isso reforça a tese do impeachment e o processo se arrastará por meses, com desfecho incerto no Senado, que é controlado pelos republicanos. Se as evidências contra Trump forem fracas ou defensáveis, isso provavelmente indicará que o processo de impeachment será arquivado pelo Senado. Mesmo assim, as investigações podem levantar fatos novos, de modo que a incerteza se manterá por meses.

O clima de incerteza nos EUA pode afetar a confiança tanto das empresas (que já está num nível baixo) quanto a dos consumidores, que continua num patamar elevado. É o gasto do consumidor que vem mantendo o ritmo moderado de expansão da economia americana, apesar da retração dos investimentos das empresas.

A abertura do processo de impeachment pode também adiar a aprovação pela Câmara do novo acordo comercial entre EUA, Canadá e México, mantendo a indefinição sobre a entrada em vigor das novas regras comerciais.

A impeachment deve ainda acirrar a polarização política no Congresso dos EUA, dificultando a aprovação de qualquer projeto.

É incerto também o impacto do impeachment sobre as negociações comerciais com a China, hoje a maior ameaça que paira sobre a economia americana. Trump pode ter um estímulo maior para concluir um acordo, ainda que ele mesmo já tenha dito não esperar nada definitivo antes das eleições de 2020, ou fechar ao menos uma trégua.

Os casos anteriores de processo de impeachment não jogam muita luz sobre o impacto econômico. No caso do processo contra Bill Clinton, o índice S&P 500 da Bolsa de Nova York caiu 20% no mês e meio que antecedeu a divulgação do relatório do promotor especial, que embasou o caso. A economia americana, porém, manteve-se forte no período e, nos quatro meses de duração do processo no Congresso, o S&P 500 subiu 28%.

No governo Nixon, entre o agravamento da situação do presidente, em outubro de 1973, e a sua renúncia, em agosto de 1974, às vésperas da aprovação do impeachment pela Câmara, o S&P 500 caiu 14%. Mas analistas observam que nem toda essa queda pode ser atribuída ao processo de impeachment, já que havia um choque do petróleo em andamento, por conta da crise no Oriente Médio, e um movimento de alta da inflação. (Com agências internacionais)

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