‘Câmbio ainda não atrapalha Selic’

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‘Câmbio ainda não atrapalha Selic’

Itaú espera mais uma redução da Selic em dezembro, de 0,5 ponto percentual, para 4,5% ao ano, e talvez dois cortes menores no início de 2020

Por Adriana Cotias e Maria Luíza Filgueiras — De São Paulo 04/12/2019

Para Mesquita, o dólar no nível de R$ 4,50 seria limite de tolerância que passaria a influenciar trajetória de juros — Foto: Leo Pinheiro/Valor

O cenário para a inflação segue benigno, apesar das recentes pressões decorrentes do reajuste dos preços da carne e do câmbio mais desvalorizado, segundo Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco. Para o especialista, o comportamento do núcleo ainda aponta para uma trajetória abaixo da meta, enquanto o dólar, até o nível de R$ 4,50, não deve atrapalhar o plano do Banco Central (BC) de mais flexibilização monetária.

“O nível de câmbio que influenciaria o corte de juros está mais para R$ 4,50 do que para R$ 4,00. Não é o que estamos projetando, mas de certa forma esse seria o limite de tolerância”, disse Mesquita, ao participar de coletiva de imprensa com a diretoria do Itaú BBA.

O Itaú espera mais uma redução da Selic em dezembro, de 0,5 ponto percentual, para 4,5% ao ano, e talvez dois cortes menores no início de 2020. Mesquita considera que, com o menor peso do crédito subsidiado na economia, a atividade responda de forma mais eficaz às ações de política monetária, trazendo um pouco mais de tração para a economia a partir do ano que vem.

O PIB de 0,6% no terceiro trimestre divulgado nesta terça-feira pode levar o banco a fazer uma revisão para cima da projeção de crescimento neste ano, de 1% para 1,2%. As estimativas são de uma expansão econômica da ordem de 2% em 2020, chegando perto de 3% em 2021.

O economista-chefe do Itaú Unibanco disse que os números do PIB apontam dois trimestres seguidos de expansão de investimentos. São dados que incluem a ampliação da capacidade de algumas empresas e também a retomada de projetos imobiliários e de infraestrutura, setores mais sensíveis a políticas de recuperação econômica.

“O crédito vem se recuperando, e o consumo também. A demanda doméstica tem sido um fator de resiliência”, afirmou Mesquita.

O cenário lá fora poderia ser um risco, este ano “o vento não soprou a favor”, mas Mesquita lembrou que a economia brasileira não é tão aberta assim. O economista chamou atenção ainda para a expectativa de recuperação do emprego formal, de melhor qualidade e que também afeta a renda e contribui para a melhora do quadro fiscal.

“O mercado de trabalho é o último a piorar e o último a melhorar também. [A trajetória atual] não está fora do padrão do ciclo brasileiro”, disse Mesquita, referindo à alta taxa de desemprego que persiste na economia.

Mesquita disse ver a Selic baixa por razões conjunturais e estruturais. Sob o aspecto macro, há grande margem de ociosidade na economia, com a taxa de desemprego em 12%, uma capacidade que vai sendo ocupada gradualmente. Estruturalmente, a mudança na política fiscal e parafiscal, com a diminuição do gasto público, possibilita que a economia funcione com taxas de juros menores. “A redução tem permitido o florescimento do mercado de capitais”, afirmou.

Caio David, presidente do Itaú BBA, disse que tem visto uma procura relevante de recursos para financiar projetos, em setores como o de construção civil, em algumas capitais, e no agronegócio. “Há um redesenho da expansão. A gente vê setores muito mais ativos que podem dar sustentabilidade a um crescimento mais forte.”

A expansão das vendas na “Black Friday” é um dos sinais de recuperação da atividade econômica, segundo Flávio Souza, diretor do banco comercial do Itaú BBA. Segundo o executivo, as emissões de boletos de cobrança tiveram elevação de 65% neste fim de semana, em comparação ao mesmo período do ano passado.

As transações capturadas nas lojas físicas subiram 27% na comparação ano contra ano, enquanto as vendas no comércio eletrônico tiveram incremento na casa dos 100%.

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