Por Arícia Martins — De São Paulo 09/01/2020
A forte alta dos preços das carnes deve ter atingido seu ápice no varejo no último mês de 2019, o que, ao lado de reajustes de combustíveis, levou a inflação mensal a superar 1%, algo que não ocorria há mais de um ano, avaliam economistas. A estimativa mediana de 39 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta que a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 1,08% em dezembro, ante 0,51% em novembro e maior índice desde julho de 2018 (1,26%).
As projeções para o indicador oficial de inflação, a ser divulgado amanhã pelo IBGE, variam de aumento de 0,70% a 1,14%. Se confirmadas as expectativas, o IPCA terá encerrado o ano passado com alta de 4,23%, praticamente em cima da meta perseguida pelo Banco Central para o ano, de 4,25%. Em 2018, o índice avançou 3,75%.
Segundo Flávio Serrano, economista-chefe do banco Haitong, da alta de 1,09% prevista para o IPCA de dezembro, cerca de 0,5 ponto percentual veio do choque de carnes, concentrado nas bovinas, mas que também atingiu outras proteínas. “É um impacto considerável”, diz Serrano, para quem o grupo alimentação e bebidas deu salto de 3,25% no período, com alta de 4,70% nos preços de alimentação em casa.
Para o economista, este será o pico do aumento das carnes ao consumidor, que deve perder fôlego daqui para frente. Outras pressões sobre o IPCA de dezembro vieram dos grupos transportes e despesas pessoais, diz Serrano. Em seus cálculos, o primeiro grupo subiu 1,40%, influenciado pelos reajustes da gasolina nas refinarias, pelo etanol, que também ficou mais caro, e por fim, pela alta de 15,6% das passagens aéreas, movimento típico de fim de ano.
Serrano menciona, ainda, que o reajuste dos jogos de loteria efetuados em novembro ainda tiveram efeito residual sobre o IPCA do mês passado. “Esses são aumentos pontuais, derivados de efeitos temporários, que ficaram concentrados em dezembro”, avalia.
Essa também é a percepção da equipe econômica do Santander, para quem o índice de inflação oficial ficou em 1,13% no último mês de 2019, ou 4,29% em 12 meses - ligeiramente acima da meta anual, portanto. Além do Santander, cinco instituições esperam que o IPCA tenha furado a meta no período (ver quadro acima).
Os economistas do banco observam, porém, que as carnes devem ter adicionado 0,62 ponto ao IPCA mensal, enquanto os combustíveis tiveram impacto de 0,19 ponto. “Excluindo a contribuição altista dos preços de carnes e combustíveis veiculares, calculamos que a variação mensal do IPCA seria de 0,32% em dezembro, sinalizando assim que a recente aceleração do índice de preços vem sendo impulsionada por choques pontuais no lado da oferta”, afirmam os analistas.
Serrano destaca que a média dos sete núcleos acompanhados pelo Haitong deve ter ficado em 0,42% no mês, bem abaixo da inflação cheia. Os núcleos excluem ou reduzem o impacto de itens voláteis no IPCA. Os núcleos devem terminar o ano com alta de 3%, aponta o economista, menos do que o aumento de 4,24% estimado para a inflação total.